Flávia Scherner é uma atriz curitibana, radicada em São Paulo. Já participou de várias peças em Curitiba, foi garota propaganda da Vivo e do Nescafé Ice e, desde maio de 2008, apresenta o Programa ZOOM na TV Cultura, um dos primeiros programas da televisão brasileira voltado exclusivamente para a divulgação e exibição da produção cinematográfica nacional.
Gentilmente, Flávia concedeu uma entrevista ao Cenas de Cinema. Confiram!
Cenas de Cinema – Flávia, você alem de ser apresentadora é atriz, como iniciou sua carreira nos palcos?
Flávia Scherner – Prestei uma banca para atores e tirei meu DRT em 2005. Então, profissionalmente, comecei em 2005, quando também entrei para companhia de teatro A Armadilha, em Curitiba, com a peça Café Andaluz. Mas fazia teatro desde os 10 anos, no colégio, e sempre levando muito a sério, pois sabia que era a profissão que gostaria de ter. Me formei em Design Gráfico pela UFPR e durante a faculdade fiz alguns trabalhos com publicidade e uns curtas em vídeo, para amigos. Um deles me rendeu uns prêmios de melhor atriz.Vim para São Paulo no segundo semestre de 2007, ainda com 2 peças em cartaz em Curitiba. Passava a semana em Sampa atrás de trabalho e final de semana viajava para me apresentar. Foi um mês assim.
Cenas – O ZOOM, programa da TV Cultura voltado para a divulgação de produções independentes, atualmente é apresentado por você. Como foi seu teste no concurso?
Flávia – Ainda em Curitiba, eu enviei um vídeo e preenchi a inscrição para o concurso. Me mudei para São Paulo com a certeza de que encontraria algum trabalho que fosse na minha área e pudesse me sustentar, mas sem ter nada certo. Duas semanas depois de ter feito minha mudança, me ligaram da TV falando que eu tinha sido uma das selecionadas para fazer os testes de novo apresentador. Aí me bateu a certeza de que eu pegaria o trabalho! Nesse dia que ligaram, fui até uma livraria e comprei vários livros sobre cinema. Então minha tarefa foi me dedicar aos testes, estudar bastante e contar com a torcida dos amigos.
Cenas – Antes de apresentar o ZOOM, se identificava com a arte cinematográfica?
Flávia – Eu sempre gostei de cinema, mas sempre tive (e ainda tenho) mais vontade de atuar do que de falar sobre. Claro que a experiência no ZOOM tem sido ótima. Estou aprendendo muito e conhecendo gente da área, mas o que eu quero mesmo é trabalhar fazendo cinema, como atriz.
Cenas – Como o cinema entrou em sua vida?
Flávia – Desde pequena, né? Indo ao cinema assistir aos filmes da Xuxa, Disney, Os Trapalhões… Criança nos anos 80, normalmente, começava assim… Lembro que, com 10 anos, uma professora do colégio resolveu levar os alunos para assistir Dick Tracy. Poxa. Eu tinha só 10 anos, Achei a professora sem noção na época. [risos] Mas a fotografia me marcou, a presença da Madonna também. Reavaliando, foi bom ela ter apresentado para nós algo diferente.
Cenas – O ZOOM exibe curtas-metragens independentes, como você vê esse mercado no Brasil?
Flávia – Tem muita gente produzindo. É impressionante! As novas mídias facilitam as produções, a internet ajuda na divulgação e distribuição. O que não quer dizer que tenha mais qualidade. Mas, como na prática se aprende muito, é ótimo que tenha essa facilidade em realizar. Afinal, errando se aprende e vendo os erros dos outros também.
O chato é que a exibição ainda fica restrita a festivais, alguns sites e aos poucos programas na TV, como o ZOOM. No cinema tem tanto comercial! A gente já paga uma boa quantia para ver o filme e ainda tem que ficar recebendo aquele turbilhão de publicidade? Tinham que rever a Lei do Curta.
Cenas– E como você vê o Cinema Nacional hoje, em relação aos longa-metragens?
Flávia – Também está se produzindo muita coisa, mas falta verba. Muitos só têm dinheiro para ir até as filmagens e o filme fica parado na pós. Ou, se finalizam, falta dinheiro para divulgação e exibição. Sempre esbarra na falta de dinheiro. Alguns só conseguem ser exibidos em festivais e depois demora (anos até) para conseguirem ir para os cinemas.
Com relação ao que tem sido produzido, existe uma variedade muito grande de temas. O Brasil é muito rico culturalmente e isso se reflete no que tem sido produzido. O cinema consegue sair dos grandes pólos – Rio e São Paulo. Tem coisa boa sendo realizada em todas as regiões do país.
Cenas – Você mantém um blog, escrevendo suas impressões sobre as materias do programa, como é manter essa interação entre o público? Acha que a internet facilita
Flávia – No começo eu era mais empolgada com o blog, por imaginar que haveria uma troca maior com o público. Mas dos poucos comentários que o blog recebia, parte deles era para falar coisas que não eram pertinentes ao assunto tratado ou sobre o programa. Os que comentavam coisas relevantes eu respondia, ou repassava para produção, caso fosse alguma crítica ou sugestão em relação ao programa. Tinham duas pessoas que comentavam sempre e criou-se um diálogo legal, mas que não continuou. Depois que o blog mudou para dentro do site do ZOOM os comentários diminuíram ainda mais. Aí eu acho que estou falando quase sozinha. [Risos]
Cenas – Flávia, você entrevista varias personalidades do cinema, entre cineastas e atores. Como é para você entrevistá-los?
Flávia – Em algumas entrevistas eu me sinto tendo uma aula particular. É uma delícia! Tento extrair o máximo que posso pensando no público do ZOOM, mas pensando em mim também. Às vezes é a Flávia atriz que pergunta algumas coisas [risos]. Tem algumas pessoas que eu tenho que ter uma dose extra de concentração para não ficar pensando “Nossa, estou com tal fulano na minha frente! Não acredito, não acredito!”. É um acesso diferente a esses artistas. Muitos com quem eu sempre tive (e ainda tenho) vontade de trabalhar. De repente estou ali entrevistando aquela pessoa e pensando “ok, agora estou te entrevistando, daqui um tempo espero estarmos conversando sobre determinada cena que teremos que fazer juntos.”. Um dos exemplos mais recentes que tenho em relação a isso foi uma entrevista com o Tony Ramos no CinePE em Recife.
Cenas – David Lynch foi um dos seus entrevistados, como se sentiu ao conversar com ele? Admira as obras dele?
Flávia – Foi no meu primeiro semestre no ZOOM. Tinha feito poucas entrevistas e com pessoas mais acessíveis. Nunca imaginava que um dia estaria com David Lynch na minha frente. Me preparei um monte para entrevista, li o livro que ele veio divulgar. Foi muito bacana, ele é super zen, tranquilão, atencioso. Eu ficava me concentrando nas respostas dele mas, de repente, me perdia pensando “nossa, é o David Lynch!”. [risos]
Eu gosto desse universo louco dos filmes dele, não assisti a toda a filmografia, mas gosto. “Cidade dos Sonhos” é bem o tipo de filme que eu curto, parece tudo sem sentido, sem nexo, mas você sai do cinema e fica dias pensando a respeito do filme, tentando entedê-lo. Engraçado, saí do cinema me achando uma ignorante e mesmo assim gostei. [risos]
Cenas – Para você quais cineastas questionam ou provocam sobre a existência, o tempo, a vida, a sociedade?
Flávia – Falar sobre Bergman é até meio batido, né? O próprio David Lynch, Fellini, Kubrick, Polanski, Kieslowski, Chaplin, Truffaut, são os que vieram na minha mente agora.
Cenas – Qual é sua atriz e ator favoritos?
Flávia – Giullieta Masina, Meryl Streep, Johnny Deep, Tony Ramos.
Cenas– Você participa de vários festivais, fazendo reportagens, como é para você fazer essas materias?
Flávia – Os festivais são legais. A gente vê muito filme, conhece muita gente do meio. Mas eu queria mesmo é participar de festivais com filmes em que eu estivesse atuando. Fico entrevistando um monte de atores pensando “espero que em breve eu esteja sendo a entrevistada”.
Cenas – Como se estivéssemos agora no quadro “Filme Proibido”, do Programa ZOOM, qual filme você adora mas tem vergonha de assumir?
Flávia – Meu filme proibido é “Férias Frustradas”. Me divirto assistindo toda aquela bobajada! Tem várias cenas inesquecíveis dessa série. Eles levando a avó morta em cima do carro, chegando no parque que está fechado, o pai que não lembra o nome da filha, o cara que eles atropelam na bicicleta… posso ficar falando de várias cenas aqui.
Mas posso falar mais um? Mais recentemente vi o filme “O Som do Coração”. Água com açúcar, mas eu chorei e me emocionei horrores. A história é linda!
Cenas– Qual foi seu primeiro filme no cinema?
Flávia – A minha primeira lembrança é de ir assistir a Fievel, aquele ratinho, com uma tia minha. Fomos com outra sobrinha dela, compramos uns chocolates, entramos na sala e um pouco depois de começado o filme eu dormi [risos]. Lembro disso… de acordar no meio da sessão, voltar a dormir, acordar, dormir…
Cenas – Qual é sua Cena, Trilha Sonora, Fotografia e Roteiro cinematográfico inesquecível?
Flávia – Nossa! A gente pergunta [no quadro Start] sua cena e trilha inesquecível. Roteiro e fotografia são para profissionais específicos, mas vamos lá… vou tentar.
Cena: O monólogo do personagem do Dan Stulbach em “Tempos de Paz”, em que ele fala sobre o ofício do ator. Assisti no Festival de Paulínia ano passado e me emocionei muito. Me levou a várias reflexões. O texto é lindo e a interpretação precisa.
Trilha: Moulin Rouge. Adoro musicais e gosto muito da maneira como transformaram as músicas nesse filme. O Elephant Love Medley é incrível.
Fotografia: Cidade de Deus e Ensaio Sobre a Cegueira, ambas fotografias do César Charlone.
Roteiro: Batman – O Cavaleiro das Trevas. Tudo que é colocado é necessário, os diálogos, referências. Redondo!
Cenas – Como vê as oficinas de cinema nas favelas? Qual a mensagem que os integrantes querem passar?
Flávia – É muito bom saber que existem iniciativas que levam possibilidades diferentes para a vida de muitas pessoas. Às vezes os alunos acabam não trabalhando com audiovisual ao final da oficina, mas o convívio com a arte cria uma marca neles, que irão buscar alternativas fora do crime. As oficinas Querô – último trabalho do tipo que eu fui acompanhar – fazem um trabalho muito bacana. Além das aulas de audiovisual, tem aulas de cidadania, acompanhamento familiar, reunião com os pais. É um projeto que vai além do cinema, completo.
Cenas – Qual é o seu filme favorito e o filme que odeia?
Flávia – Favoritos: A Estrada da Vida, Pequena Miss Sunshine, Moulin Rouge, Tempos de Paz, Noite Americana.
Odiar é uma palavra meio forte né? Semana passada tentei assistir a O Lutador e não consegui chegar em 30 minutos. Parei. Filmes que não me pegam no começo, eu tenho procurado nem terminar de ver. Depois que o Win Wenders falou, no filme Janela da Alma, que ele sai sem problemas do cinema se não está gostando do filme e porque não quer carregar aquelas imagens com ele, eu pensei “tem razão!”.
Cenas – O que o Cinema representa para você?
Flávia – Trabalho, prazer, magia, reflexão.