- Gênero: Híbrido
- Direção: Luna Marán
- Roteiro: Luna Marán
- Duração: 87 minutos
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Em Chicharras, Luna Marán volta o olhar para a própria terra e devolve à comunidade de Oaxaca o poder de narrar. O filme não se impõe sobre o território, nasce dele. São os moradores que falam e decidem o que mostrar. O resultado é um cinema que não observa de fora, mas pulsa junto, no ritmo das vozes, dos sons e das pausas que preenchem a vida cotidiana.
A diretora constrói um retrato em que a ficção se mistura ao real, não como artifício, mas como modo de existência. A câmera acompanha o trabalho coletivo, as assembleias, os silêncios, os pequenos gestos que formam uma identidade. A montagem fragmenta o olhar e recusa a ideia de centro, deixando que cada morador, cada espaço e cada ruído ganhem sua própria importância. Assim, o filme se torna uma soma de olhares e não uma visão única sobre o que é ser parte de uma comunidade.
Há uma força particular em como Chicharras trata o território: ele não é cenário, é personagem. A tentativa de entrada, o avanço das máquinas, a poeira das estradas aparecem como ameaças concretas a um modo de vida que insiste em permanecer. Ao mesmo tempo, o filme não é lamento, é resistência e invenção, um gesto de quem sabe que a memória não é só arquivo, é prática viva.
A abundância de temas – meio ambiente, política, tradição, modernidade, coletividade – às vezes dispersa o foco, mas é também o que dá ao filme sua textura mais autêntica. Chicharras não busca o melhor acabamento nem a estética perfeita. É um corpo coletivo, cheio de arestas, onde a voz de um nunca se sobrepõe à do outro.
O cinema de Luna Marán é político porque é afetivo. Ele entende que filmar é partilhar, e que partilhar é resistir. Em tempos de apagamentos e discursos prontos, Chicharras lembra que o cinema pode ser o lugar onde a terra fala, e onde quem sempre foi objeto filmado encontra, enfim, a chance de de ser humano de verdade.
Um grande momento
Yuli não deixa passar


