- Gênero: Aventura, Drama
- Direção: Michael B. Jordan
- Roteiro: Zach Baylin, Keenan Coogler, Ryan Coogler
- Elenco: Michael B. Jordan, Tessa Thompson, Jonathan Majors, Phylicia Rashad, Wood Harris, Mila Davis-Kent, Jose Benavidez, Selenis Lyva, Florian Munteanu
- Duração: 111 minutos
-
Veja online:
A ideia de espichar o filme Creed para uma franquia parecia a coisa mais “sensata” (monetariamente falando) a fazer, após o sucesso inesperado de público e crítica da produção dirigida por Ryan Coogler. Se a primeira continuação mantinha o personagem Rocky defendido com brilhantismo por Sylvester Stallone (personagem esse que já lhe rendeu três indicações ao Oscar) mas pouco tinha a mostrar que não parecesse uma reimaginação de Rocky IV, esse Creed III é bem mais promissor. Agora, Adonis Creed é um personagem quase totalmente desligado da franquia anterior, e isso poderia ser bem promissor, a priori. Mas o que fazer, se o personagem já é estigmatizado pela idade? Esticar ininterruptamente a corda, como vimos em Rocky?
A independência do personagem era algo procurado desde seu movimento inicial, mas essa opção não poderia desqualificar narrativamente a produção. Um exemplo: Stallone já não está aqui. Ainda que compreendendo a necessidade de criar um universo particular, os eventos narrados em Creed III (ou ao menos um deles) não poderia contar com sua ausência; soa desleixado, e inverossímil. Além disso, toda a carga de personalidade do novo personagem está contida no primeiro episódio; do anterior para cá, esse interesse em desvendar mais de sua narrativa parecia adormecido, retornando enfim aqui. Vemos ressurgir a base de Creed, suas implicações no homem que ele é hoje, e muitas de suas questões pessoais finalmente serão tratadas.
O roteiro que os irmãos Ryan e Keenan Coogler escreveram junto a Zach Baylin, apesar das ideias, parece só apresentá-las para que elas sejam desenvolvidas pela imaginação do espectador. ‘Dame’ Diamond é um personagem dos mais interessantes, que conta com outra entrega sincera de Jonathan Majors depois de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, mas que não se desenvolve com a progressão anunciada. Na verdade, temos a apresentação de um ser humano cheio de nuances bem equilibradas, que vão sendo desenvolvidas com muita propriedade, e de repente, encontramos um homem cujas deformações não estavam em sua base. O que se anunciou como algo complexo se transforma em um rascunho pobre dos vilões sem camadas da série original.
Trata-se também da estreia na direção do astro da série, Michael B. Jordan. Um dos maiores atores de sua geração, Jordan estreia em terreno seguro, já tendo passado pelos episódios anteriores e bem conectado com tudo que diz respeito ao personagem. Com a obrigatoriedade (provavelmente do estúdio) das filmagens em IMAX, Creed III ganha algo que nunca tinha aparecido até então antes nos quase 10 filmes da série: efeitos especiais. Com isso, tudo que parecia humano e palpável, acaba soando como uma aventura banal cheia de proposições imagéticas irreais, e que acaba criando um hibridismo que se ajusta no filme de maneira desconfortável. No lugar das coreografias bem conduzidas anteriores, agora temos o acréscimo de câmera lenta, super closes e estratégias visuais que o aproximam de um produto de parque de diversões, para criar um título que até pode ser diferenciado, mas tira o caráter original da obra; eis o fracasso da fantasia.
Há de se compreender a mitificação para onde você trabalha. Ainda que com acréscimos que pudessem ser encarados como autorais, Jordan – que pode ser chamado de diretor contratado, ou seja, obediente a ordens superiores – comete essa “pequena” traição ao retirar Creed III de sua trajetória mais crível para uma realidade incrível. Não estamos mais diante de lutadores de boxe, mas de criaturas superpoderosas com seus poderes sobrenaturais em uma realidade alternativa. Dentro desse contexto, vale a sequência onde os rivais se veem isolados e sozinhos, dentro de uma realidade muito mais psicológica; como se dizendo que o filme poderia se situar dentro do fantástico e funcionar, o restante das sequências de luta parecem preconizar que seus personagens não são homens, mas mutantes de suas próprias existências.
Esses novos arranjos, que parecem sendo confeccionados dentro da estrutura do agora, mina as saídas positivas que Creed III tem a oferecer ao espectador, que é preparado – não por toda a franquia, mas aqui em específico – para uma sessão muito mais bem preparada. Temos um protagonista confrontado com pesadelos do passado que poderiam ser bem mais espinhosos, um alter ego desenhado com muito mais requinte do que sua apresentação efetiva assegura, uma estrutura familiar que carece de urgência para se fazer importar. Ainda que o degrau pareça ter subido do capítulo para cá, o que foi apresentado no primeiro capítulo sequer foi arranhado pelos demais, e aqui as promessas não cumpridas soam mais inconclusivas do resultado pretendido.
Um grande momento
‘Dame’ x Chavez