Crítica | Streaming e VoD

60 Minutos

...e nada mais

(60 Minuten, ALE, 2024)
Nota  
  • Gênero: Aventura
  • Direção: Oliver Kienle
  • Roteiro: Oliver Kienle, Philip Koch
  • Elenco: Emilio Sakraya, Dennis Mojen, Marie Mouroum, Paul Wollin, Florian Schmidtke, Aristo Luis, José Barros, Janna Striebeck, Vassilis Koukalani, Livia Matthes, Morik Heydo
  • Duração: 85 minutos

Tem uma pergunta que não sai da cabeça durante toda a extensão de 60 Minutos, sucesso recente da Netflix e que ainda não esgotou seus espectadores. Octavio tinha uma luta marcada antes do aniversário da filha, a ex-esposa dá uma hora para ele estar na festa ou tomará a guarda para si. Porque raios ele decide fugir pela cidade inteira, perseguido por amigos, mafiosos e amigos mafiosos, quando ele só precisava lutar por uns 15 minutos (se isso tudo) e então ir, sem precisar fugir de ninguém, e chegar tranquilo em 45? “Ah, crítico… sem isso não teríamos um filme”, mas é justamente aí que a produção irrita, por que a despeito da liberdade criativa que um filme precisa tomar, muitas vezes a compensação a certos pecados não compensam o trabalho. 

É o caso desse filme alemão, projeto a toque de caixa da Netflix para compor catálogo e que acaba caindo nos gostos de um público com exigência restrita. É um desses filmes pequeninos, que colocamos para ver depois do almoço, adormecemos na frente da tv, e ao acordar ou nada mudou, ou os créditos já sobem – e nada se perdeu de relevante. É bem básico de tudo, mas sua premissa poderia ser trabalhada com mais sofisticação. Talvez filmar como o batido plano-sequência, talvez pretender mais além do que entregar essa receita requentada; o que está na nossa frente é uma comida até temperada, mas um prato absolutamente qualquer. Chegamos ao fim com algum interesse, mas com a certeza de que nada se levará da experiência. 

O talentoso Emilio Sakraya nos foi apresentado ano passado, em Rheingold, o último filme de Fatih Akin. Muito bonito e com competência óbvia, poderá ser um astro no futuro. O que vemos em 60 Minutos é que ele pode ser aproveitado como ator dramático ou astro de ação, porque o potencial para funcionar está nos dois campos. Seus recursos ajudam o cinéfilo a não abandonar o filme, já que também não lhe falta carisma, e a briga pelo qual o personagem luta é nobre: ele só quer ter o direito de ser pai da sua filha. Nessa via crúcis de escolha própria, vemos que o ator foi preparado para jogar em todas as áreas, o que só nos faz importar ainda mais com uma história que, já foi dito, poderia ter sido resumida pelas circunstâncias. 

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O diretor Oliver Kienle emenda sua segunda produção no streaming (Isi & Ossi é a anterior) e mostra que também quer atender vários públicos, já que seu filme anterior era uma comédia romântica. Em comum, ambos têm a vontade de alcançar o maior público no menor tempo possível, apenas para firmar a continuidade da plataforma. No que isso contribui para a indústria local? Creio que nada. O brazuca Carga Máxima foi lançado no ano passado, e ninguém nem lembra mais dele, para o bem ou para o mal. Filmes como 60 Minutos não tem outra finalidade que não entreter durante o tempo de projeção, e ser jogado de lado assim que a mesma terminar. Ainda que exista uma fatia considerável do público procurando exatamente emoções baratas e esquecíveis. 

A ação e as lutas são bem coreografadas e interessantes, mas cada lance do filme parece programado demais apenas para chegar na próxima fase. Poucos são os momentos que sentimos alguma emoção genuína com a fuga desembestada de Octavio, e a pergunta feita lá no início não se faça presente mais uma vez. Momentos esparsos como a chegada na estação de metrô, a luta dentro da boate e os dois quartetos se enfrentando na academia não são suficientes para elevar a temperatura de uma produção tão interessada na satisfação do público quanto aqueles jovens que oferecem amostra grátis de biscoito dentro do supermercado. Você come, agradece e esquece de votar no seu grau de satisfação – porque né, nada daquilo ali ficou com você.

Um grande momento

No vagão

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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