(Stockholm, CAN, EUA, 2018)
Todo mundo já viu filmes de sequestros de banco, que fazem reféns por dias e geram resgates alucinantes, de excepcionais (como Um Dia de Cão) até exemplares bem medíocres e esquecíveis. Alguns desses filmes inclusive abordam a Síndrome de Estocolmo em suas narrativas, tratando da relação íntima que nasce entre criminosos e vítimas devido à proximidade e à tensão que esses eventos ocasionam. O que ainda não havia sido feito era um filme sobre a origem da própria síndrome, o crime que batizou a doença psicológica; Estocolmo é sobre exatamente isso.
O curioso é observar que o filme sobre uma condição que rendeu inúmeros outros casos famosos (como o sequestro da herdeira Patricia Hearst, um ano depois), inúmeras outras obras cinematográficas, televisivas, literárias e teatrais, até se transformar numa espécie de clichê independente no cinema, não consegue se livrar do estigma que seu subgênero criou na indústria, recorrendo a diversos acessórios narrativos e imagéticos típicos das produções com o tema, fechando negativamente um arco – o filme que deveria ser sobre a gênese de algo se transforma em mais um exemplar, sem brilho.
Escrito e dirigido por Robert Budreau, que tem apenas dois longas anteriores no currículo e que aqui não parece esforçar-se para entregar além do que já se espera, um trabalho de pouco charme e muito seguro. Isso é ao mesmo tempo francamente decepcionante e também fascinante do ponto de vista psicológico sem se ater ao cinema, como já dito acima. Ainda que seu conteúdo não difira especialmente de muitos outros casos semelhantes, essa ironia deixa claro como mesmo algo historicamente impactante precisa ir além dos fatos para criar suculência ao paladar fílmico; Estocolmo, vejam só, parece requentado.
Sendo concentrado na relação entre cinco pessoas presas dentro de espaços que se tornam cada vez mais ínfimos (um banco se transforma em uma sala que se transforma em um cofre), deveria provocar um clima claustrofóbico em seu desenvolvimento, além da necessidade de nos fazer criar empatia com aquele grupo tão pequeno de pessoas, e nenhuma das duas coisas acontece. O clima descontraído (demais) da produção reflete na falta de profundidade que o filme elabora sobre aquelas pessoas, sem envolver o espectador nem provocar qualquer manutenção de estado de espírito, na tela ou fora dela – é tudo fácil e leve demais pra acreditar inclusive no tal envolvimento entre eles que batizou a doença célebre.
Há um clima de confraternização no ar desde o início, e provável que isso não seja proveniente apenas do que vemos na produção, mas de bastidores que acabaram vazando para frente das câmeras, numa produção onde isso deveria ser proibitivo. Nunca acreditamos na periculosidade de nenhuma daquelas atitudes, parece sempre algo divertido e inocente, e essa predominância está nas relações humanas entre os protagonistas, na forma como a polícia se comporta com o sequestro, em como a família da personagem feminina central é tratada pelo filme e pela mesma – sem qualquer cuidado. Não há risco visível, logo não há envolvimento.
O elenco obedece ao clima instaurado ao seu redor, então mesmo gozando de recursos infinitos, nomes como os de Noomi Rapace (de Os Homens que não Amavam as Mulheres) e Mark Strong (de O Espião que Sabia Demais) parecem alheios na maior parte do tempo, acima da tensão na qual deveriam estar envolvidos. Ethan Hawke (de ‘Fé Corrompida’) já havia trabalhado com Budreau em ‘Chet Baker’ e parece menos travado, com o talento reconhecido aqui evidenciado, porém é pouco pra gerar mais do que um interesse histórico pelo material, e a posterior decepção pelo lugar onde poderiam ter chegado.
Um grande momento
Um tiro pelas costas