- Gênero: Documentário
- Direção: Gabriela Poester, Henrique Lahude
- Roteiro: Gabriela Poester, Henrique Lahude
- Duração: 18 minutos
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Nos créditos de Entre Aulas fornecido pela Mostra Tiradentes, o gênero assinalado seria o híbrido, que consiste em uma mistura entre ficção e documentário. Já em Chibo, apenas documentário está marcado, sinal de que tudo o que vemos tem ligação exclusiva com o real – será? O tratamento do documental, mesmo aquele envolvendo um grupo de pessoas sem qualquer relação prévia com um ambiente de textura audiovisual, costuma pedir certas personificações próprias do trabalho que, vez por outra, subtraem uma espécie de naturalidade pedida para o material. Aqui, vemos algo o mais próximo possível de uma liberdade que poderia ser conseguida somente através de… câmeras escondidas?
Existem algumas negociações feitas em cena que seriam mais fáceis se acertadas previamente, incluindo um desfecho tão redondo que é quase impossível de imaginar conseguido naturalmente. Mas na maior parte do tempo, Chibo ultrapassa seu gênero ao adentrar de maneira tão desconcertante uma família do ‘mais interior possível’ do Rio Grande do Sul. Em situação que poderia se assemelhar a Um Minuto é uma Eternidade para quem Está Sofrendo ao descortinar as complexas relações pessoais com uma geografia existente no Brasil nunca filmada, o filme mostra essa família envolvida com os mais mundanos assuntos, atravessados por questões políticas das menos óbvias.
Acompanhar a vida dessa família por muito rápidos 18 minutos nos faz ter muita vontade de brigar com Gabriela Poester e Henrique Lahude, porque a família Schmitz poderia ser observada por horas, dias, sem qualquer sinal de cansaço. E isso não vem de um lugar histriônico, de cores berrantes; o que temos em cena é o provável avesso disso, um quarteto de pessoas que vive uma realidade bastante prosaica. Mas não menos orgânica e menos sedutora, em suas pequenezas de raio de ação, que, filmados com aparente desvelo, acaba por mostrar detalhes que surpreendem por sua liberdade de expressão, pela forma como tudo aquilo é desenvolvido imageticamente, e de como a montagem de André Berzagui (de Madrugada) reconfigura o que vemos, em ritmo e potência tensionadora.
Daniela é uma protagonista que espanta pela sua objetividade e temperamento. Quando Chibo começa, ela acabou de terminar um namoro, e precisa ouvir áudios do ex pedindo pelo retorno. Sua vida tem uma série de atribulações: ela está na iminência do vestibular, precisa decidir o seu futuro – que é incerto caso continue na comunidade onde vive – e ajuda a família em seu negócio, o ‘chibo’ do título, que são as viagens clandestinas que são promovidas na fronteira. Além disso, o filme se dedica às relações com sua mãe e sua irmã, em diferentes lados de opinião na decisão de Daniela.
As duas coadjuvantes realçam a narrativa, com a irmã tentando convencer nossa heroína a ficar, enquanto a mãe deve ser um dos personagens mais surpreendentes dessa edição de Tiradentes. Os diálogos que ambas tem sobre a necessidade que uma mulher tem para ser feliz, parecem extraídos de feministas europeias de 50 anos atrás. Isso cria mais uma camada de leitura em Chibo absolutamente ligado ao seu tempo, e um tempo longe da região onde os personagens vivem. Ao final da sessão, estamos além da impressão de que encontramos pessoas especiais, mas sim de que precisamos ainda observar mulheres em outros lugares de discussão.
Um grande momento
Mãe e filha falam sobre o futuro da segunda