- Gênero: Terror
- Direção: Toby Meakins
- Roteiro: Simon Allen, Toby Meakins, Matthew James Wilkinson
- Elenco: Iola Evans, Asa Butterfield, Eddie Marsan, Angela Griffin, Ryan Gage, Kate Fleetwood, Ioanna Kimbook, Robert Englund
- Duração: 84 minutos
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Antes de ser um filme de gênero, Escolha ou Morra, estreia de hoje da Netflix, é um filme de homenagens, daqueles saudosos de um tempo que já se foi. É fácil sentir esse viés celebratório de um outro tempo, um clima saudosista que perpassa toda a produção. Ambientado nos dias de hoje, o filme é abertamente conectado ao passado e reverente a ele, em suas escolhas e em seus elementos principais. Mesmo uma certa melancolia que reside nos personagens, e nas vidas desgraçadas que levam, imprimem na tela essa tentativa de abraçar o passado com o máximo de vontade. Nesse caminho de busca, o filme acaba metendo os pés pelas mãos e o que salta da tela é a falta de entendimento geral.
Essa homenagem se arvora muito mais em direção a uma época que a um gênero, e isso soa deslocado levando em consideração que o terror deve ser o gênero mais auto homenageado possível, nem é algo deslocado dentro do que vemos; quase anualmente algum título novo sai nesse sentido, talvez desde o surgimento do primeiro Pânico. E especificamente ao cinema de terror dos anos 1980 esse lugar é ainda mais constante, sem jamais perder a essência de que está sendo realizado um longa de gênero, ou seja, seus códigos não podem ser esquecidos. A referência aqui me parece ser mais a uma memorabilia do tempo, um saudosismo que parece deslocado em muitos sentidos.
É quase como se estivéssemos assistindo a um documentário nerd-cinéfilo com poucos recursos. E onde entrariam esses poucos recursos? Não, Escolha ou Morra não é mal produzido, mas é muito mal concebido estruturalmente. Quando você decide que seus sonhos, sua nostalgia e sua concepção de passado muito particular interfira em um processo, o resultado é o que vemos aqui. Têm claramente uma mentalidade de fã por trás do longa, mas diferente de uma série como a originalmente concebida por Wes Craven, foi deletada da mistura o afeto que faz a diferença. O que vemos então parece uma versão burocrata da lembrança de alguém.
Toby Meakins, roteirista e diretor em sua estreia em longas, é alguém que compreende o que quer falar, mas não fala exatamente o que se quer ouvir. Sua visão sobre o cinema de gênero parece engessada e estanque, de caráter pouco evolutivo, sem avançar em nada dentro do que já vimos e explorando pouco o próprio universo criado, que sai da produção quase intocado. Talvez ele devesse ter ficado como argumentista, porque sua ideia é bacana, tem potencial. Mas não é desenvolvida na sua completude, porque tem uma ideia mecanizada sobre o que deve ir ao ar – Escolha ou Morra é um produto, com clareza, mas parece ter esquecido que produtos precisam ser comprados, e quando você mecaniza o processo por demais, o encontro com o alvo se perde.
Acima de tudo, não é raro, mas Escolha ou Morra deve ser dos produtos de terror menos divertidos já vistos, e isso é uma pá de cal em um gênero que depende bastante de um mergulho conjunto. Quando olhamos o material, nem mesmo internamente é salientado esse jogo – um ator do calibre de Eddie Marsan (de Simplesmente Feliz) se arrasta quase obrigatoriamente, não nos faz comprar sua tese. Aliás, tem isso em cena, é tudo muito pouco orgânico, os eventos parecem quase obrigatórios, quase como um jogo… em um filme sobre um jogo. Vide séries como Jumanji ou Jogos Mortais, por exemplo, onde o conceito é parecido – o espectador acompanha o jogo dos personagens. Muito deu certo por lá, quase nada deu aqui.
Não se trata apenas de carisma coletivo, que falta aqui quase na totalidade. Mas precisamos não subestimar o poder da paixão em um projeto. Grandes filmes, de qualquer época ou qualquer gênero, nos arrebataram movidos por uma gana interna de gerar engajamento, de alguma ordem. Em um filme de terror (que é em sua essência produzido para um grupo específico de cinéfilos), essa passionalidade precisa estar explícita para que a troca aconteça, entre público e realizador. Isso não acontece em Escolha ou Morra, um filme que espera que seu espectador compre sozinho seu barulho; não vai rolar. E desperdiçar a voz de Robert Englund é demais para qualquer mínimo fã do horror.
Um grande momento
O resultado do primeiro jogo