(A Febre do Rato, BRA, 2011)
Direção: Cláudio Assis
Elenco: Irandhir Santos, Nanda Costa, Matheus Nachtergaele, Juliano Cazarré, Conceição Camaroti, Maria Gladys, Angela Leal, Mariana Nunes, Victor Araújo, Hugo Gila, Tânia Granussi
Roteiro: Hilton Lacerda
Duração: 110 min.
Nota: 8
Assistir a um filme de Cláudio Assis nunca é uma experiência tranquila. Que o digam os dois filmes anteriores do diretor, Amarelo Manga e Baixio das Bestas. Febre do Rato é mais suave e até mais bonito, mas não deixa de perturbar a alma do espectador.
O cenário já é o conhecido da obra de Assis. Logo de cara, numa viagem pelo pútrido rio que une a cidade, saímos do Recife maquiado e conhecido pelos turistas e chegamos no feio Recife dos esquecidos. É lá que mora Zizo, o Poeta, um homem que usa a palavra para combater essa disparidade e mais uma penca de outros problemas sociais e humanos que não são exclusivos da capital de Pernambuco.
Anarquista, espécie de defensor da teoria de Thelema, conhecida pelos versos de Raul Seixas em Sociedade Alternativa (faze o que tu queres há de ser tudo da lei), Zizo é responsável pelo jornal marginal Febre do Rato, que ele mesmo escreve, imprime e distribui pela cidade.
A expressão regional que dá título ao jornal e ao filme significa fora de controle e é isso que vemos na tela. Entre uma edição e outra do jornalzinho, muita cachaça, maconha e sexo preenchem os dias de Zizo e seus amigos. Em sua liberdade, o poeta não perde a oportunidade de usar as palavras para confortar ou instigar todos que estão em sua volta. Até que chega Eneida, que não muda totalmente a rotina, mas embaralha tudo, confunde e perturba. A relação entre o artista e a musa impossível tira Zizo de seu caminho.
Febre do Rato é, sem dúvida, o mais belo filme de Assis. Extremamente poético, usa os versos de seu roteirista Hilton Lacerda e transpira poesia nos quadros cuidadosamente fotografados em preto e branco por Walter Carvalho.
O elenco é primoroso, encabeçado por um inspiradíssimo Irandhir Santos, que assume a alma de o filme e dá um show de interpretação, permanecendo com os espectadores muito tempo depois do filme ser visto. Ele está muito bem acompanhado por Matheus Nachtergaele e Juliano Cazarré, que vivem seus melhores amigos, e Nanda Costa, sua paixão.
Com qualidades inquestionáveis e mesmo sendo o mais belo e poético de sua obra, não deixa de ser Cláudio Assis e vai chocar e perturbar, alguns muito mais do que outros, mas, sem dúvida, merece ser visto.
Um Grande Momento
O olhar da mãe durante os preparativos da manifestação de 7 de setembo.
Links
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=U4PALnbXVMU[/youtube]