Crítica | Streaming e VoD

Hormônios à Flor da Pele

(Hammerharte Jungs, ALE, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Granz Henman
  • Roteiro: Alexander Dydyna
  • Elenco: Tobias Schäfer, Cosima Henman, Axel Stein, Diana Amft, Vivien König, Felix Bold, Samirah Breuer
  • Duração: 98 minutos

Pra encurtar a conversa, vamos direto às linhas gerais de Hormônios à Flor da Pele, infame estreia da Netflix: Charly e Paula são melhores amigos desde sempre e um dia um raio cai em suas cabeças, fazendo com que eles comecem a conversar com seus genitais. Sim, foi exatamente isso que você leu, um rapaz conversando com seu pênis e uma moça com a sua vagina, em uma produção pra lá de histérica. A primeira metade do filme é daqueles momentos onde pensamos “será que eu nunca fui adolescente?”, porque nada do que acontece em cena parece palatável, simpático ou mesmo engraçado. Na verdade, é uma prova de fogo conseguir avançar no filme, quando vamos observando situações cada vez mais patéticas acontecendo. A ponto de sentirmos saudades de qualquer American Pie.

Produção alemã dirigida por Granz Henman, um especialista em produções adolescentes – provavelmente todas desprovidas de bom gosto – Hormônios à Flor da Pele, precisamos admitir, em nenhum momento finge ser algo que não é. Ou seja, há honestidade inclusive no tratamento vulgar que é ambicionado a todo o tempo, como se fosse necessário ultrapassar alguns limites para ser divertido. Monotemático e superficial, o filme pinta um retrato coletivo sobre uma idade de conflitos, e equipara durante um bom tempo homens e mulheres, imaginando tratar-se uma espécie de empoderamento. Na verdade o que vemos é um homem adulto que não venceu uma idade do qual ele não faz mais parte, mas insiste em ler de maneira equivocada. 

Se há 20 anos atrás ele tinha escrito algo tão escalafobético quanto Formigas nas Calças, seu novo filme prova que ele não amadureceu, e talvez tenha até regredido alguns bons anos. Incomoda que o diretor e seu roteiro tenham concebido um universo onde todos só falam de relações sexuais ou de seus órgãos sexuais, abertamente. Em uma idade onde os hormônios do título estão aflorando e muitas vezes fazem contorcionismo para mostrar suas capacidades, o filme explicita uma situação que não é exatamente tão liberada assim. Ao tornar cada um de seus personagens em xerox uns dos outros, Hormônios à Flor da Pele tira sua individualidade e os transforma em marionetes cuja intenção é desumanizar as relações e suas particularidades. 

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A partir da metade, o filme começa a mostrar que suas qualidades são parcas, mas existem. É quando Hormônios à Flor da Pele deixa escapar uma reflexão a respeito das diferenças entre gêneros quando uma difamação sexual acontece, e como o machismo estrutural obriga homens e mulheres a se encaixar na mesma demanda opressora. Os meninos podem ter relações sexuais com quantas parceiras quiser, ele sempre será benquisto; as meninas estão do lado oposto, e serão xingadas a cada novo parceiro. Aí percebemos que o filme elabora essa ideia da exploração do prazer feminino, dessa colocação onde a mulher também tem direito a descobrir o próprio corpo, e empunhar uma voz de libertação sexual. 

O problema é que, por trás dessa ideia, temos um filme que se equivoca demais exatamente nessa dinâmica entre homem e mulher, além de especificamente não ser nem um pouco engraçado. Hormônios à Flor da Pele é um produto que abusa da vulgaridade, para depois de sua metade mostrar que tudo que vinha fazendo até então era um exagero compreendido; fica tarde para pedir desculpas. Pois bem, o espectador jovem até pode entreter-se com essas constantes repetições sobre sexo e afins, mas mesmo o jovem menos exigente percebe rápido que nada ali tem charme ou qualquer coisa que o valha. Com interpretações caricaturais e uma estrutura narrativa absolutamente repetitiva, esse não é um produto que me contemple, e prevejo que mesmo fazendo parte da mesma faixa etária, o excesso de grotesco pode afastar até mesmo sua faixa de público. 

Um grande momento

A cadeira desregulada que desce

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Roberto Szabunia
Roberto Szabunia
30/05/2023 09:18

Eu pensava que era só nas escolas secundárias norte-americanas que se aprendia estupidez… Os alemães imitam tudo: o popular, o nerd, a gostosa, a esquisita… Só muda o idioma (às vezes, nem isso).

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