Crítica | Cinema

Os Aventureiros: A Origem

De qualquer maneira

(Os Aventureiros: A Origem, BRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Aventura
  • Direção: André Pellenz
  • Roteiro: Luccas Neto, André Pellenz
  • Elenco: Luccas Neto, Gi Alparone, Beatriz Couto, João Pessanha, Karol Alvez, Juliana Didone, Gabriela Moreyra, Osvaldo Caldeira
  • Duração: 85 minutos

Luccas Neto construiu um império midiático que inclui ‘braços’ praticamente em todos os lados, do Youtube com seus vídeos curtos muitos com lições de cidadania para os pequenos, até produções de gosto bastante duvidoso lançadas para a plataforma Netflix. Tem quase 50 milhões de seguidores e um fã clube inteiro formado por órfãos de produtos superiores. Em tempos onde faltam Renato Aragão e Xuxa nos cinemas, que formaram plateias durante anos, o cinema nacional vem investindo nos títulos adaptados da obra de Maurício de Souza e nas versões para a telona dos Detetives do Prédio Azul, agora que Larissa Manoela e Maísa cresceram. A verdade é que até demorou para o cinema cooptar Neto e seus esforços, e esse Os Aventureiros: A Origem pode ser o que o nosso cinema estava precisando para uma recuperação com o público. 

Isso significa que a qualidade artística tenha vindo parar aqui? Infelizmente não. Ainda assim, parece existir uma demanda por essa produção, que nas pré-estreias já demonstrou seu valor de mercado. Não há como endossar em uma análise crítica um filme deficiente em seus critérios mais básicos, mas percebe-se acima de tudo que o público sob o qual se destina Os Aventureiros: A Origem não é o da discussão analítica aprofundada, em definitivo. Para onde se olha, o que vemos é uma produção infanto-juvenil (e mesmo quanto ao juvenil, tenho as minhas dúvidas; o destino aqui são as crianças mesmo) de pretensões artísticas quase inexistentes. Apenas o suficiente para o público acostumado com Marvel e cia não estranhar muito o padrão do que está vendo. 

A modéstia absoluta reina, talvez não apenas no figurino de Rô Nascimento, que consegue criar uma paleta de cores muito vibrante para o que vemos, ainda que parte do elenco esteja vestido com criações prévias à obra cinematográfica. De resto, direção de arte, fotografia e montagem nos fazem sentir saudades das novelinhas da Angélica, como Flora Encantada e Bambuluá. O estranho é perceber que, mesmo milionário, Neto não teve qualquer interesse de melhorar esteticamente Os Aventureiros: A Origem; não há diferença entre o que é gravado para suas plataformas particulares e aqui. Se fosse uma produção independente gestada por um humilde homem, já seria difícil de relevar; com esse capitão de navio e a Warner Bros. por trás, é impossível. E a premissa do filme é bem bacana dentro da fantasia a que se propõe, e se fosse filmada com um mínimo de esmero, teria rendido um filme bem mais digno.

Apoie o Cenas

Mais um dado do absurdo: Os Aventureiros: A Origem é ser dirigido por André Pellenz, que estava por trás dos sucessos Minha Mãe é uma Peça e Detetives do Prédio Azul, os dois primeiros títulos de duas franquias milionárias. Onde foi parar o que aprendeu por lá? Porque não falta apenas investimento e acabamento no filme, mas entendimento estético, coordenação de imagens, qualquer coisa que recorde um refinamento mínimo. Assim como Um Dia Cinco Estrelas, o material aqui não parece se pretender competitivo ao bom gosto. São possibilidades perdidas em cascata na intenção de montar um quadro menos feio, mais harmonioso, que remeta ao espectador estar na frente de algo que não o envergonhe, muito menos o faça se arrepender do dinheiro que gastou. 

A falta de cuidado demonstra ao projeto subestimar o alcance do espectador, e acabar com a ideia de que a criança pode receber qualquer coisa que estará satisfeita. Exatamente por representar um facho de esperança para as bilheterias, é que um filme como Os Aventureiros: A Origem deveria ter tido uma dedicação que não está nem em vestígio aqui. É um título de conformação, como já ciente de que o fã será atraído pelo grupo de novos heróis criado por Neto e sua equipe, e não precisa ousar para além disso. O resultado são efeitos especiais que deveriam trazer algum requinte, um motivo para que as crianças não sintam falta de Hollywood, e o que temos é um veículo para convertidos; não sei como esse filme atrairia um novo público para o seu autor. 

A cereja do bolo é a suspensão da descrença fortíssima que precisa entrar em cena para que o “adolescente” Luccas seja interpretado por um marmanjo com o dobro da idade do personagem. Outro problema de Luccas? Vamos lá: quem em sã consciência consegue se aproximar do tipo, que mais parece o vilão de qualquer filme teen, sim, aqueles que fazem bullying com o mocinho e no final precisa ser humilhado? Além de tudo, o “adolescente” com pinta de bad boy, sempre que possível, age como criança – tudo que é proibido, de fazer, de tocar ou de falar, ele faz. Sério, é quase impossível ter simpatia por Luccas, e nessa brincadeira, ainda mais complexo é compreender o predomínio desse personagem. Mas, ele existe e seu sucesso é real, ou seja, isso tudo deve justificar o hit vindouro que será Os Aventureiros: A Origem. Vai entender essas crianças… 

Um grande momento

Não tem

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
Assinar
Notificar
guest

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver comentário
Botão Voltar ao topo