- Gênero: Drama
- Criador: Javier Ambrossi, Javier Calvo
- Canal: Movistar Plus+
- Elenco: Macarena García, Roger Casamajor, Lola Dueñas, Ana Rujas, Carmen Machi, Alberto Pla
- Temporadas: 1
- Duração: 60 minutos
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Eu quero estar além de tudo, eu não pertenço a este mundo
Eu vou guardar a minha fé, pra não perder minha coroa
O som de um coro pop cristão viralizando com suas cores pop e seus movimentos repetitivos estabelece o tom de A Messias desde seu primeiro segundo. A série espanhola da dupla Los Javis, não quer ser documentário nem ficar no imaginário. Ela busca e encontra o fanatismo religioso que tem ares de ficção, mas é palpável e está em todos os lugares. Com este fanatismo há complexidades que vão além do discurso, ocupando corpo e, sem trocadilhos, alma. No presente está Enric, um homem traumatizado por uma infância assombrada pelo delírio messiânico da mãe. O passado dele surge por meio de um videoclipe gospel que se contrapõe a tudo ao seu redor, o grupo gospel com suas cinco irmãs, a música familiar e a neblina que não está só na imagem, mas dentro dele.
A narrativa se move entre culpa, perdão e redenção. A série beira o horror, mas não o o coloca como centro da trama. Religião e trauma estão ali quase sinônimos: Enric e sua irmã partem numa busca, cruzando aldeias e igrejas, atravessando o espaço como se pudessem resgatar as meninas da banda do destino que os moldou. É com suor, desconfiança e um nervosismo que explode em lágrimas silenciosas que a série constrói sua força. A música pop cristã vira fio de Ariadne e de cobiça, o caminho para o refúgio, e também para a armadilha.
Los Javis trabalham num território híbrido que mistura drama psicológico, thriller, drama e realismo mágico em A Messias. O fanatismo religioso não é exibido apenas como acusação ou pedestal, mas como conflito humano, como hábito que confina, como fuga e prisão. A câmera se aproxima do corpo, e o corpo se distancia do quadro. Há tensão no silêncio, no enquadramento que demora na curva da boca, no modo como a câmera permite ao ator sustentar a dor do passado sem recorrer a artifícios.
O cenário é outro personagem. A casa, o estúdio e a estrada seca têm textura, umidade, prece e ruína. No ritmo narrativo, a geografia se dilata, como nota musical que tem licença para respirar. Às vezes, a cadência se perde, os episódios trazem sequências que se alongam demais, arrastando o mistério. Porém, essas bordas também carregam o propósito de mostrar que a memória não tem pressa, e que o horror não tem pena de ninguém.
Em A Messias, há um eco de métodos que retorna como sobrevivência. Na família, a fé volta como opção à violência doméstica e a educação é mais cárcere do que afeto. A crença deixa de ser só palavra e o perdão nunca é pleno. A série se estabelece como contradição, como silêncio atravessado por canto, como resistência e introjetamento. O que se vê – e existe – fala de ciclos que não se fecham e se repetem indefinidamente. Uma jornada que deixa as questões em aberto, em relações que nunca se resolvem, porque esse tipo de intervenção é profunda e deixa traumas dos quais não se pode fugir.
Melhor episódio
T01E05: A Mulher Vestida de Sol