- Gênero: Drama
- Direção: Pedro Wallace
- Roteiro: Pedro Wallace
- Elenco: Marina Merlino, Ailín Salas
- Duração: 75 minutos
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O que poderia unir mais duas mulheres do que a empatia de estar simultaneamente grávidas? Las Preñadas é uma das atrações do Cine BH 2023, e é também uma das produções mais curiosas do evento. Isso tudo porque o filme fala sobre o feminino ininterruptamente e é dirigido e escrito por um homem, Pedro Wallace, e é uma coprodução da Argentina com o Brasil, mostrando-se um filme híbrido de muitas maneiras. Com esse título em específico, não faz muito sentido entender o que foi representativo e o que não foi no lugar de fala, porque estamos diante de uma produção que, socialmente, o que está sendo dito ali faz muito mais sentido diante do que está sendo jogado na roda de conversa.
Onde poderiam existir um maior número de profissionais encabeçando áreas chave da produção, vemos apenas a montadora e uma das produtoras executivas nesse lugar. Falar que é pouco a essa altura não muda nada, no sentido mais representativo da coisa toda. Ainda que tenhamos consciência de que o filme tem inclusão para onde se olha, não é o mesmo que obter trabalho e lugar de fala a quem precisa ter. O resultado disso é que Las Preñadas é um bom filme que precisa ser contado, mas que não dá qualquer sossego a suas protagonistas. Expostas à violência da primeira à última cena, de muitas ordens, Carmela e Juana não se portam como vítimas em potencial, mas o filme as leva para tal lugar.
Não há um momento onde as personagens não estejam, direta ou indiretamente, sofrendo ou buscando uma saída em meio ao perigo, sem sinal de refresco, ainda que no horizonte. Ambas muito jovens e já mães anteriormente, vivem uma vida de provações com dois maridos que têm perfis diferentes de machismo, mas que nenhum dos dois percebe-se assim. Apesar de ser uma leitura óbvia e até corriqueira daquela situação, que reflete muitas histórias desconhecidas por aí, estamos falando de uma obra audiovisual, onde outros elementos precisam conectar-se. Não estamos diante de uma surpresa do que é mostrado; apreensivos, seguimos tentando mostrar o quanto de misoginia vai sendo costurado em diversos momentos de Las Preñadas.
E não estou falando do que o filme trata, mas de como o filme trata. Não é apenas filmar o horror, mas ser terminantemente contra esse horror. Quando você coloca duas mulheres grávidas no centro de uma narrativa, você está universalizando uma ideia natural. Carmela e Juana estão no centro de muitos planos de Las Preñadas, garantindo que suas imagens não tenham correspondência fora da imagem. O que as cerca não entrecruzam leveza a elas; essa categoria está mais no filme sim, mas ela não alcança suas propostas. As mocinhas da trama sofrem aquelas pequenas violências diárias, e o filme não as encerra ali, mas sim como pessoas de poder decisório sobre o próprio corpo e as decisões que acarretam a ele.
Essa violência que as persegue acaba sendo também cometida pelo filme, que se sustenta em cima de um trabalho de parto que pode acontecer a qualquer momento. O resultado para o que é o centro nervoso do projeto é frustrante, como se o filme traísse alguma diretriz que ele mesmo desenvolveu. Acompanhamos uma trajetória cheia de acidentes, e que ao fim e ao cabo de Las Preñadas se apresenta como em um campo de traição. Se a amizade se fortalece, e a sororidade passa a ser a última saída para a salvação, seria de inteligente que o filme as libertasse vez por outra; lembro das raras risadas em A Vida Invisível, apesar de sua dureza. Esse é o tipo do projeto que por mais bem sucedido que seja em sua direção, não difere no resultado final, já que por quase 1 hora e meia não tenhamos a clareza de uma chance de recomeço.
Um grande momento
O cachorro