Crítica | Streaming e VoD

Fuja

Amor de mãe

(Run, EUA, CAN, 2021)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Aneesh Chaganty
  • Roteiro: Aneesh Chaganty, Sev Ohanian
  • Elenco: Sarah Paulson, Kiera Allen, Sara Sohn, Pat Healy, Erik Athavale, BJ Harrison, Sharon Bajer, Onalee Ames
  • Duração: 90 minutos

Aneesh Chaganty chega ao seu longa metragem ainda mantendo um rigor autoral praticamente intocado, e seguindo um caminho suave rumo a estabelecer uma confiança no público que o acompanha. Após a surpresa Buscando…, alguma expectativa foi colocada na sua próxima incursão, e ele não decepciona quem esperava reencontrar um autor no cinema de gênero, reobservando temas já lidos anteriormente pelo thriller, o suspense e o terror, tradicionais. Impedido de chegar às salas de cinema tradicionais pela pandemia de COVID-19, Fuja aporta na Netflix e encontra na plataforma de streaming e na situação atual do mundo um reflexo de seu jogo cênico bem reconhecível.

Apesar dos caminhos relativamente conhecidos da narrativa, que tem um desenvolvimento tradicional onde mesmo os poucos jump scares não fazem muita questão da originalidade e sim de serem bem realizados e conceituados, Chaganty tem mão de autor, interessada em construir um universo de potencializado imageticamente, onde a narrativa se desenrola ainda que por lugares conhecidos, mas tendo a consciência de que um trabalho repleto de texturas seja entregue ao público, que não sai do longa com a sensação de ser subestimado em sua visão; levando em consideração o material em mãos, não há como se sentir enganado.

Fuja

Voltando a contar com a colaboração de Will Merrick na montagem, esse segundo longa da dupla é mais um acerto estético e cênico que consegue fazer valer os momentos de tensão construídos pela colaboração, em um quadro de envolvimento fácil de se deixar levar. A câmera segue a personagem de Kiera Alen quase obsessivamente, em suas ações e descobertas, transformando essas mesmas em um painel de horror confinado em um prisão interna… que não existe. Com a comunicação muito direta entre a realização e os gatilhos narrativos que propõe, Fuja nas entrelinhas acaba promovendo entretenimento de qualidade, como já tinha ficado provado em seu filme anterior.

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Com o distanciamento social imposto pela pandemia e o isolamento sistêmico que grandes cidades do mundo foram obrigadas a tomar como uma das mais eficazes forma de controle de uma pandemia mortal, o quadro apresentado pelo filme é facilmente identificável pelo espectador interessado pelo projeto. Em cena, 90% da duração estão mãe e filha isoladas em uma casa em zona afastada de Seattle, onde a comunicação externa se resume a passagem eventual de um caminhão dos correios pela casa. Diane, a mãe superprotetora, passo a passo sai de um lugar reconhecido pelo materno para se mostrar tão desconhecida como uma doença recém-descoberta, e transformar o isolamento em prisão, uma sensação que reflete muitas pessoas há mais de um ano.

Fuja

E interação entre Sarah Paulson e a já citada Kiera é responsável por parte dessa qualidade e do envolvimento do público na narrativa de Fuja, que vai num crescendo de tensão que exclui outros elementos da narrativa para se fechar numa relação que se revela doentia e obcecada, remetendo a histórias reais que já rendeu a minissérie The Act e atualmente tem feito o público acompanhar a reta final da global trama de Manuela Dias para o horário das 21, com Adriana Esteves e Sarah terem muito mais que talento em comum, e pensando até que ponto Thelma poderia chegar se fosse apresentada a Diane.

Se Fuja é honesto a ponto de não ludibriar o espectador rumo a desdobramentos inéditos em cima de uma estrutura já testada e aprovada inclusive na teledramaturgia, o roteiro de Chaganty em parceria com Sev Ohanian guarda em seu desfecho uma pitada de ousadia típica do gênero, deixando o espectador com um sorriso recompensador no rosto e a certeza de que seu diretor não está apenas à disposição de sustos fáceis em um campo de repetições, e sim que estamos diante de um artesão que sabe muito bem como conceber seus planos.

Um grande momento
A fuga pela janela, que se transforma em retorno ao quarto, que se transforma em descida pelas escadas… uma saga

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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