- Gênero: Terror
- Direção: Paco Plaza
- Roteiro: Paco Plaza, Jorge Guerricaechevarria
- Elenco: Aria Bedmar, Maru Valdivielso, Luisa Merelas, Chelo Vivares, Sara Roch, Olimpia Roch
- Duração: 88 minutos
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Paco Plaza com certeza não tem o prestígio de Alex de la Iglesias na sua terra natal, a Espanha. Mesmo que tenha criado um pequeno fenômeno por lá, chamado [REC], e ainda que tenha conseguido ser indicado a prêmios da Academia de Cinema deles sendo um diretor de gênero (por Verónica), segue tendo uma relevância à parte dentro do campo que lhe foi permitido. A estreia de Irmã Morte mostra que ele pode até achar que ainda precisa provar algo a alguém, mas seu nome já chegou a algum lugar, em apuro estético e no olhar para o que contar. Como os melhores diretores do terror – incluindo de la Iglesia – ele sabe que o gênero, para ser pulsante, precisa de elementos extraídos de uma certa normalidade para surtir o impacto necessário.
Mais uma vez, os transtornos e a marginalidade surgida a partir da guerra movimentam o cinema de gênero. Isso não está desde a abertura de Irmã Morte, mas serve para contextualizar o universo que será desenvolvido adiante, quando tivermos contato com o passado do cenário princípio, um convento transformado em internato educacional religioso. Existe um prólogo que vai contar a vida da protagonista do filme, Irmã Narcisa, na tenra infância, e esse momento é filmado não apenas em preto e branco como na janela mais curta possível, para emular uma filmagem antiga. Corta para um avanço de 10 anos, onde vemos a jovem noviça que um dia teve visões quando criança, criando uma mitificação local, chegando a esse local onde se desencadearão os eventos.
Plaza sabe criar belas simbologias visuais, como os hábitos brancos das irmãs sendo potencializados pelas paredes, igualmente brancas, violadas por tiros da guerra, além dos muitos signos em relação às associações ligadas à vigilância atreladas à religião. A intensa sensação de perseguição, os olhos que parecem saltar dos objetos, e essa própria questão envolvendo o olhar que é palco para tantas representações, no filme e fora dele. As formas com que a câmera segue os personagens, e inquire cada um deles a tentar extrair mais de suas histórias, de seus temores, é sempre elegante mas nunca perde o sentido de provocar as mais diferenciadas impressões. Irmã Morte não encerra suas colocações na narrativa, ou no olhar imagético, mas no diálogo estabelecido entre ambos.
Ao mesmo tempo, não se trata de uma produção fria e absolutamente conectada ao extra-campo, nada disso. Apesar de todo o verniz narrativo que emoldura de maneira delicada aquele espaço controlado, Irmã Morte funciona de maneira independente e não tenta criar subterfúgios para costurar propostas inexistentes. É uma ideia crescente, ancorada em um elenco excelente (Aria Bedmar faz sua estréia fora de séries de tv, em presença cênica formidável, assim como marcante também está Maru Valdivielso), em uma fotografia que nunca deixa de nos transportar para a atmosfera necessária, tensa e absolutamente crível dentro do aspecto de perigo que o filme constrói. Com isso, Plaza vai mostrando que entende tanto do gênero, que as costuras que ele faz com o mundo exterior parecem sempre coerentes.
É o que acontece quando entra de vez a temática de guerra em Irmã Morte. O terreno foi tão bem preparado, que nossa atenção passa a compreender que aquilo era possível e igualmente preciso ao que está sendo contado. Não há ambientação que sobre ao filme, mas sim o oposto – tudo parece ser acrescentado a um ambiente que é quase que de maneira exclusiva de viés feminino. Os homens em cena produzem violência e crime, que acabam respingando nas mulheres, que reproduzem as mesmas ações de violência e crime, como em um círculo vicioso de machismo estrutural. Acompanhar uma dupla de homens que compreende que tais dores podem gerar empatia em qualquer gênero, é outro dado de responsabilidade do filme, uma dessas pérolas que às vezes precisam ser descobertas.
Um grande momento
A confissão, e os olhos