(Mammoth, EUA, 2009)
Uma mãe cirurgiã bem sucedida, um pai nerd que ganha muito dinheiro criando jogos eletrônicos e uma filha que se identifica mais com a empregada, imigrante filipina*, do que com eles. Este é o núcleo da trama de Corações em Conflito, que de forma batida trata do tema preferido do diretor Lukas Moodysson, a infância.
Crianças criadas por babás; mães que deixam os filhos em segundo plano para conseguir vencer na carreira e/ou para melhorar a vida da família; mães que querem se ver livre do problema; crianças que são obrigadas a vender seus corpos para sobreviver; trabalho escravo infantil e outras mazelas que precisam ser discutidas são, ou parecem ser, os motivadores deste drama.
Cheio de boas intenções, o filme até faz pensar, mas não consegue cumprir seu objetivo por ser tão quadrado e ao mesmo tempo artificial. Relações superficiais e mal desenvolvidas reforçam a impressão de que nada daquilo possa acontecer ou já ter acontecido de verdade.
Personagens estranhos e deslocados, como o pai, têm mais espaço do que precisam e outros, secundários, passam pelo máximo de situações apelativas possíveis, como se estivessem ali para tentar fazer o público chorar. Como se a temática precisasse de clichês para isso.
A falsidade do resultado acaba deixando o público alheio ao que acontece na tela e a sensação de tempo perdido prevalece.
Em meio a tanto equivocos, não se pode negar o bom trabalho dos pequenos Jan David G. Nicdao e Sophie Nyweide e nem de Marife Necesito, que dá vida à babá. Gael García Bernal, com um personagem fraco nas mãos, parece perdido entre a travação e o exagero e não consegue dizer ao que veio.
A direção de fotografia de Marcel Zyskind, com bons enquadramentos e o bom uso da luz, também está do lado das qualidades.
Comprovando que cinema é uma arte subjetiva, o filme foi indicado ao urso de ouro no Festival de Berlim, ou seja, talvez outras pessoas gostem mais do que vão ver.
Um Grande Momento
A ligação de Salvador.
Classificação Indicativa: 16 anos
Prêmios e indicações (as categorias premiadas estão em negrito)
Festival de Berlim: Urso de Ouro
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Drama
Direção: Lukas Moodysson
Elenco: Gael García Bernal, Michelle Williams, Marife Necesito, Jan David G. Nicdao, Sophie Nyweide, Maria Esmeralda del Carmo, Perry Dizon, Natthamonkam Srinikornchot
Roteiro: Lukas Moodysson
Duração: 125 min.
Minha nota: 3/10
Está de parabéns a Cecília Barroso; captei essa mesma sensação perdida do filme, disfarçada de uma sutileza, de quem trata de assuntos relevantes, mas que no fundo retrata-o de forma perdida e muito pessoal sobre o tema, se perdendo no final. Sobre as atuações, nada mais que medianas.
@Douglas Dickel, O seu comentário é totalmente perticente. Concordo e gostaria de acrescentar sobre o texto do “Gael” sobre a – caneta – .. que talvez um dia (quando virarmos história, – porque do jeito que tratamos o planeta não deve demorar muito!!!) – nós (nossos ossos) é que serão utilizados para confecção de artefatos ou canetas, a reação dele quando ganha a caneta de manute é demais. E isso aí, o ser humano se preocupa com tanto bobagem e inutilidade que não dá pra acreditar. Adorei o filme.
Como dito acima, a sensação de perda de tempo se mantém em todo o filme, ficamos sempre à espera de um sentido geral. O filme apesar de ser americano, foi produzido por um diretor sueco, ou seja, europeu e condiz bem com o que o europeu está acostumado a produzir: emoções baratas, sem um significado, novela mexicana ganha deles fácil, fácil.
Até filme brasileiro ou indiano tem mais qualidade que a produção européia, eles devem ter um senso diferente de arte, não é possível. Por isso filmes americanos (produzidos por americanos) são em sua maioria imbatíveis. São até previsíveis mas satisfazem nossa diversão, são dinâmicos, tem qualidade em tudo.
O filme não é sobre os problemas que você enumera, nem sobre o drama deles, mas sobre o que está por trás, sobre o esqueleto daquilo tudo. É que o filme é sutil. A mente humana sempre busca símiles pra interpretar aquilo com que se depara. (Pessoas aqui na internet já mencionaram ‘Babel’ e ‘Lost in translation’.) Mas ‘Mammoth’, sutil (inclusive tem título sutil, ao contrário do didático nome em português), é sobre ESCOLHAS e sobre a SOLIDÃO decorrente de certas escolhas dos seres humanos de agora. Sobre o valor do TRABALHO e o valor do DINHEIRO. A caneta de mamute é vendida por 30 dólares, com mais dois relógios, sendo que ela “custa” (para quem??) 12.500 reais; Leo compra tudo o que quiser; a médica compensa a filha com uma luneta cara; os dois trabalham sem parar para, no final, reafirmarem suas escolhas, enquanto que a babá decide mudar a vida; as pessoas esperam desastres pra tomarem decisões. Lukas Moodysson é um dos melhores diretores da atualidade. Mesmo se fosse exatamente o mesmo tema batido, porque não é, o cienasta sueco constrói os personagens de modo que sejam EXTREMAMENTE humanos, TODOS, coisa que é difícil fazer – e encontrar – no cinema e na arte em geral.
A visão da realidade normalmente não empolga tanto quanto a ilusão do que gostaríamos de ver.
O filme mostra uma realidade, feia, do que temos no mundo hoje.
Exploração, prostituição e pedofilia não são os mais belos temas, mas (infelizmente) fazem parte de nosso mundo, cada vez mais ‘globalizado’.
Certamente não é empolgante.
Um filme acima de tudo precisa causar algo no espectador. Seja o choro ou o sorriso. Mammoth, mesmo com certas limitações consegue os dois. Direção explendida e atuações de cair o queixo, complementam a obra
Verdade, Marcos.
Correria de Mostra é isso aí, mas obrigada pela correção.
E pela nota.
Empregada Latina? Mas ela é das Filipinas, o filme todo gira em torno de lá… você precisa enxergar melhor o filme, hein? Nota 3 pra você, e não para o filme!