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Killer Joe – Matador de Aluguel

(Killer Joe, EUA, 2011)

Suspense
Direção: William Friedkin
Elenco: Matthew McConaughey, Emile Hirsch, Juno Temple, Thomas Haden Church, Gina Gershon, Marc Macaulay
Roteiro: Tracy Letts (peça e roteiro)
Duração: 102 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Dizer que um filme de William Friedkin é perturbador é chover no molhado. Quem teve chance de assistir a Operação França, O Exorcista ou Parceiros da Noite já sabe disso. Ele consegue chocar e intrigar o espectador. Embora tenha passado um tempo dirigindo coisas irrelevantes como Jade e A Árvore da Maldição, o diretor voltou à boa forma em seu último filme, o intrigante e esquizofrênico Possuídos, protagonizado por Michael Shannon e Ashley Judd e baseado em uma peça de Tracy Letts.

Em Killer Joe, Friedkin repete a parceria com o dramaturgo, este mais uma vez responsável pelo roteiro, e consegue superar qualquer expectativa ao escancarar a vida de uma família sem qualquer padrão de moral e com uma maneira muito particular de lidar com a afetividade. Completamente disfuncional e cheia de pessoas perdidas, a família Smith vive em um trailer e é composta por Chris, um traficante presunçoso que quer se dar bem em cima de todo mundo; seu pai Ansel, um homem com claras restrições cognitivas; a madrasta dissimulada Sharla, e a irmã caçula, Dottie, que surge com alguma doçura, mas vive alheia ao mundo.

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Os Smith se envolvem com Joe Cooper, um detetive policial que faz bicos como matador de aluguel, depois que Chris tem a ideia de matar a própria mãe e usar o dinheiro do seguro para se livrar de uma dívida que pode matá-lo. Com o apoio de toda a família, ele só precisa convencer o profissional a receber o dinheiro depois da execução, já que agora eles não tem como pagar o preço pedido. Killer Joe aceita, desde que receba como caução a virgem Dottie, o que a família de pronto aceita.

As relações são tão absurdas e tão contaminadas de interesses escusos e exageros que, de uma maneira estranha, funcionam perfeitamente bem. É chocante ver como aquela “estrutura” familiar depois de um tempo começa a fazer sentido, ainda que despertando algum repúdio, e a fluir tranquilamente até atingir o ápice em um terceiro ato chocante, urgente e não menos exagerado, no melhor sentido da palavra.

A mescla precisa de suspense e humor negro, os cortes conscientes, doses constantes e calculadas de violência e sexo e até a liberdade na interpretação dos atores são fundamentais para que tudo funcione como esperado e provoque o espectador. Friendkin sabe como fazer e conta com a preciosa ajuda de Caleb Deschanel na fotografia. Atentem para o que os dois fazem juntos na cena da tão falada coxinha de frango. É incrível.

O roteiro é fundamental e, mesmo em sua busca pela exposição da violência de todos os seres humanos, não perde nenhuma chance de trazer alguma graça (às vezes genuína, às vezes contrangida) ao caos.

As atuações também são responsáveis pelo resultado crível. Matthew McConaghey, depois de tantas comédias românticas, surpreende na pele do assassino de aluguel do título em toda sua contenção e psicopatia. Também estão bem Emile Hirsch, como Chris, e Juno Temple, que aqui aparece infantilizada para viver Dottie, mas o filme é da dupla de veteranos Thomas Haden Church e Gina Gershon. Ele é o dono de todas as cenas em que aparece com seu olhar abobado e aquela expressão de “acho que consegui entender a primeira parte” quando todo mundo já está esquecendo o que ouviu. Ela tem dois grandes momentos, um mais afetivo e outro angustiante ao extremo e convence como até hoje talvez não tenha conseguido nenhuma vez.

Tanto equilibrio, tantos acertos e, claro, os muitos momentos de repulsa fazem com que o filme fique na cabeça do espectador por algum tempo. A digestão de todo o absurdo visto na tela não é rápida, nem fácil e talvez irrite aos mais sensíveis, mas é impossível não notar toda a qualidade do filme. Porque por fora pode ser exagerado, doentio e irreal e pode ser o Texas e seus branquelos de cérebro atrofiado, mas no fundo, no fundo, é todo ser humano e é isso que perturba. No melhor estilo William Friedkin de perturbar.

Um Grande Momento:
KFC.

Killer-Joe

Links

IMDb Site Oficial [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Smy4AvMqaQA[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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