- Gênero: Romance, Drama, Comédia
- Direção: Ned Benson
- Roteiro: Ned Benson
- Elenco: Lucy Boynton, Justin H. Min, David Corenswet, Austin Crute, Andie Ju, Retta, Nelly Furtado
- Duração: 95 minutos
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Parece que estamos mesmo em um ano especial para a comédia romântica. Todo mundo tem seu quinhão de acerto: a bilheteria astronômica do estadunidense Todos Menos Você, a simpatia do espanhol Uma Parede entre Nós, a doçura melancólica do nosso Evidências do Amor. Mas nenhum deles é páreo para a estreia do Star+, Grandes Hits. Recém passado no Festival South by Southwest (SXSW), muito rapidamente somos fisgados pela produção. Na verdade, de todos os citados, esse é onde a comédia se faz menos presente, mas ela está lá, existe sim alguma leveza aqui e ali por trás de Harriet, a protagonista do filme que lida uma dor lancinante. E mais uma vez, a ficção científica invade o terreno, mostrando que Michel Gondry, Charlie Kauffman e Spike Jonze moldaram uma geração de apaixonados tristonhos, com dificuldade de reconhecer e aceitar o passado.
Lucy Boynton encarna com delicadeza uma personagem que o espectador descobre no meio de um processo de luto profundo. Ela sobreviveu a um acidente que vitimou seu namorado, que ela considerava o amor de sua vida. Como superar esse trauma? Talvez lembrando dos melhores momentos com ele… não, se ela estiver condicionada a isso. Em resumo, Harriet não pode ouvir nenhuma canção que ela e Max tenham ouvido juntos pela primeira vez, que é teletransportada para aquele momento no passado, até podendo alterá-lo. Isso de alguma forma nos faz lembrar algum certo filme em cartaz nos cinemas desse momento? Essa conjunção de astros que aproxima Grandes Hits do filme protagonizado por Fábio Porchat e Sandy não tira a força, de um ou de outro. E, com empate técnico, a vantagem é da produção gringa, que tem um pouco mais a oferecer. É uma competição válida, onde o melhor a fazer é assistir e curtir ambos.
Aqui em Grandes Hits, no entanto, a construção dramática talvez seja um pouco menos refém de gatilhos de roteiro. Assim como no brasileiro, a ação se faz presente a partir de eventos já previamente acontecidos. Apesar de utilizar o reiterante recurso da entrada do novo personagem para que o espectador conheça a história pregressa à ação, aqui ela se justifica por pressões externas. Já se passaram dois anos desde o acidente fatal, e Harriet utiliza sua condição fantástica para se prender mais e mais ao passado; a entrada em cena de David não apenas areja sua vida, como a coloca para refletir sobre sua consciência em relação aos eventos posteriores. São sutilezas levemente colocadas em cena, como a repetição de micro ações que unem a descoberta de um novo amor com a libertação de algo que já se foi.
O diretor e roteirista Ned Benson precisou de 10 anos para retornar, após o monumental projeto Dois Lados do Amor, um drama romântico dividido em dois volumes. Esse seu novo filme prova que não estávamos enganados em relação ao seu potencial na estreia, e seu lugar aqui é mais seguro em relação ao que quer contar. Embora funcione na mesma escala que outros sucessos como Questão de Tempo, Grandes Hits tem personalidade e uma vontade vívida de conquistar o espectador. Isso é feito com parcial facilidade porque os elementos em cena estão todos acertados, a começar por essa conexão entre direção e roteiro, de fruição fluida e sem a criação de rodeios, indo de maneira direta ao que está contando, sem perder o relevo de sua protagonista.
A química entre Boynton e seus dois pares é muito evidente, tanto com Justin H. Min quanto com David Corenswet, que virá a se tornar Superman em futuro próximo; isso provoca uma positiva confusão de torcida do espectador, que entende que elas seria feliz com qualquer dos dois. O que pode realçar os valores de Grandes Hits é absolutamente pessoal, caminha para a subjetividade, mas essa é uma produção que mostra o fascínio de descobrir o amor, em cada mínima declaração. É um trabalho conjunto, onde o grupo todo está coletivamente visando completar aquele quadro abstrato a respeito da passagem do tempo, que acontece mesmo quando estamos muito conectados a ele. De uma forma implícita, o que Benson está pedindo ao espectador é que o melhor lugar para o passado ficar é no passado.
Existe uma textura especial conseguida aqui, que é resultado de talento, sem dúvida, mas que também é fruto dos acasos que constituem as próprias histórias de amor. Estamos sempre abrindo mão de um caminho quando tomamos outro, e muitas vezes uma decisão tem o poder de anular quaisquer que sejam as outras alternativas possíveis. Isso é um trabalho de reconstrução de nossa própria história, que vai sendo ressignificada a cada entrada de novos personagens. Grandes Hits, assim como no lado de cá, é também um projeto que versa sobre uma frase básica: você preferia ter o amor da sua vida no seu passado ou no presente de outras pessoas?
Um grande momento
O esbarrão