- Gênero: Drama, Comédia
- Direção: Eddie Sternberg
- Roteiro: Eddie Sternberg, Zak Klein
- Elenco: Ed Skrein, Leo Long, Eleanor Matsuura, Eoin Macken, Lorraine Ashbourne, Neil Stuke, Kurt Egyiawan
- Duração: 104 minutos
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Poucas coisas são melhores, dentro da cinefilia, do que não ter expectativa, não saber do que se trata uma obra, e simplesmente entrar puro em uma sessão. Já Fui Famoso estreia hoje na Netflix e foi assistido, previamente, sem saber nem qual era a nacionalidade da produção. Vindo do Reino Unido, o filme é descompromissado e carinhoso, com seus personagens e com o público. Repleto de uma intenção delicada em relação ao perdão próprio, acompanhamos um personagem que já está caído em desgraça há alguns anos, e é flagrado em situação-limite, sem qualquer perspectiva de futuro a curto prazo. Apesar de suas práticas nada usuais, Vince (ou Vinnie D) é um protagonista fácil de termos empatia, porque é claramente consumido por uma culpa que nem sabemos direito de onde vem.
Eddie Sternberg estreia na direção de longas com uma expansão de seu curta-metragem de mesmo título de 2015, onde a história era desenvolvida da mesma forma e com os protagonistas batizados da mesma forma. Mudaram os atores, mas a ideia permanece em cena, sobre a recuperação de um astro adolescente caído em desgraça, que 20 anos após o sucesso, se vê reconectado com um amor fraternal, originalmente perdido. É uma história que já vimos ser contada outras vezes, com as mesmas curvas de roteiro e flexionamentos nas mesmas direções. Até o encadeamento de cenas é esperado, não se pode prender a esse tipo de exigência para apreciar Já Fui Famoso, que tem a seu favor essa humildade de se perceber transitório, porém certeiro em seus pontos.
Muito se deve ao caráter descontraído que Sternberg dá ao seu ambiente. Apesar dos dramas aparentes que Vinnie enfrenta – e de outros menos expostos, e alguns que imaginamos e nem estão na tela – há leveza nessa trajetória. Vimos que há extrema falta de dinheiro e de futuro, que emocionalmente o protagonista lida com uma perda dolorosa, e que a culpa o consuma por várias frentes diferentes. Mas apesar do fardo, o cara lida com suas ausências de maneira a tentar reconstruir, sempre. Além disso, o filme tem uma energia solar e é impregnado de um cinza que não é deprimente, apenas define o personagem. Sua vitalidade é recuperada ao encontrar esse rapaz autista em uma praça, trazendo significado e uma possível projeção de futuro.
O carisma pessoal e a química que existe entre Ed Skrein (de Justiça Além do Sistema e Midway) e o músico neuro divergente Leo Long em sua estreia como ator, é o motivador de tanta afeição que exala de Já Fui Famoso. O encontro entre esse ex-líder de uma boy band de sucesso com esse rapaz autodidata da bateria é casual, mas tomado por muita potência emocional. Vinnie perdeu o irmão no passado, então Stevie é claramente uma tábua de salvação para eximi-lo da culpa de não ter podido se dedicar a quem era especial em sua vida. Ambos se complementam então de maneira quase absoluta – um precisa do afeto que o outro tem pra ofertar, e juntos ainda podem alavancar seus sonhos mais recônditos.
Costurando com humanidade as relações que entrecortam sua tentativa de retorno do mundo dos mortos intelectuais, Vinnie encontra Stevie, mas também reencontra a mãe, a memória do irmão, o parceiro de banda que venceu e encontra a pessoa mais importante, seu eu destruído. Parece tudo muito clichê e com a profundidade de um pires, mas a honestidade com que Já Fui Famoso utiliza sua narrativa para conectar-se com o público faz dele uma pedida na exata medida do sucesso. Tem algo de Mesmo se Nada der Certo aqui, na sua observação por uma última chance de alcançar seus objetivos e do encontro com essa chance em formato humano, mas a paisagem fraterna que permeia todo roteiro é o suficiente para emocionar (bastante) e transformar a sessão em bela pedida.
Um grande momento
Nadeera