- Gênero: Drama
- Direção: Thea Sharrock
- Roteiro: Frank Cottrell-Boyce
- Elenco: Bill Nighy, Micheal Ward, Valeria Golino, Kit Young, Callum Scott Howells, Robin Nazari, Tom Vaughan-Lawler, Susie Wokoma, Cristina Rodlo
- Duração: 120 minutos
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Filmes britânicos costumam ter uma forma adequada para serem produzidos, independente do tema em questão. Quando esse tema já também ele sozinho tem um modelo que todos seguem, essa ideia só se fortalece. Jogo Bonito chegou na Netflix e deve encher os olhos de todos os amantes de esportes, e de filmes esportivos, que sempre foram nichados mas só fazem aumentar seu grupo de admiradores. Esse filme especificamente no Brasil deve causar uma comoção diferenciada, já que estamos falando de um filme sobre futebol, que na alegria ou na tristeza, ainda é o esporte símbolo do país. Como estamos vindo de Taika Waititi ter lançado o desastroso Quem Fizer, Ganha há poucos meses, a facilidade com que esse filme ganhará admiradores será impressionante.
Não adianta falar que ele é melhor, porque um filme transfóbico como o de Waititi raramente será melhor que qualquer outra coisa. Mas a verdade é que Jogo Bonito ainda tem a seu favor pelo menos outra questão que vai tocar o espectador com certeza. Baseado em eventos reais, o filme mostra uma Copa do Mundo ainda meio desconhecida, por reunir a população sem teto de todo o mundo em uma proposta de reintegração e criação de oportunidades para quem não vê qualquer nova possibilidade de remissão. O roteiro escrito aqui é original, mas a troca de experiência entre os atletas gerou a base do que está sendo mostrado no filme, o que não demora a capturar o espectador mais sensível – ou qualquer pessoa que esteja em posse de um coração.
O filme é escrito e dirigido por duas figuras experientes. Na caneta, está Frank Cottrell-Boyce, autor dos textos de Caiu do Céu e Adeus, Christopher Robin, só pra citar apenas dois exemplos. Na cadeira de direção, Thea Sharrock já estreou na função nos presenteando com um vale de lágrimas de sucesso, Como Eu Era Antes de Você, e já volta aos cinemas no elogiado Pequenas Cartas Obscenas. Ambos tratam de entregar o produto mais britânico possível, e isso aqui quer dizer correto e emocionante. O trabalho no roteiro, no entanto, tem sim um diferencial, ao menos no que concerne a criação de seus dois protagonistas. O filme tenta respeitar a inteligência do espectador e não entrega todas as questões de lado, e no caso de Vinny em particular, Jogo Bonito praticamente chega ao final ainda prometendo todas as curvas dramáticas.
Como o trabalho de Sharrock segue o padrão habitual de produções da região, sobra para Cottrell-Boyce criar essas envergaduras em cada personagem em cena. Como as equipes que participam dessa Copa são formados por um grupo muito reduzido de participantes (1 técnico e 6 jogadores), Jogo Bonito consegue dar atenção a eles e também seu entorno. Como a divertida técnica da África da Sul, uma freira disposta a tudo para configurar o que ela já sabe, a supremacia de seu time. Ao menos um personagem, no entanto, merecia ter mais a fazer na produção, que é o Nathan interpretado por Callum Scott Howells, ainda que seu caminho narrativo seja muito coerente.
É o talento do roteirista aliado ao de seu intérprete, no entanto, que dão todo o destaque a Vinny. Micheal Ward já tinha demonstrado ao que veio em Império da Luz e aqui em Jogo Bonito continua a criar um portfólio impressionante de atuação, nos dando a certeza que a explosão virá a qualquer momento. Ele não faz a menor cerimônia de, com muita discrição, tomar o filme pra si com um personagem que é um poço de problemas, no melhor sentido. Em tempos onde um público cada vez menos paciente consegue distinguir qualidade de escrita de personagens complexos, e despreza os belíssimos protagonistas de Afire e Passagens simplesmente por não concordar com suas atitudes e suas personalidades, o Vinny de Ward vai ser igualmente pisoteado. Sinal de que o ator está em estado de graça e que a matéria-prima é de qualidade.
Infelizmente Jogo Bonito tem problemas de ritmo, ao não conseguir sequenciar seu material com coesão, não parece ter muita paciência para elencar uma competição de futebol na tela, e não consegue distribuir por toda sua extensão os momentos onde a dramaturgia cresce, concentrando os melhores momentos de maneira espaçada. Ainda assim, é uma produção que nos coloca de frente a empatia nossa de cada dia, ao escancarar a ideia de pessoas em situação de rua, e suas esferas particulares. Com o charme de Bill Nighy (recém indicado ao Oscar por Viver) intacto, temos uma produção que deve aquecer uma noite fria como as últimas têm sido.
Um grande momento
A desconexão de Nathan