- Gênero: Drama, Suspense
- Direção: Anahí Berneri
- Roteiro: Gabriela Larralde
- Elenco: Mercedes Morán, Erica Rivas, Miranda de la Serna, Mey Scápola, Rocío Belzuz, Laura Faienza, Horacio Camandulle, Marcos Ferrante
- Duração: 96 minutos
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Recém chegado à Netflix, esse novíssimo exemplar do cinema argentino Elena Sabe não têm pelo menos um pedigree bem acentuado, que é o fato de ser baseado em um best-seller de sucesso por lá. Nesse sentido, sua adaptação era não apenas muito aguardada, como acaba sendo alvo de muita expectativa, e não apenas em seu país de origem. Isso tudo também se deu pelo nome de Anahí Berneri exatamente em seu filme seguinte a Alanis, um grande sucesso local, vencedor de inúmeros prêmios. A proposta é bem sucedida, se aceitarmos que o filme tem muito mais a oferecer do que a obra esperada e reconhecida previamente pelo público tradicional. O admirador do livro provavelmente já sabia o que o esperava, uma obra cheia de curvas rumo ao desconhecido. Ao longo da produção, vamos encontrando seus outros predicados.
O que Berneri apresenta é um campo vasto para o entendimento, que passeia dentro dos recursos cinematográficos livre de rótulos. O que a personagem-título de Elena Sabe insiste em conhecer talvez não esteja tão facilmente acessível assim, porque os lugares onde as respostas são procuradas não são os certos – a princípio. Existe sim um mistério por trás de um evento trágico, mas as possibilidades de encontrar uma saída estão no grupo cada vez maior de suspeitos. O que essa personagem não entende é que o resultado de uma investigação nem sempre é o que gostaríamos que fosse, e a necessidade de perceber a sensibilidade de olhar não apenas para o palco externo, mas também de buscar dentro da vítima os caminhos por onde o percurso foi feito.
Metade do trabalho de Berneri está em posicionar suas luzes e sombras sempre em movimentos conectados. As cenas se complementam no que o todo cria, e não apenas em um ponto específico; estão no foco principal do plano, mas também nas partes menos óbvias que surgem com a ampliação do plano. É quando saímos de um lugar passivo, para acompanhar Elena na jornada pelo que ainda lhe resta de consciência. Sua mola propulsora está no campo da justiça, que fará com que sua filha seja vingada contra o que fizeram com ela, mas as conexões necessárias para o duplo entendimento (da personagem e do espectador) estão nessa busca interna que a cineasta monta para Elena Sabe, fugindo da preparação esperada.
É um dado que foi visto, de alguma maneira, em outras produções com grau de sofisticação maior ou menor, mas que ainda assim funciona aqui. A protagonista que precisa ter solução para o que não está esclarecido percebe o passado ao seu redor graças à sua recente condição, e aos poucos ajuda a solucionar o que lhe aflige muito mais através do interno. Elena Sabe pode ser um suspense psicológico ou um drama traumático, mas qual seja a subjetividade alcançada, é do encontro entre o passado e o presente que essa personagem conseguirá o resultado não apenas do que é prático, mas principalmente ao que a memória não lhe demonstrava estar em falta. Apesar de não ser algo extraordinário, funciona em sua ideia de criar imageticamente uma condição.
A outra metade de Elena Sabe é alcançada graças à sua estrela principal, Mercedes Morán. A estrela de O Pântano, Um Amor Inesperado e Aranha encontra o equilíbrio delicado e exato entre as muitas Elenas que precisa apresentar ao longo da narrativa. Da personagem exuberante do passado até a figura trágica do presente, Morán realça ao longo do tempo uma das características mais marcantes dessa mulher: o traço de amargura crescente, que vai da sutileza do passado até a seara explícita do presente, responsável por tornar a sua vida e a de quem a cerca muito piores. Só uma grande atriz como essa poderia congraçar um grau de emoções tão complexas quanto essas, indo de um pólo a outro, e sempre parecer coerente com o que está sendo apresentado, elevando o produto onde está.
Elena Sabe pode ter alcançado a admiração dos leitores da obra base, mas é um filme que não consegue ir além do que é apresentado na superfície. Suas conexões são de um campo já visto antes, mas sua diretora e sua protagonista elevam o material apresentado. Não sei se é o suficiente para que o produto surja como algo elevado, mas serve para angariar mais um título interessante para o portfólio da Netflix, que precisa de produções com essa categoria. E não é todo dia onde encontramos adultos precisando lidar com o que não suportam, a mais medíocre das culpas, que é a de não ter conseguido ser quem se queria, e pelo resto do caminho enfrentar a dor de ter destruído tudo o que lhe poderia restar.
Um grande momento
Mãe e filha pós-compras