Começou ontem (17), no Teatro Nacional e com uma noite que não poderia ser mais tumultuada, o 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A espera calorenta dos convidados foi seguida de muito empurra-empurra, falta de organização e reclamações.
Como prenúncio de uma noite perigosamente lotada, a desorganização marcou a entrada no teatro. Muita gente se amontoou em frente à porta de acesso e, sem opção de sair ou entrar, foi se espremendo em um funil, que liberava, talvez com medo que alguém saísse rolando rampa abaixo ou fosse pisoteado, um convidado por vez.
A escolha do filme Lula, o Filho do Brasil trouxe muito mais gente para dentro da sala de exibição do que o permitido. Depois de esgotados os acentos, as escadas foram se entupindo e as laterais foram tomadas por pessoas que, sem cadeira e nem chão, encostavam-se nas paredes para conferir o filme, de 128 minutos, em pé mesmo.
Entre os convidados, que diferente dos outros anos não abriram mão dos convites recebidos, muitos jornalistas (alguns setorizados em política e que nunca escreveram sobre cinema), políticos e atores globais. Até a primeira dama, Dona Marisa, estava presente para conferir o filme sobre seu marido.
Como em quase todo ano, o protesto fez parte da noite. Logo no começo da apresentação, um grupo subiu ao palco com uma faixa pedindo a libertação de Cesare Battisti. A manifestação não foi bem recebida pelo público.
Uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Brasília regida pelo maestro Ira Levi, fazia parte da programação. Asa Branca, a primeira música da noite, foi anunciada como composição de Luiz Gonzaga, sem nenhuma menção a Humberto Teixeira, ainda que a filha do compositor, a atriz Denise Dumont estivesse na platéia como convidada do Festival.
Antes do início da projeção, a equipe do filme subiu ao palco para os agradecimentos usuais. Preocupado com o número de gente na sala, o patriarca de família e produtor do filme, Luiz Carlos Barreto chamou atenção para o risco de uma sala lotada como estava o teatro e propôs uma nova sessão, logo após aquela para as pessoas que estivessem sem acento.
O público não aceitou a proposta. Enquanto Barretão andava de um lado para o outro contrariado, sua filha, a também produtora Paula Barreto, fazia os agradecimentos. Fábio Barreto, diretor do filme não se conteve e, antes que ela terminasse, pegou o microfone.
Bem nervoso, ele queria que pelo menos 30 pessoas levantassem e ficassem para a próxima sessão. “O elenco está aqui em pé e não tem onde sentar”. Se Barretão já havia sido vaiado sendo educado e usando motivos muito mais justos, tal declaração irritou as muitas pessoas que estavam na sala.
Ainda no tumulto, alguns atores conseguiram se sentar e a sessão começou. No final, entre vaias e tímidos aplausos, o desconforto parece não ter valido a pena para muitos.
A saída foi muito mais sufocante e perigosa.
Uma falha da organização que além de distribuir muito mais convites do que devia, não soube organizar a entrada e muito menos guardar o lugar das celebridades e autoridades que estariam presentes. Sem falar na já comentada falta de sinalização de saídas de emergência e na ausência completa de bombeiros e paramédicos no local.
Ainda bem que nada de mais grave aconteceu, pois qualquer motivo de tumulto seria bem complicado.
É lamentável que coisas assim aconteçam na abertura de um festival tão importante. Qualquer um sabia que a exibição desse filme (que só vai pro circuito comercial em janeiro) geraria expectativas, ainda mais em Brasília.