Crítica | Streaming e VoDMostra de Tiradentes

Jonas

(Jonas, BRA, 2015)

Drama
Direção: Lô Politi
Elenco: Jesuíta Barbosa, Laura Neiva, Chay Suede, Paulo Américo, Ariclenes Barroso, Roberto Berindelli, João Fábio Cabral, Karol Conká, Ana Cecília Costa, Luciana Costa, Chris Couto, Criolo, Luam Marques, Tomas Rezende, Rincon Sapiência, Julio Silveira
Roteiro: Lô Politi, Élcio Verçosa
Duração: 90 min.
Nota: 3 ★★★☆☆☆☆☆☆☆

Em sua primeira experiência com cinema, Lô Politi tenta criar uma fábula de amor impossível com tons de tragédia de erros, ambientada em uma Vila Madalena de exclusões e onde classes sociais convivem, mas o resultado final deixa muito a desejar.

A história que conta é a de Jonas, um jovem que se enxerga como ser ético, sem considerar tudo o que faz de errado. “Praticamente da família” dos patrões de sua mãe, apaixona-se pela filha deles, Branca, ainda criança. O retorno da menina ao Brasil depois de uma temporada fora, na época do carnaval, faz com que a paixão reacenda dentro de Jonas, que vai procurá-la.

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Como em sua vida equivocada, Jonas enxerga sinais que não necessariamente condizem com aquilo que ele gostaria de ver e, depois de uma noite de bebedeira, vê sua vida virar de ponta cabeça. Em um surto psicótico, perde o rumo e se complica.

Apesar de um começo interessante, que trabalha bem com o desejo, criando um jogo de ansiedade e frustração constante entre o casal principal, a filhinha de mamãe de classe alta e o filho do mecânico chamado de príncipe pelos colegas de tráfico. Símbolos claros como estes explicitam a intenção de Politi em romantizar a relação, transformando-a em uma espécie moderna de conto de fadas.

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A ideia de filmar tudo por um viés diverso do esperado, mostrando o lado pobre da Vila Madalena, o barracão da escola de samba da série B do carnaval paulista Pérola Negra e o estacionamento dos carros alegóricos, é curiosa.

Mas a coisa se atrapalha muito depois da virada do filme. Após o acontecimento que muda a vida de Jonas, tudo o que acontece é apressado e quase aleatório. O filme se perde no roteiro, com vários e graves furos, Como eles chegam ao local onde a maior parte da trama acontece é um mistério, por exemplo; e o longa é mal decupado, com pequenas cenas rápidas, pouco eficientes, como todas aquelas muitas que acontecem na “baleia”.

Há ainda uma construção muito frágil dos personagens, que são abandonados a própria sorte no meio do filme. Falta a Jonas qualquer coisa que o associe a algo minimamente verossímil. A falta de algo que demonstre alguma mínima reação humana comum em dado momento não só incomoda, como faz com que os espectadores se desliguem do filme e só permaneçam na sala porque os coadjuvantes recebem mais atenção do que os protagonistas, e apareçam como personagens mais plausíveis, como Jander, Míriam ou o pai alcóolatra.

E a culpa é exclusivamente da criação dos personagens principais, já que Jesuíta Barbosa faz o que pode com o pouco que tem em mãos. Ao seu lado Laura Neiva, mais fraca do que o parceiro de cena, também não tem muito a apresentar, mas não compromete com o que tenta.

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Além disso, há um problema ético no filme difícil de ser superado. a relação de Jonas e Branca é fruto de uma relação abusiva, onde há vários elementos de violência que não podem ser ignorados. Ver isso na tela, filmado de forma romantizada, com direito a trilha sonora melosa e imagens de propaganda, e assinado por uma mulher, é terrível.

Segundo a diretora, em debate após o filme, a ideia não era filmar uma relação que derivasse de algo abusivo, já que Jonas e Branca tinham um outro nível de intimidade, por se conhecerem desde pequenos e terem confiança um no outro, além do ato em si ter sido consentido. A posição equivocada explica o que está no filme, mas não justifica. E, embora muitos vejam aqui mais um policiamento do politicamente correto, outros vão ficar profundamente indignados com o que verão. Não sem motivos.

Sobrevivendo a isso e a mais uma série de erros do protagonista, o espectador chega à conclusão, também estranha e mal executada, com alguns momentos pouco inspirados, como a chegada da polícia correndo como um destacamento militar que faz exercícios ou o excesso dos muitos efeitos visuais, que não conseguem impressionar.

No final das contas, Jonas parece uma espécie de fetiche de adolescente que conseguiu ser superado com a realização audiovisual, mas que é tão cheio de problemas e defeitos que não funciona como cinema. Além de fazer uma propaganda equivocada de algo que deveria ser combatido e não embelezado.

Um Grande Momento:
Se teve algum, se perdeu depois.

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Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=O4Ss2R5GQJE[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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