Crítica | Festival

Honeyland

(Honeyland, MKD, 2019)
Documentário
Direção: Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov
Roteiro: Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov
Duração: 89 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Assim como o cultivo do mel, esse filme documental exige tempo de maturação. Tempo para deixar a paixão pela vida de Hatidze que contagia, assim como sua resiliência, amainarem. Vencedor do prêmio de melhor documentário em Sundance e de mais duas categorias (uma delas chamada de filme com maior impacto e possibilidade de mudança) Honeyland é uma obra agridoce sobre a rotina de uma miserável apicultora que vive um uma região remota da Macedônia do Norte.

Absolutamente empática e otimista, Hatidze desperta a compaixão em quem assiste à sua história, filmada por Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov. Porém, os diretores se utilizam de um dispositivo tão crível quanto manipulativo para mergulhar na rotina da mulher, de cultivo das abelhas e cuidados com a mãe idosa que é abalada com a chegada da família de Turcos que se instala ao lado.

O tom observacional, etnográfico, logo adquire tonalidades semi ficcionais ao se aprofundar numa “estrutura de três atos”, com os conflitos da protagonista, que vê sua atividade ameaçada pela ganância e incompetência do pai da família turca e que relutantemente é auxiliado pelos filhos. Eles logo se apegam a Hatidze, que os ensina a viver em harmonia com a natureza e aproveitar a beleza que habita um favo de mel recém colhido.

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O que seria um documentário linear e referenciado no cinema direto, vai se tornando um drama cheio de tensão e suspense quando as abelhas dela morrem assassinadas pelas do vizinho. Hatidze, resiliente, logo vai em busca de outros espaços – alguns bem ermos – para depositar sua colméia. Em vão. As estações mudam, a ameaça se vai e o inverno chega, com ele, levando o colo da mãe. Ao fim da jornada audiovisual, vimos a heroína tão cheia de vida, vaidosa e comunicativa definhando. Orando pela chegada de uma caravana com um marido, para lhe tirar daquele lugar de dor desolação.

O arco dramático da terra do mel (a belíssima fotografia, que é o papel onde o filme vem embrulhado, trabalha uma paleta de cores douradas mesmo quando tudo se perde, o que de certa maneira provoca um incômodo) se completa com Hatidze abandonando seu lar e suas abelhas, partindo para o desconhecido. É um documentário autêntico ou um jogo de representação? A expiação da miséria e daquele modo de vida quase medieval?

É a vida realmente como ela é? Um documentário cultivado ao longo de três anos que arrebatou plateias e prêmios – além dos prêmios citados em Sundance, o da crítica para documentário internacional na Mostra de SP e a dupla indicação ao Oscar em melhor filme internacional e melhor documentário. Ainda assim, a experiência de vê-lo não é tão doce, carrega um certo fel. Que fosse menos Estamira ou A Pessoa É Para o Que Nasce e mais O Ato de Matar… Jean Rouch ou Varda tomariam o caminho trilhado pela dupla de realizadores? É esperar a colheita e o tempo para ver como esse filme vai existir.

Um Grande Momento:
Hatidze e suas abelhas tomando banho de sol.

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Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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