Crítica | CinemaDestaque

Fale Comigo

Fale com a minha mão

(Talk To Me, AUS, GBR, 2023)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Danny Philippou, Michael Philippou
  • Roteiro: Danny Philippou, Bill Hinzman, Daley Pearson
  • Elenco: Sophie Wilde, Alexandra Jensen, Joe Bird, Otis Dhanji, Miranda Otto, Zoe Terakes, Chris Alosio, Marcus Johnson, Alexandria Steffensen, Ari McCarthy
  • Duração: 95 minutos

Há duas linhas de enredo muito comuns em Fale Comigo, e não surpreende que elas se misturem no horror: o luto e a doença mental. Combinação em voga no momento, a tal mistura guia esse interessante exemplar do gênero, um filme que olha com atenção para sua protagonista e tem um artifício funcional para elaborar sua alegoria. No centro de tudo está Mia (Sophie Wilde, de O Portal Secreto), que não só não conseguiu superar o suicídio da mãe como culpa seu pai por sua perda, e uma brincadeira juvenil com uma mão embalsamada que faz contato com os mortos.

Os gêmeos youtubers Danny e Michael Philippou, diretores do longa, têm o conflito familiar e o elementar para trabalhar com o medo da audiência, mas também se aprofundam na pessoalidade de Mia e em suas contradições, trazendo à tona o egoísmo quase narcisista da personagem e a realidade de relações forjadas sempre por suas necessidades e desejos. Porém, há uma confusão empática causada por sua carência e atitudes dóceis. Algo que se torna ainda mais profundo com a deterioração de sua sanidade. 

São as ações da jovem, desde aquela que ela não toma na estrada, que conduzem Fale Comigo. Figura fundamental na vida de Jade e Rilley, Mia se transforma de presença indesejada em figura de destaque após sua interação com o sobrenatural, ressignificando sua imagem e criando novos vínculos com os descolados Hayley e Joss. A mão é sua ascensão e sua derrocada, sua exposição e sua ruína. O roteiro, assinado por Danny e Bill Hinzman, baseado numa ideia de Daley Pearson, é curioso na construção desses paralelismos, embora não consiga fugir da obviedade sempre e se perca na concretização dos distúrbios.

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Com o luto sendo uma válvula motriz que pode ser determinante para a personalidade, mas, com certeza, é fundamental para a condição psiquiátrica, há elementos que precisam ser incorporados. Se os irmãos Philippou conseguem fazer com que estes funcionem graficamente na maior parte das vezes, o mesmo não pode ser dito da relevância – e de sua repetição – para a narrativa. E não há nada pior no terror, em especial naqueles que tentam peças mais elaboradas, do que a gratuidade de elementos. Entretanto, sempre há a possibilidade de levar aquilo que se vê com menos seriedade e desconsiderar qualquer intenção metafórica, o que minimiza bastante a questão.

Porque Fale Comigo também é isso: um filme sobre jovens que brincam de falar com os mortos usando uma mão embalsamada, e é possível que se veja isso como um grande jogo de ouija ou qualquer portal para o além, como tantos outros descompromissados que andam rodando por aí. Aqui as coisas, mesmo que se repitam temática e até conceitualmente, chegam diferentes. Com o ritmo rápido, cheio da juventude e da curiosidade dos seus realizadores; portanto mais simples, menos pesado e empombado que os novos horrores sobre o mesmo tema; é um longa que funciona bem e chega em lugares inesperados. Uma experiência divertida, sem dúvida.

Um grande momento
A primeira vez

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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