Crítica | CinemaDestaque

Gran Turismo – De Jogador a Corredor

(Gran Turismo , EUA, JAP, 2023)
Nota  
  • Gênero: Aventura
  • Direção: Neill Blomkamp
  • Roteiro: Jason Hall, Zach Baylin, Alex Tse
  • Elenco: David Harbour, Orlando Bloom, Archie Madekwe, Djimon Hounsou, Geri Halliwell, Josha Stradowski, Maeve Courtier-Lilley, Darren Barnet
  • Duração: 130 minutos

Dizem que se você chamar ‘Gran Turismo’ de jogo de videogame, os fãs aparecerão na sua casa para cobrar explicações por tamanha blasfêmia. De acordo com os milhares de aficionados ao redor do mundo, trata-se de um simulador de corridas que transporta o usuário para a experiência perfeita atrás de uma tela. Algumas dessas curiosidades nerds estão presentes em um dos títulos mais nerds da temporada, Gran Turismo – De Jogador a Corredor, lançamento simultâneo ao redor do mundo essa semana. A tentativa de fazer pelo espectador de cinema algo parecido com o que é feito com os adolescentes na vida real (ou mesmo a experiência que o filme fantasia) não é amplamente alcançada, exatamente pelos motivos que fazem do cinema, cinema. 

A direção é de alguém que parece que, em 10 anos, já passou por muitos estágios diferentes de uma carreira hollywoodiana, Neill Blomkamp. Do indicado ao Oscar Distrito 9 pra cá, muita coisa já aconteceu, e nada mais foi como ali em 2009 – mas nem de perto parecido. Agora é literalmente um diretor contratado de um blockbuster genérico, que para muitos significou o fim da carreira; espero verdadeiramente que não seja o caso dele, porque mesmo aqui e nessas condições, ele parece interessado em entregar algo. Ainda que seja sim um contracheque vindo da Sony e da Nissan e isso seja muito explícito em cada cena do filme, Gran Turismo – De Jogador a Corredor ainda guarda algumas (não muitas) qualidades que levarão o público a uma catarse, mesmo que vazia. 

Tem um truque bem bacaninha que o filme joga na tela, que é quando seu protagonista, Jann, pilota o simulador do seu quarto, e toda a estrutura mecânica de um carro de corrida de verdade é acoplada ao seu corpo, transportando-o para uma pista de verdade. Na reta final, o filme inverte os papéis e tira o jovem piloto das pistas e o ressignifica no lugar de origem. É uma brincadeira de ilusão divertida, que Gran Turismo – De Jogador a Corredor infelizmente não sabe como tratar, e desperdiça ao não explorar mais a situação; até a concisão deveria ter um limite. Esse é um dos momentos onde o filme parece preocupar-se com a fantasia de modo cinematográfico, e não tentando remeter o filme a um realismo que não cabe aqui. 

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O filme é todo envolto em clichês, e a princípio isso não é um problema. A situação da competição interna mais parecer um reality show onde a cada momento um é eliminado, por exemplo, é simpática e preenche bem o terço inicial do filme. O tradicional conflito de gerações entre pai e filho também não deveria ser uma questão, mas tudo se transforma quando o filme não consegue dar vazão a esse dilema. Simplesmente os pais de Jann desaparecem em determinado momento, mesmo que suas presenças fossem tão importantes. Quando volta à cena, o pai tem um acerto de contas com o filme tão mixuruca que não conseguimos entender porque eles se desentendiam, quando nunca faltou uma relação amorosa entre eles. Infelizmente, Gran Turismo – De Jogador a Corredor quer absorver o máximo em clichê e o mínimo em tempo para o mesmo ser desenvolvido. 

Nada é mais fora do comum, no entanto, do que a forma como as corridas foram transpostas para a tela. Estando dentro de uma seara de ‘filme de corrida’, Gran Turismo – De Jogador a Corredor comete o maior pecado na ideia de homenagear o jogo e seu criador, que é picotar as cenas com uma montagem pseudo-frenética, que assim sendo provoca o oposto do que deveria na produção. Se a intenção era colocar o espectador para partilhar da experiência de um jogador, o resultado é um fracasso retumbante. Entenda: tais cenas não são mal dirigidas, e algumas até chamam a atenção, caso do acidente que paralisa o protagonista. Mas elas tiram o público do lugar que deveria encerrá-lo, que é a tentativa de reproduzir a sensação do ‘Gran Turismo’ original, com isso a forma onde ele é criado, e que tenta reproduzir nos momentos de ultrapassagem, se tornam obsoletos.

Tirando ainda outros problemas que assolam os estereótipos de britânicos nos filmes, como o descaso absoluto que as pessoas teriam em relação a o que quer que seja de bom acontecendo na vida alheia, Gran Turismo – De Jogador a Corredor apresenta uma coleção de situações e personagens genéricos. Do treinador caído em desgraça ao jovem rebelde protagonista, passando pelos competidores de cada país, um mais vestido de clichê que o outro, consigo ver essa produção sendo bem apreciada por um público afim de desligar o cérebro. O meu não chegou a tanto, e a culpa é da quantidade de chavões de tantas outras produções que vemos elencadas aqui, com um resultado aquém do que é vendido pelo marketing. 

Um grande momento

Jann reencontra seu pai

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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