Crítica | Festival

Swallowed

Avanços e percalços

(Swallowed, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Carter Smith
  • Roteiro: Carter Smith
  • Elenco: Cooper Koch, Jose Colon, Jena Malone, Mark Patton, Roe Pacheco, Michael Shawn Curtis
  • Duração: 90 minutos

O excesso de imaginação que brota em Swallowed acaba sendo um problema para o mesmo. Com certeza essa situação já foi vista antes: na ânsia de parecer mais ‘cool’, sagaz e esperto que o resto do que é produzido, um filme acaba apertando até mesmo botões desnecessários, que incham o resultado final e não acrescentam relevância ao material apresentado. Ao mesmo tempo em que tenta ganhar reconhecimento ao jogar elementos conhecidos do público, para que não se acrescente um acúmulo de lugares comuns, o filme tenta humanizar cada um dos meros quatro personagens em cena. O resultado é uma produção curiosa, que não se posiciona frontalmente com nenhuma veemência, mas que promove uma diversão bacana. 

O filme segue uma dupla de amigos por uma noite de despedida, desse encontro que pode ser o último entre eles, até o  dia seguinte, ambos avançando rumo a uma condição de pesadelo. Benjamin é um rapaz ‘queer’ que está de mudança para Los Angeles, onde vai tentar a carreira como ator de filmes pornográficos, e Dom é seu amigo com poucas perspectivas de futuro, um hetero sem rumo que ficará na cidade natal de ambos. Querendo dispôr um dinheiro para que o amigo se mude para a cidade sem preocupações, Dom se envolve em uma noite que poderia ser raṕida, e acaba se alongando rumo ao medo. Dentro dessa atmosfera, o filme não consegue se resolver narrativamente, com inúmeras passagens forçadas para fazer valer um ponto necessário para a continuidade do roteiro. 

Como já dito, o diretor e roteirista Carter Smith parece ter pressa para contar a história com o maior número de elementos possível. Ao contrário de outros realizadores, isso não acaba por aparentar detalhamento de narrativa, mas pressa e insegurança. A tensão construída até funciona direito, e Swallowed promove mesmo uma transformação do que é esperado e eventualmente é entregue pelo roteiro. Vindo de dois filmes de terror seguidos – seu primeiro filme é As Ruínas, filme que passa por um processo de ressignificação – Smith não deixa de acrescentar esses elementos menos engessados até dentro dos personagens. Não basta que sejam gêneros em conflito dentro e fora da tela, eles precisam ter coerência e suas costuras não podem ser aparentes. 

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Swallowed
Cortesia Festival Mix Brasil

E aí, Swallowed vai da história da despedida entre dois amigos para um policial tenso para um filme de terror para uma produção de ficção científica B para um plot cansativo de sequestro. Esse último segmento, que é muito maior e mais espaçoso do que deveria, é o que faz o filme degringolar ainda mais rápido. Um filme contado por pouco mais de 1 h de duração, acaba por se esticar indiscriminadamente, perdendo um fôlego que já era curto, e vendo sua premissa perder o sentido, pois a ideia inicial parece se transformar em tantas outras coisas. Com o interesse se perdendo, a montagem fazendo cada vez menos sentido e o roteiro sem saber para onde ir – quer ir para todos os lugares, aparentemente – o trabalho de Smith se segura não muito além da curiosidade por seus elementos isolados, que existem. 

E quais são eles? O trabalho de Cooper Koch, por exemplo. Recém visto em They/Them em papel literalmente oposto ao daqui, o jovem ator impressiona ainda mais porque aplica uma versatilidade dentro de um mesmo campo. A prova de que seres ‘queer’ são muito maiores do que seus rótulos está no lugar onde Koch passeia com naturalidade entre esses dois filmes, desfilando uma verdade multifacetada. Reencontrar Jena Malone também é uma felicidade, uma grande atriz que não é valorizada, aqui tem uma das personagens repleta de curvas, até ligeiramente estereotipadas, mas que ela consegue reverter o quadro. Swallowed também mostra que o cinema LGBTQIA+ não precisa se ater às questões românticas e/ou emocionais, abrangendo um significado dentro do cinema fantástico direto. 

É pouco para um título que poderia ter tantos lugares a mais para explorar, e se atrapalha em entender que menos é mais. Perde a oportunidade de expandir essa comunicação com outros gêneros que não apenas o drama romântico, mas mostra que é um caminho que pode ser aproveitado, com maiores cuidados. Vejo Swallowed como uma experimentação para voos maiores, para seu diretor e suas ideias, que só precisam ser aparadas e melhor examinadas. Está tudo em um caminho promissor para o futuro. 

Um grande momento
Engolindo

[30º Festival MixBrasil de Cultura da Diversidade]

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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