- Gênero: Drama, Romance
- Direção: Tomasz Mandes
- Roteiro: Tomasz Mandes, Mojca Tirs
- Elenco: Magdalena Boczarska, Simone Susinna, Katarzyna Sawczuk, Janusz Chabior, Sebastian Fabijanski, Elzbieta Jarosik
- Duração: 116 minutos
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Talvez Desejo Proibido seja o exemplo mais óbvio e direto de um fenômeno que vai se multiplicar pelos próximos anos: o cinema começa agora a copiar os streamings. Foram anos e anos da mesma esperada situação acontecendo, o oposto disso – últimos a entrar na van, o streaming não quis pegar a janelinha, mas foi criando para si uma versão própria do que a indústria cinematográfica apresentava. Foi criando também um espaço para abrigar o que já não cabia mais aos estúdios, tais como grandes autores que não rendem como antigamente, gênero que não dependem da tela grande para ser apreciados em sua totalidade, modismos do passado reaproveitados. Se o cinema lucrou com Cinquenta Tons de Cinza, a Netflix foi lá na Polônia e fez um negócio que (em tese) deveria colocar tal “obra” no chinelo: 365 Dias.
Ainda bem que temos Tomasz Mandes para agradar gregos e troianos, não é mesmo? Foram três hits erótico-pornô-envergonhados que fizeram tanto barulho a ponto de se tornar o Parasita dos Framboesas de Ouro, ou seja, o primeiro filme internacional a ganhar tais premiações estadunidenses. Dessa vez, Mandes foi fazer as pazes com a tela grande e produziu essa estreia dessa semana nos cinemas. A diferença entre os produtos é que na cinessérie tudo tinha uma pegada extrema – sexo extremo, violência extrema, drama extremo; no papel, na realidade era tudo soft mesmo. Em Desejo Proibido, não há engano pelo menos, desde o início somos apresentados a um teor mais apresentável, como se fosse preciso adocicar os elementos para as famílias pudessem se interessar a sair de casa.
Igualmente trata-se de uma propaganda enganosa, mas aí é no que diz respeito a quem imaginar que o nível qualitativo subiu. Desejo Proibido não tem necessariamente os problemas de 365 Dias, mas tem outros, e podem ser mais ou menos graves, dependendo do julgamento de cada leitor/espectador. A cinessérie não continha praticamente nenhum predicado a ser destacado positivamente, mas toda sua aura vagabunda de composição ordinária, de tecido sonoro insuportável, era honesto em sua tentativa de conquistar os incautos para aquele universo pavoroso. Aqui não, parece quase esconder uma vergonha de estar nesse lugar mais baixo do que o cinema poderia oferecer, e assim sendo temos uma tentativa de emoldurar suas imagens, sua trilha e suas intenções em alguma elegância, que não parece natural em nenhum momento.
Como citado, alguma subjetividade no entanto o colocará acima, porque de fato Desejo Proibido é um filme bem menos vulgar – e não, infelizmente não estou me referindo ao ‘cinema vulgar’, mas uma vulgaridade que nasce dos confins do humano. O que Mandes tenta nesse novo filme é buscar uma conexão emocional com o espectador através da história de mãe e filha cujo tomo final de uma discórdia que dura muitos anos é a paixão por um mesmo homem. Esse deveria ter sido o enfoque central do roteiro, caso seu diretor de verdade quisesse ao menos tentar elevar o nível do que entrega; nas entrelinhas, não é o caso, já que estamos de volta ao festival de performances sexuais em lugares inusitados que já estavam nos outros filmes.
Ainda assim, com todo o tratamento sexual de novo na ponta de lança da produção, Desejo Proibido quer mostrar superioridade mesmo nesse lugar, então o sexo, por mais polivalente que seja, ele é fruto de um amor verdadeiro que precisa vencer algumas barreiras. A mais interessante delas é essa nova implicação que mãe e filha precisam enfrentar para conseguir alguma paz depois de anos em guerra, e os motivos serão confrontados em determinado momento. O que falta de verdade a Mandes é talento mesmo, puro e simples; quando não há, a mudança de rumo pode ser das mais radicais ou das menos elaboradas, ainda faltarão aptidão que viabilize qualquer que seja o teor de um projeto. Mas quanto às suas capacidades enquanto agitador cultural, talvez quanto à isso ele esteja em paz.
Lembro de Zalman King, figura ímpar dos anos 1980 e 1990, que chegou ao auge quando foi um dos roteiristas de 9 ½ Semanas de Amor, um fenômeno de bilheteria estrelado por Mickey Rourke e Kim Basinger em doses pouco vistas de sexo, digamos, livre. King partiu para os seus próprios projetos, como o inacreditável Orquídea Selvagem (onde apresentou Rourke à sua esposa, Carré Otis – coitada, sofreu horrores…) e Delta de Vênus. Pois Mandes me faz recordar dele, e sua peregrinação pelo erótico, dessa vez deslocado para a Polônia, tentando tirar desse país uma aura meio séria que poderíamos ter dele. Ainda bem que temos Andrzej Wajda, Jerzy Skolimowski e Agnieszka Holland para representar os poloneses da maneira como eles merecem.
Um grande momento
Mãe e filha no barco