(Hitchcock, EUA, 2012)
Direção: Sacha Gervasi
Elenco: Anthony Hopkins, Helen Mirren, Scarlett Johansson, Danny Huston, Toni Collette, Michael Stuhlbarg, Michael Wincott, Jessica Biel, James D’Arcy, Richard Portnow, Kurtwood Smith, Ralph Macchio
Roteiro: Stephen Rebello (livro), John J. McLaughlin
Duração: 98 min.
Nota: 6
No início de Hitchcock, Alfred Hitchcock (Anthony Hopkins) e sua esposa Alma Reville (Helen Mirren) são aguardados por inúmeros jornalistas e fotógrafos na première de Intriga Internacional. Quando um deles pergunta ao cineasta se aquele não é o momento ideal para pensar em se aposentar, Hitchcock fica perturbado. Isto porque esta é uma possibilidade naquela fase de sua carreira. Afinal, desde Ladrão de Casaca não pôde encontrar uma musa loura à altura de Grace Kelly e Um Corpo Que Cai, lançado antes de Intriga Internacional, foi um fracasso comercial que o abalou.
Um pouco a seguir, Hitchcock se depara com um material que lhe tira desta crise criativa. Trata-se de “Psicose”, romance escrito por Robert Bloch claramente inspirado na figura de Ed Gein, homicida de Wisconsin condenado pelo assassinato de duas pessoas e que criava objetos para decoração residencial com partes da anatomia feminina.
Embora o filme Psicose ignore todos esses detalhes sórdidos ao construir o perturbado Norman Bates, era um conteúdo forte demais para ser adaptado ao cinema. Por isto, Hitchcock tomou várias medidas extremas: bancou parte do orçamento do próprio bolso, exigiu que todas as cópias de “Psicose” fossem recolhidas das lojas e livrarias durante a produção de sua adaptação cinematográfica e recorreu a várias artimanhas ao filmar cenas que não passariam incólumes pela censura.
Com roteiro de John J. McLaughlin, que se baseia no livro “Os Bastidores de Psicose”, disponível no Brasil com o selo da editora Intrínseca, o interesse do estreante Sacha Gervasi, não está apenas na recriação de um dos maiores clássicos do cinema. Em Hitchcock, o foco está em Alma Reville, que durante toda a sua vida foi encarada como uma figura secundária, alguém que vivia à sombra do sucesso de seu marido.
Sem receber qualquer crédito, Alma não apenas revisava os roteiros dirigidos por Hitchcock, como também sugeria nomes para interpretar os papéis principais e acompanhava a pós-produção dos seus filmes para que não houvesse qualquer inconsistência. Foi também a única mulher de toda a vida de Hitchcock, um relacionamento que teve como fruto Patricia Hitchcock, única filha do casal.
Ao contrário do que se espera de uma história que homenageia o mestre do suspense, o filme revela-se, acima de tudo, terno. O Hitchcock construído aqui não é aquele homem notório pelo sarcasmo e peças perversas que pregava em suas “louras geladas”. Trata-se de um artista às vezes incompreendido e que no fundo tem compaixão pelas suas atrizes.
Por tudo isto, Hitchcock é bem-humorado, com uma graça típica do humor britânico. Ao mesmo tempo, é um filme comportado demais e que carece do brilhantismo da figura que retrata. As consequências são dois fatores deslocados na narrativa. O primeiro é materializar os pensamentos de Hitchcock durante as filmagens de Psicose através de Ed Gein (Michael Wincott), que surge como um amigo imaginário. O segundo é insinuar o interesse de Alma por Whitfield Cook (Danny Huston), que foi roteirista de Hitch em Pacto Sinistro e Pavor nos Bastidores.
Ao insistir em desenvolver essas ações paralelas, Sacha Gervasi acaba sacrificando o seu elenco secundário, um deleite à parte. Intérpretes como James D’Arcy (Anthony Perkins), Jessica Biel (Vera Miles) e especialmente Scarlett Johansson (Janet Leigh) surgem perfeitamente caracterizados na tela, mas não existe um aproveitamento adequado. Assim, resta espaço apenas para os esforços de Anthony Hopkins (auxiliado por um excelente trabalho de maquiagem indicado ao Oscar) e Helen Mirren, defendendo com o comprometimento esperado papéis tão desafiadores.
Mesmo que Hitchcock apresente soluções insatisfatórias, o filme ao menos é infalível no que diz respeito à exposição de várias barreiras superadas por Hitch no lançamento de Psicose. A icônica cena do chuveiro é um exemplo. Foi por causa dela que veio a decisão de rodar todo o filme em preto e branco e velar a nudez de Janet Leigh foi um verdadeiro problema na ilha de edição. Se a intenção é compreender o desafio de lançar um filme ousado em uma sociedade conservadora, Hitchcock é um prato cheio.
Um Grande Momento:
Espiando a reação do público.
Links
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