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Bares, Bolos e Amizades

Amor das manas

(Sitting in Bars with Cakes, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Drama, Romance
  • Direção: Trish Sie
  • Roteiro: Audrey Shulman
  • Elenco: Yara Shahidi, Odessa A'Zion, Bette Midler, Ron Livingston, Martha Kelly, Maia Mitchell, Charlie Morgan Patton, Simone Recasner, Rish Shah, Aaron Dominguez, Will Ropp, Adina Porter
  • Duração: 115 minutos

A ideia de Bares, Bolos e Amizades é tão estapafúrdia que só poderia mesmo ter partido da realidade para fazer algum sentido. O filme, que estreou na última sexta no Prime Video, conta a história de uma jovem muito tímida, Jane, cuja melhor amiga é seu oposto, Corinne. Depois que Jane, que tem mão especial para a culinária, faz um bolo de aniversário para a amiga e o leva para um bar, provocando o sucesso entre os caras que o provaram, Corinne tem uma ideia ridícula: porque não fazer bolos e levar a bares, para que Jane possa ganhar algumas paqueras, e quem sabe até um namorado? Vá lá saber o porquê, mas isso é algo que aconteceu de verdade, e sim, uma jovem convenceu outra que era um bom negócio uma vez na semana passar um dia na cozinha, fazendo um bolo especial, para que o mesmo fosse distribuído entre possíveis ‘bebuns’ de bares aleatórios, na tentativa de caçar. 

Juro que poucas vezes ouvi algo tão esdrúxulo, e não estou falando da premissa do filme não, longe disso. Mas a vida real se permite a coisas bem pouco plausíveis mesmo, e todos nós já nos abrimos a propostas de amigos que não faziam qualquer sentido. Bares, Bolos e Amizades acaba mostrando que busca exatamente uma investigação sobre o valor da amizade, os sacrifícios que corremos por quem amamos e que deverá estar sempre em primeiro lugar nas nossas vidas, independente das ideias ridículas que lancem. Não demora para que percebamos que o filme está correndo pela história entre Jane e Corinne, e não sobre com quem elas ficarão ao fim da produção; nesse sentido, sobra honestidade no projeto. 

A direção de Trish Sie coloca a produção em um lugar mais despojado dentro do que se esperaria de uma comédia romântica mais convencional, até que fica claro que na verdade o convencional não era mesmo o esperado ali. Tem um tratamento narrativo até dentro da convencionalidade que é aplicado, ao menos no que se imagina que tínhamos em mãos, mas ao largo da narrativa é aplicada uma textura estética que entende um certo filtro de produções mais requintada, e que Bares, Bolos e Amizades desenvolve ao seu largo. O filme vai abrindo mão de uma ideia mais colorida, com alguma fonte de luz, durante seu trajeto, abraçando uma luz mais opaca e menos frontal; é como a vida real, que perde o brilho quando o imponderável se torna possível. 

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A história de Audrey Shulman foi transcrita para um livro por ela, e ela mesma assina o roteiro aqui, que acima de tudo é uma história sobre sororidade levada até seu limite. Bares, Bolos e Amizades acaba por nos contar muito mais do que a história da amizade entre a autora e sua melhor amiga, mas muitas histórias de proteção e fechamento entre mulheres, que não tem muito o que fazer a não ser escolher estar entre elas, protegendo-se e tentando criar os modelos necessários para ampliar sua auto estima. Se parte de uma necessidade falsa de estar em companhia outra que não a de suas ‘chegadas’, sua leitura posterior é o de uma situação onde nada poderá deter uma amizade verdadeira, e nada será maior também. 

As muito jovens Yara Shahidi (de Peter Pan e Wendy) e Odessa A’Zion criam a parceria ideal pedida pelo roteiro: obviamente são pessoas que não tem praticamente nada em comum, a não ser o amor desmedido uma pela outra. Yara cria uma postura tímida e reservada, quase uma versão julgadora de suas amigas mais próximas. Odessa é o retrato da liberdade de todas as ordens, que desafia as convenções e se torna uma daquelas pessoas-inspiração. São os necessários contrapontos uma da outra, mas até pela linha adotada pela personagem, Odessa vibra muito mais intensamente, e será dela nossa lembrança ao fim da sessão. Mas a postura de uma é um reflexo invertido da outra, e essas interpretações acabam por se complementar. 

Não existe algo sendo dito pela primeira vez em Bares, Bolos e Amizades, mas existe uma ideia de textura sendo aplicada de maneira mais rara do que vemos. Isso é que o eleva, mesmo que pouco, mas deixa uma marca; ainda temos a emoção crescente que acompanha o plot da história, num fluxo que revela suas outras intenções. A salada de gêneros não atrapalha o andamento dos eventos, e sim complementa o entendimento de sua mensagem, mesmo que o filme surpreenda com o seu caminho real. 

Um grande momento

Jane e Corinne, deitadas na cama 

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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