Crítica | Streaming e VoD

Como Virei Gângster

Amizade e traição

(Jak Zostalem Gangsterem. Historia Prawdziwa, POL, 2020)
Nota  
  • Gênero: Policial
  • Direção: Maciej Kawulski
  • Roteiro: Krzysztof Gureczny
  • Elenco: Marcin Kowalczyk, Tomasz Wlosok, Jan Frycz, Natalia Szroeder, Natalia Siwiec, Adam Woronowicz, Adam Bobik, Piotr Rogucki, Waldemar Kasta, Janusz Chabior
  • Duração: 135 minutos

O ano começa bem na tal da dona Netflix, com uma produção polonesa chegando atrasado aqui – já tínhamos tido uma primeira data, foi adiado somente no Brasil e finalmente estreia agora. Apesar da longa duração, assiste-se a esse Como Virei Gângster com bastante prazer, e com um interesse genuíno, graças aos méritos que o próprio filme apresenta. Não estamos falando de um discípulo de Martin Scorsese direto, mas claramente é um filme que se orgulha de ter bebido em, digamos, “fontes oficiais de filmes de máfia” para construir sua textura, ou a base dela. Assim, reconhecemos a qualidade daquele entorno, que não passa de um carinhoso retorno a uma linhagem cinematográfica que tantos filmes já rendeu, com e sem qualidades, mas que está representado muito bem aqui. 

Maciej Kawulski já lançou outro filme na mesma Netflix com quase o mesmo título (Como me Apaixonei por um Gângster), mas eles nada têm a ver um com o outro. Apenas o interesse do diretor em mergulhar nesse tema; a máfia polonesa entrou em declínio a partir dos anos 1990, e ele aqui filma com a decisão correta de tanto aproximar-se quanto afastar-se do olho do furacão, um equilíbrio delicado e muito bem sucedido. Nem parece se tratar do produtor da infame série 365 Dias, e que aqui demonstra o discernimento não visto por lá. Como Virei Gângster não é uma cópia porca de um O Lobo de Wall Street ou Cassino, mas uma visão de um cinema contemporâneo para essa seara, mergulhados em uma moldura atraente como o cinema americano consegue criar. 

Como Virei Gângster
P. Jaszczuk

O filme muda os nomes de personagens reais, mas mantém ilesa a trama da ascensão e queda de um jovem de origem comum e que têm fascínio por adrenalina, leia-se brigar. Sim, o protagonista do título se excita com a possibilidade de quebrar o pau, por qualquer que seja o motivo, ou nem mesmo precisando de um. Vamos combinar que alguém com essa propensão, para se envolver no mundo do crime só basta conseguir sobreviver. Depois de criar um quinteto de malandros assaltantes com um grupo de amigos, o personagem não nomeado pela narrativa cresce a tal ponto de associar-se ao mais importante e inteligente chefe mafioso local. Assim, passa a trabalhar eliminando a concorrência de seu novo sócio e sua fama acaba por atrapalhar sua estratégia de permanecer nas sombras. 

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Tudo isso é contado de maneira dinâmica e explosiva, com montagem fluida que apara as arestas às vezes até demais. Há uma necessidade em Como Virei Gângster em ser muito mais sucinto do que o necessário, e o filme vai criando um fio de elipses que nem sempre soam positivas. O filme absorve algumas coisas como sendo da estrutura narrativa em jogo esconder do espectador em determinado momento, para revelar momentos depois. Só que essa estratégia acaba se valendo também para apagar incoerências aqui e ali, outros esclarecimentos que deixam a desejar, quando o fazem. Mas, do ponto de vista da realização, o filme consegue se elevar ao que o roteiro entrega, e o resultado vai além do satisfatório. 

Como Virei Gângster
P. Jaszczuk

O elenco de Como Virei Gângster é todo ele muito consistente e regular, mas os dois protagonistas conseguem estabelecer a parceria exata para que se desenvolva o plot emocional do filme. Marcin Kowalczyk e Tomasz Wlosok são antagônicos em suas personas, mas construíram uma amizade justamente pautada nesse estado complementar de atitudes. Quase como se observássemos Robert DeNiro e Joe Pesci nos clássicos mafiosos de Scorsese, os atores aqui se interligam pela tragédia premente – e que o texto já anuncia em seu primeiro encontro – e movem uma parceria sempre crível. Deles nasce toda a história por trás dos clássicos estudos sobre mafiosos: a irmandade e a traição caminham lado a lado nesse universo. 

Com visual gráfico exuberante e uma fotografia muito bem elaborada, acentuando as luzes em cada cena e movendo suas lentes sempre para lugares improváveis, Como Virei Gângster é um produto de primeira oferecido pela Netflix, sem pretender revolucionar. Kawulski sabe que grande parte do universo mafioso já foi filmado, de inúmeras maneiras distintas e agora restam poucos lados a serem explorados. Ao invés de retorcer algo que pode ser considerado clássico, o diretor rememora o melhor do que poderíamos encontrar em exemplares do gênero e nos serve à moda polonesa; o sabor não deixou a desejar. 

Um grande momento

Os amigos no barco

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Renata Muller
Renata Muller
10/01/2023 22:03

Amei! Mas quero a lista da trilha do filme! Show!

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