- Gênero: Ficção
- Direção: Marta Szymanek
- Roteiro: Marta Szymanek, Piotr Gerard Szymanek
- Elenco: Natalia Jedrus, Nadim Suleiman
- Duração: 23 minutos
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Forma e conteúdo. É com sarcasmo e ironia que Mila se apresenta. A conhecemos na infância, querendo impressionar os coleguinhas. Ela nos conta isso zombando de si mesma e depois descobrimos o porquê. A diretora Marta Szymanek, showrunner da série da HBO O Degelo, leva boa parte de Eden (Do Raju) assim, na contradição entre o que se diz e o que se tem, embora já estabelecido o jogo e esperada a frustração dos sentimentos, da personagem e dos que já se afeiçoaram a ela.
A trama, escrita pela diretora e seu marido Piotr Gerard, se transforma em algo diferente do esperado quando uma outra vida cruza a de Mila. Metaforicamente, mais uma vez a graça do envelope não condiz com o conteúdo da carta. São dois momentos tensos e extremos que chegam como troça, mas há não só o hábito aqui, esse foi o caminho narrativo que se criou. É um ponto de exposição para Basam, um sírio que já atravessou 2 mil quilômetros para chegar à Polônia, e de relativização para a protagonista, que não suporta mais viver. Duas jornadas de desespero com objetivos exatamente opostos.
Ele se intromete, ela o protege, e a ligação se dá na emergência pela sobrevivência de ambos. Eden tem toda uma estrutura e uma composição que lembra outros filmes já vistos. A forma como Szymanek conta sua história, optando pela narração durante a apresentação da protagonista e recortando eventos para criar o movimento na segunda parte, remonta a de outros autores, mas o seu conteúdo é único.
A história de Mila e Basam vai além de dois estranhos que se encontram em momentos que se contrapõem. Nesse jogo das duas existências, escolhe um deles para mostrar a desesperança, o descaso e o desespero. O outro surge personificado, não precisa ser exposto, todos nós conhecemos e está repleto de todos esses sentimentos e de outros ainda mais sombrios. Porém também traz consigo sentimentos contraditórios como esperança, companheirismo e, naquele breve momento, cuidado.
Na relação entre os dois, Eden não busca comparar ou dimensionar a dor, nem validar os sentimentos e as ações. Obviamente, o curta busca o caminho menos amargo. O que se cria naquele momento de tensão e o vínculo já estabelecido com o espectador direciona para um dos lados, um dos paraísos do título. E ele é o dos que estão lutando pela vida. Szymanek é segura na direção e a dupla Natalia Jedrus e Nadim Suleiman está muito bem no papel dos dois jovens que se encontram na diferença.
Um grande momento
Abrindo a porta