- Gênero: Suspense
- Direção: Nicholas D. Johnson, Will Merrick
- Roteiro: Nicholas D. Jonhson, Will Merrick, Sev Ohanian, Aneesh Chaganty
- Elenco: Storm Reid, Nia Long, Joaquim de Almeida, Ken Leung, Tim Griffin, Amy Landecker, Megan Suri, Daniel Henney, Ava Zaria Lee
- Duração: 110 minutos
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Independente do sucesso que os ‘desktop movies’ continuem fazendo, muito alavancados pela pandemia, um título conseguiu algo verdadeiramente especial no setor. Buscando… não foi mais um entre tantos (mesmo que entre esses, alguns tenham se destacado), mas um título referencial para o que esses filmes poderiam dizer, e até onde essa capacidade seria expandida. A relação que o filme estabelecia com o formato não era apenas física, mas tátil nas elementos; estabelecer contato entre atores e espectadores é mais fácil que com o objeto cênico. O filme de Aneesh Chaganty era sobre as criaturas, mas muito mais sobre a coisa em si, e construir sua relação de medo através de uma distância não-natural. Sua “continuação”, Desaparecida, estreia nos cinemas com o peso dessa reprodução de algo que deu muito certo.
Não existiriam nomes mais óbvios para substituir Chaganty na função que não os de Nicholas D. Johnson e Will Merrick, os montadores e fotógrafos do longa original. Aqui, temos uma história bem independente mas que se desenvolve sob os mesmos códigos, e que se une pela força de uma mania recente de sucesso, os documentários ficcionalizados de ‘true crime’. Desaparecida, antes mesmo de começar seu mistério particular, já deixa claro aí que seu compromisso é com o entretenimento, e não com a lógica ou com a discrição. Entenda-se de que se trata de um filme lançado para larga escala e produzido para atender as reações que se veem em uma sala de cinema comum: os gritos de ‘oh!’ a cada nova reviravolta.
O debate que ocorre em caráter social diz respeito a muitas coisas – aplicativos de relacionamento, relações entre mãe e filha e choque de gerações (se eu citar Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo pareço muito apelativo?), a infelizmente eterna violência contra a mulher – mas nada disso é maior que a geringonça criada para satisfazer a narrativa. Mais uma vez, trata-se de uma montanha russa que estabelece uma relação direta com a plateia através de hábitos culturais e de consumo com o que ela mesma participa. Costurar esses elementos com a cumplicidade de quem assiste só não é possível com os desconectados virtuais, que desconheceriam todos os modos interativos relacionados ali; acredite, existem.
Ao pautar essas ideias à uma estrutura de narrativa comum, e se ancorar em tradicionais reações agudas do espectador, em uma profusão constante de provocação de surpresa, Desaparecida mais de uma vez se mostra comprometido com a galhofa, e com a diversão possível através do choque. O roteiro não se importa com o número de vezes que irá mudar o rumo da trama, muito pelo contrário; estamos sintonizados em uma narrativa que tem como objetivo quase que exclusivo retorcer o que já estava proposto, e encaixar novas saídas. É tudo tão gratuito e contínuo que é impossível não se envolver com tais ideias que esgarçam cada vez mais, não em lógica, mas em quantidade; nunca cansa, mas é evidente que a diversão depende disso.
Pode ser reducionista em relação ao que Buscando… conseguiu, mas tratava-se de uma batalha perdida. Ao compreender que não existia como ganhar, o objetivo aqui passa a ser aquele mais básico das produções de gênero: o foco é na reação do fígado, e menos na do cérebro. O trabalho de montagem continua exemplar (agora a cargo de Austin Keeling e Arielle Zakowski), conectando uma quantidade insana de informações virtuais, propostas de comunicação e vertentes de linguagem imagética pessoal. A brincadeira é clara e está exposta desde o início, e creio que também seja fácil embarcar na diversão possível, o que está na berlinda então é a capacidade de tornar essa experiência mais ou menos cinematográfica.
Não é sempre que um filme conseguirá se fazer valer pela catarse mais retilínea, sem curva para uma observação menos cínica. Desaparecida não tem vergonha de expor suas fragilidades estruturais em prol de um jogo climático que se vale pela duração do mesmo; ao se encerrar, o espaço ocupado é o do vazio. Enquanto se desenrola, no entanto, vale as mesmas reações que temos diante de um jogo de tabuleiro emocionante, onde cada jogada calculada se sobrepõe a outra sem maiores dividendos posteriores. O Cinema é mais que isso, mas não precisamos xingar quando for apenas isso, porém for honesto e sincero em suas elucubrações.
Um grande momento
Grace e Kevin se conhecem no app