Crítica | Outras metragens

In The Air Tonight

Quem conta um conto...

(In The Air Tonight, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Andrew Norman Wilson
  • Roteiro: Andrew Norman Wilson
  • Duração: 11 minutos

I can feel it coming in the air tonight

Não tem nada melhor do que uma boa lenda urbana para agitar o mundo da música. Uma história clássica é a de In The Air Tonight, de Phil Collins, que agora tem um filme para chamar de seu. Primeiro single solo do então baterista da banda Genesis, a música foi sucesso absoluto e até hoje é uma de suas mais conhecidas, mas no meio do caminho tinha um boato…

Well, if you told me you were drowning
I would not lend a hand
I’ve seen your face before my friend
But I don’t know if you know who I am

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Well, I was there and I saw what you did
I saw it with my own two eyes
So you can wipe off that grin, I know where you’ve been
It’s all been a pack of lies.

Phil estava falando do fim do casamento, mas alguém jurou que ele tinha testemunhado um afogamento com omissão de socorro. A história ganhou vida e, como toda lenda urbana, foi se aperfeiçoando, ganhando detalhes mais elaborados; já foi citada em rap do Eminem, episódios de séries e agora ganha uma versão bem completa com o curta de Andrew Norman Wilson.

I’ve been waiting for this moment all my life

O curta, uma divertida colagem de imagens e narração em off, brinca com o jogo imagem-palavra. De um lado, irrita os que acham que o cinema não deve se prestar a esse tipo de coisa, de outro, representa os que defendem que não há limites para a criação, seja ela do gênero que for, desde que haja elaboração. Por trás de In The Air Tonight, o diretor estabelece uma narrativa ancorada na mescla de fatos e imaginação. A estética acompanha a escolha, com imagens factuais entrecortadas por neons, glitches, neons e estáticas.

In The Air Tonight se aproveita dos absurdos, Wilson gosta deles. A que há de excesso na criação popular ele traz para o roteiro, o que há de repetitivo na criação musical ele traz para a concepção visual. Estranhamente, a fidelidade do diretor ao material que recebe acaba dando a ele a possibilidade de causar mais e assim chegar a um lugar que, até então era original, e talvez agrade muito mais.

Well I remember, I remember don’t worry
How could I ever forget, it’s the first time, the last time we ever met
But I know the reason why you keep your silence up, no you don’t fool me
The hurt doesn’t show; but the pain still grows
It’s no stranger to you or me

Quando opta por um caminho alternativo em In The Air Tonight, o diretor derruba não só toda a mítica por trás da história e os muitos contornos adquiridos com o passar do tempo, ele contesta justificativas emocionais do próprio criador. A obra passa a ter um outro sentido, a lenda se transforma e passa a ter um terceiro e introspectivo caminho, nada do que um ou outro disseram. É outra história, outra viagem…

Oh, lord…

Um grande momento
O encontro

[Sundance Film Festival 2021]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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