Crítica | Streaming e VoD

Esquadrão Trovão

Mulheres e suas maravilhas

(Thunder Force, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Ben Falcone
  • Roteiro: Ben Falcone
  • Elenco: Melissa McCarthy, Octavia Spencer, Jason Bateman, Bobby Cannavale, Pom Klementieff, Melissa Leo, Taylor Mosby, Marcella Lowery, Melissa Ponzio, Ben Falcone, Nate Hitpas
  • Duração: 106 minutos

As comédias protagonizadas por Melissa McCarthy e geralmente dirigidas por seu marido Ben Falcone poderiam formar uma espécie de McCarthyverso, tendo em vista que suas personagens nessas produções tem uma origem bem similar. São mulheres que poderiam ser traduzidas como típicas perdedoras (losers), que não necessariamente primam pela inteligência, geralmente grosseiras e desbocadas, esporrentas e solitárias. O novo Esquadrão Trovão, maior estreia da Netflix do mês, não muda esse quadro típico da atriz, porém consegue equalizar em sua narrativa dispositivos típicos do contemporâneo, que ampliam o olhar sobre questões prementes.

Escrito e dirigido por Falcone, o filme se mostra bem mais eficiente que as incursões anteriores do casal, tais como Tammy e Alma da Festa, que não tiveram o resultado esperado nos cinemas, mas a Netflix conseguiu aportar na filmografia do casal na hora certa, onde nas entrelinhas algo está sendo dito sem panfletagem e quando a graça até dá as caras; sabemos que o humor é algo de apreciação muito específica, tem amplitude de elementos que nem sempre agradam a todos, mas o filme encontra alguns bons momentos de diversão, graças principalmente à química entre Melissa e sua coprotagonista, Octavia Spencer.

Esquadrão Trovão

A base do roteiro é simples e de pouca originalidade, mas funciona no que se propõe muito pelo motivo onde escolhe estar dentro dessa seara, ao imaginar o surgimento de uma equipe de heróis (ou heroínas, especificamente) absolutamente fora dos padrões. Protagonizado por duas mulheres de 50 anos, longe do peso vendido como ideal e com um núcleo negro protagonizando a narrativa, Esquadrão Trovão, sem pedir qualquer licença, é uma resposta obviamente cômica a cinesséries como os X-Men, mas com uma representatividade nunca antes vista no gênero, que encampa suas necessidades na tela de maneira muito natural, ao ponto do espectador demorar a se dar conta a respeito dessa subversão.

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Longe dos estereótipos que vendem os corpos e as idades de Brie Larson e Jennifer Lawrence como ideais do gênero, Melissa e Octavia são duas atrizes de talento e sucesso reconhecido, ambas indicadas ao Oscar, mas que nunca frequentaram listas frívolas de beleza. O filme as vende como duas mulheres que não venceram por seus atributos externos, mas que também por causa do que tinham a oferecer conseguiram inclusive se relacionar romanticamente. Na verdade, podemos dizer também que o filme passa no teste Bechdel com facilidade, mostrando que, apesar do interesse romântico, essas mulheres estão em cena demonstrando suas habilidades específicas e debatendo suas capacidades de liderança e sororidade.

Esquadrão Trovão

Cheio de energia em seu ritmo (afinal, trata-se de uma comédia que flerta com a ação, com efeitos especiais muito eficientes), o filme é uma típica produção de qualidade feita hoje para o consumo rápido que os streamings exige de seu público, mas cuja validade talvez dure um pouco além do imaginado por mostrar um grupo de mulheres em posição de destaque em seus papéis sociais, com cargos de chefia e de centralidade, cujas ações desencadeiam a narrativa. Parece pouco, mas isso aliado a funcionalidade do projeto, seu bom humor e seu material pop (que inclui trilha sonora pontilhada de Cranberries, Seal e AC/DC) com certeza encontrarão público certo, merecidamente, disposto a passar um tempo conhecendo as amigas Emily e Lydia.

Vivendo essas duas mulheres, Melissa McCarthy e Octavia Spencer que conseguiram emocionar respectivamente em Poderia me Perdoar? e Histórias Cruzadas estão muito à vontade em suas realidades aqui, que também não é um mercado usual para elas. Cheias de carisma, as duas se envolvem no universo fantástico levando não apenas a comicidade esperada, mas uma reflexão sobre empoderamento e igualdade de raças sem promover qualquer discurso. Está tudo colocado em cena em Esquadrão Trovão como se elas sempre estivessem estado ali, mesmo que estejam inaugurando essa modalidade de super mulheres.

Um grande momento
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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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