Crítica | CinemaDestaque

Imaginário – Brinquedo Diabólico

Traumas pelo caminho

(Imaginary , EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Jeff Wadlow
  • Roteiro: Greg Erb, Jason Oremland, Jeff Wadlow
  • Elenco: DeWanda Wise, Taegen Burns, Pyper Braun, Betty Buckley, Tom Payne, Matthew Sato, Veronica Falcón
  • Duração: 100 minutos

A Blumhouse virou uma indústria dentro do cinema de terror estadunidense da atualidade. Com produções muito baratas, eles podem se dar ao luxo de produzir grandes sucessos ou mesmo medianos, porque o prejuízo é raro, ou quase inexistente. O esquema montado por Jason Blum não tem contra indicações, mas também não é infalível. Na verdade, a essa altura o haterismo, que atinge a Marvel, a A24, também já chegou entre eles. A diferença é que suas produções custam o troco do café, e aí o falatório não apaga os lucros, e eles seguem livres aproveitando os bem quistos, vide M3gan e O Telefone Preto. Com seu novo filme, Imaginário – Brinquedo Diabólico, as pedras já estão prontas para o arremesso, mas creio que existem pontos a serem aplaudidos aqui – mesmo que não seja na maior parte do tempo.

Existe um dado interessante na roda, que cabe tanto aqui quanto em Instinto Materno, que estreia semana que vem. Estamos falando de um filme de gênero onde o feminino não é apenas o protagonista, como o foco de discussão. Enquanto no filme de Benoit Delhomme tematicamente isso seja o cerne da questão, aqui em Imaginário – Brinquedo Diabólico não há um sublinhado pelo roteiro. Simplesmente as protagonistas do filme são mulheres, o personagem masculino mais óbvio sai de cena muito rapidamente e a sororidade é um palco natural de discussão aqui. No universo criado pelo diretor Jeff Wadlow (que só eu defendo demais por A Ilha da Fantasia), é através dessa cooperação contínua que o Mal tende a desaparecer. A mensagem, apesar de subliminar, é bastante clara.

No que concerne ao cinema de gênero onde Imaginário – Brinquedo Diabólico está inserido, existe sim imaginação da apresentação de sua premissa, com uma sequência de abertura muito acertada. A ideia de lidar com o medo indo até o cerne da questão, pegando nossas questões mais primárias, envolvendo a infância e o que seria a criação dos nossos temores, isso também é um acerto. Estamos diante de uma personagem principal que não superou seus dilemas, o que permite que eles continuem ganhando palco em sua vida. Não é uma ideia repleta de frescor, mas Wadlow cria uma boa ambientação para seu palco de traumas. O clímax, um pouco mais esticado do que deveria, também se apresenta como deve ser, um delírio infantil de horror que se repete, como tem de ser.

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Na seara do problemas, o filme extrapola sua duração com excessos desnecessários, como uma permanência além da conta de seu ponto principal, a partir do momento em que o filme abraça a fantasia. Se isso conversa com as intenções de manter os personagens envolvidos no lugar de trauma, também esgarça seus resultados. Porque não há exatamente o que ser feito durante bom tempo da narrativa que a situação se encontra ali. Então o material humano que deveria estar no enfoque principal, acaba passando adiante seus propósitos para focar em uma repetição vazia. Porque isso se encontra dentro do campo psicológico que o filme gostaria de apresentar, mas dessa forma o que é sua gênese (o horror) perde espaço para questões que não são bem desenvolvidas, só pinceladas.

Essas questões que o filme de maneira sutil coloca sobre a mesa nem estão em situação que defina uma nova camada de qualidade para o filme, nem amplificam a relação do espectador com o terror. No cômputo geral, acontece justamente desses elementos se atrapalharem e anularem, ao se unirem. Nem temos uma grande produção que estude os efeitos de acontecimentos traumáticos (embora ameace), nem estamos diante de um novo olhar para o terror, que ainda não tenha sido feito por um It, por exemplo. Além disso, Imaginário – Brinquedo Diabólico ainda não conta com profissionais femininas para ajudar na complexidade que falta à narrativa já apresentada no texto. Isso nem faz sentido com o que o filme comunica, parece uma falha que não foi corrigida – ou a tradicional visão masculina de que entende de tudo.

A partir da metade, Imaginário – Brinquedo Diabólico cria uma cisão entre a realidade vivida no hoje e um pesadelo subjetivo. Infelizmente, o que tem de interessante nessa premissa fica no papel, e o que acompanhamos como espectadores é um filme indeciso entre as muitas portas que poderia abrir. A resposta acertada nunca é “na dúvida, tente tudo”; Wadlow faz isso e despotencializa toda a empreitada. Na vontade de ser muitas coisas, faltou foco e inteligência para ser apenas uma delas, de maneira completa.

Um grande momento

A abertura

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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