- Gênero: Comédia
- Direção: Bruno Garotti
- Roteiro: Thalita Rebouças, Bruno Garotti, Flávia Lins e Silva, Christiana Oliveira
- Elenco: Klara Castanho, Marcus Bessa, Caio Cabral, Fernanda Concon, Rosane Gofman, Júlia Gomes, Gabriel Lima, Kiria Malheiros, Stepan Nercessian, Lucca Picon, Júlia Rabello, Alcemar Vieira
- Duração: 91 minutos
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Esqueçam o passatempo fofo que é Pai em Dobro, o filme anterior da Netflix na colaboração com a autora e roteirista infantojuvenil Thalita Rebouças. Confissões de uma Garota Excluída é o primeiro de três volumes, todos best-sellers, com o quarto já encaminhado para ser lançado em 2022.
Adaptado na obra “Confissões de uma garota excluída, mal-amada e (um pouco) dramática” de Thalita Rebouças por ela própria, Bruno Garotti e Flávia Lins e Silva, o filme troca Maísa como a protagonista de várias adaptações de Rebouças por Klara Castanho. Ela incorpora Tetê, a adolescente magra, de cabelo seboso, óculos, enfim, que segue toda a descrição física do que é ser uma nerd repugnante segundo o dicionário das comédias de adolescentes.
“Tetê do Cecê”
Castanho é notadamente talentosa e já que sua Tetê é a única personagem com algum desenvolvimento, ela consegue manter o interesse na jornada da menina excluída que, sim, vai enfrentar a “menina malvada” e popular chamada Valentina e seu namorado surfista e que tem uma banda, Erick. Ela também tem seu núcleo de defesa com um melhor amigo gay “fabuloso”, Zeca, e outro melhor amigo tão nerd quanto ela e criado pelos avós, David. Todos planos e rasos, encenando momentos clichê como a festa onde Tetê aparece repaginada ou soltando diálogos cheio de gírias atualizadas, mas que para os nossos ouvidos soam “cringe”, já que mal encaixadas no enredo. Lamentavelmente, uma condição que a menina tem, a hiperidrose (suor excessivo em situações tensas), que é um problemão para várias pessoas, é aqui usada como piada para ridicularizar ainda mais a personagem, ao invés de ser uma ponte para relacionar com outros problemas e inseguranças dos personagens secundários — se esses tivessem alguma substância.
Totalmente peixe fora d’água, a menina sofrida teve que sair da Barra da Tijuca para Copacabana (imagina se fosse Jacarepaguá) e morar na casa dos avós. Um núcleo Sai de Baixo onde toda hora é hora para zoar Tetê. É um desperdício total, já que com pouco tempo para se desenvolver além dos estereótipos duma família de bullies, os engraçadíssimos Stephan Nercessian, Júlia Rabello e Rosane Gofman são meros atiçadores, tornando a vida da menina mais difícil à medida em que ela sofre tanto com as piadinhas em casa quanto na escola. Chega ao cúmulo da avó (Gofman) pagar a filha da cabeleireira, que estuda na mesma escola, pra ser amiga de Tetê.
O “não foi dessa vez” que vale para o desempenho de Rebouças como roteirista pode ser dito para o diretor Bruno Garotti, que tinha ido bem com Diários de Intercâmbio e aqui volta para o “modo piloto” da maioria dos filmes teen que tem na sua filmografia, frutos de uma direção preguiçosa, pouco inventiva tecnicamente e que não consegue superar as convenções ou a vontade de copiar o que já foi estabelecido no panteão dos filmes escolares e de adolescentes produzidos aos borbotões em Hollywood.
Aqui o tropo “geek to chic” é aplicado de forma preguiçosa com a transformação da garota tímida e nerd em alguém mais confiante (só que não) a partir do momento em que depila a sobrancelha e o buço. Afinal Rebouças ensina que mulher que não se depila além da falta de higiene não é feminina — ela é uma autora de qual século mesmo?
“Vergonha é só uma palavra fofa pra medo”
A grande revelação da trama escolar que pode por tudo a perder para Tetê justamente quando ela conquistou amigos é xoxa porque, novamente carece de desenvolvimento na trama. E olha que fala de se adequar aos padrões inalcançáveis de beleza para obter uma vingança mas tudo é posto de forma tão apressada e desengonçada que não tem muito sentido. Nem no Brasil, no Polo Norte ou na China seria possível adquirir empatia do nada por meninas tão mesquinhas. E mais uma vez, Confissões de uma Garota Excluída deixa escapar um bom gancho pra tratar de bullying, empatia e solidariedade quando resume os ataques egocêntricos de Tetê a uma frase dita pelo amigo gay: “Você não é fundadora da instituição sofrimento não”.
Seria tão melhor se, ao invés de dar valor a futilidade e aparência num filme que deve ser hit na Netflix e vai ser assistindo por milhares de adolescentes, Confissões de uma Garota Excluída tentasse exaltar o que realmente importa, como o valor da amizade quando se está tendo o caráter formado e descobrindo quem quer ser.
Thalita, em entrevista para O Dia, comentou que espera que Confissões de Uma Garota excluída também seja assistido por pais e mães: “Tudo que eu faço é para a família. Eu acho que, ao longo dos anos, eu aproximei tanto os pais e filhos, e mães e filhas… Então eu acho bacana poder, a partir da arte, facilitar o diálogo dentro de casa. Fazer com que assuntos que sejam tabus ou considerados delicados possam enfim ser falados”. Pena que não existe profundidade na abordagem nem a vontade de buscar uma caracterização autêntica para além das caricaturas. É mais um passatempo risível de 90 minutos de duração.
Um grande momento
A revelação do vídeo