Crítica | Streaming e VoD

Casa de Dinamite

Sem tempo

(A House of Dynamite, EUA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Kathryn Bigelow
  • Roteiro: Noah Oppenheim
  • Elenco: Idris Elba, Rebecca Ferguson, Jared Harris, Willa Fitzgerald, Anthony Ramos, Jonah Hauer-King, Greta Lee, Gabriel Basso, Kyle Allen, Jason Clarke, Tracy Letts
  • Duração: 112 minutos

O filme se passa em um tempo limitado, mas ele parece se alongar a cada decisão. Um míssil é detectado vindo do Pacífico, com destino provável a Chicago. Kathryn Bigelow, que sempre filmou bem o colapso do controle, indo da guerra ao terrorismo, volta aqui ao território que domina: o da tensão institucional, da crise que revela mais sobre quem manda do que sobre o inimigo.

Sem explosões e sem espetáculo, o que interessa em Casa de Dinamite é o rosto das pessoas presas numa sala, tentando decidir se apertam ou não um botão. Ainda que num lugar estadunidense de cansaço temático, o filme é um thriller envolvente, e Bigelow sabe como criar tensão. As câmeras se movem pouco, a montagem trabalha com cortes secos e o som é o que dita o pulso entre bipes, respirações e silêncios. O cinema dela sempre foi sobre ação, mas aqui é sobre espera, e o medo que mora dentro dela.

Idris Elba é o presidente. Não o herói, nem o símbolo. Apenas o homem que tem que escolher, com o mundo inteiro invisível atrás da tela. Ao redor dele, Jared Harris, Tracy Letts e Rebecca Ferguson constroem um ambiente de autoridade que se desmonta aos poucos. A força vem da hesitação e a dúvida é a verdadeira protagonista.

Bigelow sabe filmar espaços. Aqui, os corredores e as salas não são apenas cenário, são labirintos morais. Cada plano é um confinamento. Cada diálogo é um espaço do poder e da solidão. A câmera observa, mas não explica. Deixa o público tirar suas próprias conclusões.

Há, claro, um comentário político. O filme fala sobre decisões tomadas no escuro, sobre como as democracias se acostumaram a confiar nas sombras que teoricamente as protegem. Não que haja vilões determinados, mas as estruturas nocivas são apontadas. A crise é um pretexto para revelar a engrenagem e expor quem fala mais alto, quem silencia, quem hesita e quem finge não saber.

O risco da história é também o risco de forma. O foco quase absoluto na sala de crise reduz o alcance, ainda que aumente o impacto. A escala é mínima e o efeito é total. O mundo lá fora não aparece, e é justamente isso que o filme quer dizer: não há lá fora quando o medo toma tudo.

Casa de Dinamime é sobre o tempo, sobre o instante em que o erro pode virar tragédia e a certeza é um luxo que ninguém tem. Quanto a Kathryn Bigelow, ela continua filmando a ansiedade com a mesma energia de sempre. O relógio corre e, depois que o filme acaba, a gente continua ali esperando o barulho.

Um grande momento
A decisão de POTUS

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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