Crítica | Festival

Irmandade da Sauna a Vapor

(Savvusanna sõsarad, EST, FRA, ISL, 2023)
Nota  
  • Gênero: Documentário
  • Direção: Anna Hints
  • Roteiro: Anna Hints
  • Duração: 89 minutos

Estar com as suas iguais em um espaço seguro. Falar sobre você e sobre a sua vida. Descobrir que as suas dores, impressões e experiências não são só suas. Ser acolhida. Na Estônia, Irmandade da Sauna a Vapor vai buscar uma das grandes tradições do país para falar sobre grupos de mulheres que se apoiam e se completam em longas e belas sessões de sororidade. Com uma câmera que percorre corpos suados de todas as formas e idades, no escuro das apertadas saunas, a diretora Anna Hints está atenta a tudo o que é dito.

Espaço e língua definem o escopo do documentário, mas sua universalidade é evidente. A questão do patriarcado e da estrutura heteronormativa não reconhece fronteiras. Ali se fala sobre as marcas deixadas pela imposição dos padrões de beleza, sobre as expectativas das mães, sobre homofobia e sobre envelhecer. A identificação com relatos de vidas, feitos por mulheres em diferentes fases de vida, faz com que aquelas que compartilham o momento dentro da sauna e as que testemunham o momento na tela se emocionem.

A questão geracional também se faz presente, não apenas na variedade das frequentadoras das saunas ou de suas histórias, mas no resgate que Hints faz de depoimentos em off, que reafirmam a importância da tradição e destacam a força da mulher. Uma força que se mostra sempre maior quando em comunhão, símbolo maior de Irmandade da Sauna a Vapor. O sentido tribal da experiência, com suas sessões de limpeza e fortificação do corpo/espírito com folhas, ou entoação de cânticos é potente.

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São muitos os depoimentos marcantes e que abalam aqueles que os escutam, em especial as mulheres e, embora todas saibam que o último deles chegaria em algum momento, nada prepara para sua crueldade. Uma crueldade que todas, de alguma maneira e, em alguma medida, conhecem. A vontade de acolher é transferida, transcende a tela. Situações como essa demonstram que para sobreviver nesse mundo é preciso muita força e, ao mesmo tempo, o quanto a comunhão é fundamental. 

Irmandade da Sauna a Vapor é um documentário marcante e encontra na tradição estoniana a representação de uma das maiores forças das mulheres, a união. Em suas conversas cotidianas, em seus desabafos, não está apenas a identificação, mas o acolhimento. É na coletividade, ao reconhecer traços compartilhados, que as singularidades se engrandecem. Afinal de contas, juntas somos mais fortes, sim.

Um grande momento
O último depoimento

[47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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