Crítica | Outras metragens

Call Me Mommy

Sem manual

(Call Me Mommy, EUA, 2023)
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Haley Alea Erickson, Taylor Washington
  • Roteiro: Haley Alea Erickson
  • Elenco: Lee Eddy, Haley Alea Erickson
  • Duração: 13 minutos

Eu não estou nervosa, mas eu gosto de estar preparada

Call Me Mommy fala de uma insegurança que é muito comum em quem está prestes a se tornar mãe, tenha a pessoa a bagagem que for. Além de uma mudança profunda no corpo e na vida, ninguém sabe o que esperar ou como fazer, e muito menos como se comportar diante de um monte de situações inesperadas que vão acontecer dali em diante. Só quem passou por isso pode entender. A temática se revela logo no curta, mas não é a primeira coisa em que pensamos – claro, desconsiderando o título. A entrevista entre as protagonistas é divertida pelo diálogo nonsense, pela personalidade das duas mulheres e aquela pontinha de constrangimento que vem com as sucessivas tentativas fracassadas de uma delas de quebrar o gelo.

Já fiz coisas mais estranhas

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O humor do curta, dirigido por Haley Erickson, vai num crescente e, embora algumas passagens possam ser telegrafadas, outras são imprevisíveis. A sequência de fases interpretada por Lee Eddy (Mustang Island) e a própria Erickson (The Tide Is High) é deliciosa, além de estar muito próxima daquilo que pode ser experimentado, passando inclusive por atualizações geracionais. Tem patinho, chazinho da Dona Maroca, Tik Toker, menarca, o primeiro “eu te odeio”, formatura e “me fale sobre meu pai”, ou seja, de quase tudo nesse apanhado prévio de uma maternidade solo.

Me chame de mamãe

Há um momento em que o peso chega à narrativa, porque a comédia não poderia estar em todos os lugares de uma história como essa. Afinal, o motivo por trás de tudo é complexo e, embora não precisasse, poderia ser levado para esse caminho. A insegurança ganha contornos bem definidos, com motivos particulares, mas medos que são universais. Tudo vai muito bem até que o roteiro, assinado também por Erickson, tenta incluir no discurso questões pessoais que não cabem muito bem ali. Algo que lembra aquela amiga que sempre tem algo de si para falar quando deveria ouvir o desabafo de alguém. E, pior, falando algo bem preso a um tema que deveria ser superado.

Nos movemos como fantasmas

Mas o filme acaba bem por toda sua construção e o modo como cria um vínculo real com o espectador. As duas atrizes esbanjam simpatia, têm um excelente timing cômico e uma química inegável. Além disso, Call Me Mommy cuida muito de seu visual, com o divertido desenho de produção da diretora Vanessa Pla, de Moradora, e a alternância entre os figurinos coloridos e simples de Stephanie Messina. Ágil e curiosa, sem dúvida, é uma experiência interessante, que aposta no humor e no inusitado para levar uma mensagem identificável, com um grande alcance. Porque muita gente que não é ou não vai ser a mãe, um dia já foi a filha. 

Um grande momento
Patinho

[19º HollyShorts Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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