Crítica | Festival

O Ano em que o Frevo Não foi Pra Rua

Alma de curta

(O Ano em que o Frevo Não foi Pra Rua , BRA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Documentário
  • Direção: Bruno Mazzoco, Mariana Soares
  • Roteiro: Mariana Soares
  • Duração: 70 minutos

Há dois anos atrás, o Cine PE exibia em sua noite de abertura o caloroso Frevo Michiles, um documentário que fala sobre um dos maiores compositores da História do frevo, uma figura lendária que recebeu essa homenagem ainda vivo e atuante. Dois anos depois, a dupla Bruno Mazzoco e Mariana Soares lança também no festival O Ano em que o Frevo Não foi Pra Rua, que como o título não nega, é uma análise a respeito da ausência do carnaval pernambucano durante a epidemia de COVID-19. Em 2025, esse recorte temático ainda é uma questão que valha o tempo de uma produção cinematográfica? Sim. Talvez não com esse recorte, com essa reverberação, sob esse signo. 

A coisa que mais salta aos olhos em relação ao filme é em como provavelmente esse era um curta metragem que não foi percebido como tal. O Ano em que o Frevo Não foi Pra Rua é uma experiência que não se contém em seu potencial catártico, provocando comoção real no cerne do espectador. Com uma sessão inicial promovida no lugar mais apropriado, é fácil compreender alguma comoção – ou absoluta. O que não se podia prever é que a análise fílmica teria um conteúdo natural com algum descolamento desse olhar, que é viciado em relação ao seu espaço geográfico e de eventuais afetos de uma maneira evidente. Tal observação crítica não pode passar despercebida de um contexto que exclua a cadência emocional do campo geral. 

Com 70 minutos de duração, O Ano em que o Frevo Não foi Pra Rua tem em seu principal problema a forma com que a montagem não interfere no que foi produzido ali, deixando discursos para lá de longos serem mantidos na íntegra. Não faz muito sentido que estejamos de frente a um grupo de pessoas que exclusivamente se dediquem ao carnaval sem dar personalidade aos discursos. Talvez os únicos que mostram uma curva dramática maior sejam o padre, que evita maiores explicações, e a senhora cuja vida de sua mãe e sua avó foram igualmente dedicadas ao carnaval. Mas ainda assim contém dentro dessas duas subjetividades ângulos a serem percorridos, e eles faltam ao lugar comum do festival, que no geral não tem nuance.

A repetição de informações, e de melancolia, e de empatia, não acrescenta em nada ao que sabemos desde o primeiro entrevistado para o filme, assim como a reta final igualmente não tem uma estrutura de descoberta, e sim de um reforço desnecessário. Com uma duração que é efetivamente curta, é em algo como O Ano em que o Frevo Não Foi Pra Rua que o discurso a respeito da montagem pode salvar ou destruir um filme. Aqui, a impressão que passa é a de que a direção era tão controlada, a ponto do trabalho de Ari Arauto não ser o foco principal da questão, quando para mim evidentemente.é. 

Dito isso, é comovente a reação desse grupo a algo que é um só tempo atividade econômica e ação movida por paixão. principalmente quando ocorre a virada final e a fotografia comete o clichê de mudar a paleta de cores do filme, para adquirir vida – teria como pensar em outra coisa? O Ano em que o Frevo Não foi Pra Rua gira em círculos para terminar de um ponto a outro sem credibilizar um fator que eleve seu discurso, ou ao menos compreenda a repetição  de discursos sem qualquer motivo dramático que justifique as ações. O amor pelo objeto filmado (no caso, o carnaval) não deveria ser maior que o contorno que o cinema poderia conceber ali, e não o faz. 

Um grande momento
O depoimento do padre

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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