- Gênero: Ficção Científica
- Direção: Heo Myeong-Haeng
- Roteiro: Kim Bo-Tong, Kwak Jae-Min
- Elenco: Ma Dong-Seok, Lee Hee-Joon, Lee Jun-Young. Roh Jeong-Eui, Ahn Ji-Hye, Jang Young-Nam, Lee Han-Joo
- Duração: 104 minutos
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Na contramão de outros projetos que não esperamos absolutamente nada, aparece de vez em quando um título que surpreende pelos caminhos que resolve tomar. O maior sucesso adulto da Netflix há mais de uma semana atende pelo nome de Em Ruínas, e poderia ser o mesmo filme de sempre. De alguma forma, até o é, mas aqui no caso não seria apenas um, mas alguns condensados em uma mesma produção. Essa é uma das características que mostram como a Coréia do Sul consegue estar sempre adiante mesmo quando não está tentando fazer nada demais. Ao final da jornada, temos a consciência de que passou por nós um caminhão desgovernado desses que fazem muitos estragos ao se chocar, e a principal vítima desse acidente deve ser a preguiça do espectador.
Isso porque o filme atropela nossas expectativas com alguma facilidade, se o público deixar a visão desse universo tão caótico ocupar o campo de observação. E o responsável pelo caos generalizado é o acúmulo de gêneros, subgêneros e plots que são desenvolvidos durante pouco mais de 100 minutos. Temos o cinema catástrofe, temos a distopia futurista, temos os filmes sobre sociedades totalitárias, temos o cinema de gênero (no caso, os mortos vivos de sempre), temos um baita de um filme brucutu à moda antiga, e um tanto de comédia no molho. É muita coisa com que se preocupar, é verdade, mas sinto que o cinema sul-coreano tira essas possíveis desvantagens de letra, e entrega com Em Ruínas um pacote irresistível.
Tem também o caso de que estamos tratando de uma espécie de continuação aqui. No mesmo dia que chegou à Netflix, cinemas brasileiros receberam o candidato ao Oscar desse ano da Coréia do Sul, Sobreviventes: Depois do Terremoto, o que pode também levantar o interesse do público. Contudo, é bom deixar claro que Em Ruínas não carece de explicações maiores para sua existência, porque são universos que correm quase como paralelos um do outro. Ainda assim, é bom observar como o cinema do país não perde o fôlego há muitos anos (quiçá décadas), e continua produzindo joias escondidas como esse filme aqui, que apesar do grande sucesso da Netflix, precisa que suas habilidades sejam debatidas para que ele não passe em branco.
Ao pensar, por exemplo, em uma produção igualmente cheia de elementos como o primeiro filme da saga Rebel Moon, percebemos como sobra organização e sensibilidade para perceber as próprias capacidades. O caso de Em Ruínas é realmente daqueles raros onde observamos tantas possibilidades serem empilhadas, e tal decisão conseguir ser tratada com muita qualidade entre todos os campos. De maneira frontal, o diretor estreante Heo Myeong Haeng não tem medo de explorar a centralidade de seu cinema, amplamente ligado aos códigos de gênero, a maioria com exploração exemplar de suas possibilidades. De acordo com o avanço da narrativa, vamos observando o trabalho cada vez mais maduro dos envolvidos.
As coreografias das sequências de ação são impressionantes constantemente, e não é uma surpresa quando descubro que o diretor é originalmente um profissional da coreografia de ação. Em Ruínas, ao tratar seu roteiro de maneira tão básica, mostra que isso não é um problema se você consegue ativar o máximo de sua produção em outras searas. Como na maneira muito desavergonhada em como trata a violência de seu filme, por vezes até um pouco cartunesca, e em outras apavorante com sua entrega pelo grotesco. Isso é louvável em tempos tão politicamente corretos e cheios de restrições, que acabaram por podar as liberdades de projetos que poderiam ousar ainda mais esteticamente. Esse definitivamente não é um problema aqui.
Não atrapalha em nada o fato de Em Ruínas ser protagonizados por tantos bons atores, com carisma à toda prova. Encabeçando a turma, Ma Dong-Seok (ou Don Lee) volta a mostrar seu tipo consagrado em Força Bruta e Invasão Zumbi. Ao lado da exímia lutadora Ahn Ji-Hye, que tem sequências inacreditáveis como a sua luta final, o protagonismo do filme é composto um grupo de conexão muito fácil; acreditamos em cada mocinho e em cada vilão do filme, porque também trata-se de conseguir reportar todos esses sentimentos em quem assiste. É um pacote de respeito esse que está sendo oferecido como sucesso na Netflix, com uma direção de arte acachapante, onde a luta pela sobrevivência de um grupo poucas vezes foi tão deliciosamente confusa.
Um grande momento
O corredor do prédio