- Gênero: Aventura, Infantil
- Direção: Dean Fleicher Camp
- Roteiro: Chris Kekaniokalani Bright, Mike Van Waes
- Elenco: Maia Kealoha, Sydney Agudong, Chris Sanders, Zach Galifianakis, Billy Magnussen, Courtney B. Vance, Amy Hill, Kaipo Dudoit, Tia Carrere, Jason Scott Lee, Hannah Waddingham
- Duração: 105 minutos
-
Veja online:
Antes de mais nada, preciso confessar algo que pode soar como heresia para muitos: não tenho qualquer relação afetiva com a animação Lilo & Stitch, dirigida por Chris Sanders e Dean DeBlois em 2002. Os 23 anos que nos separam do lançamento original criaram uma mitificação em torno de um dos personagens protagonistas, mas esse movimento foi construído bem depois do lançamento. Com arrecadação de 270 milhões de dólares no mundo, o filme original foi um sucesso sem dúvida, mas nada astronômico nem para os padrões da época. O tempo passou e Stitch ganhou a notoriedade que hoje entendemos, e nem foi estranho que surgisse o interesse para que esse live action fosse produzido. Agora, o lançamento de Lilo & Stitch confirma o que já sabíamos: esse tal alienígena peludo é mesmo um colosso de carisma, e de arrecadação.
O rolo compressor que se forma para a arrecadação do filme não é condizente, no entanto, com o que o mesmo transmite, cinematograficamente falando. Lilo & Stitch é um filme infantil em todos os seus aspectos, e quando falo isso não é tentando tirar o brilho de qualquer produção, mas entendendo que o filme tem intenções modestas a compartilhar. Pendurado nas cenas que o original já trazia, existe pouca invenção na fórmula que a Disney concebeu para suas adaptações de live action, e quando elas aconteceram, teve a ver com a autoralidade de sua direção (como exemplo, Tim Burton em Dumbo). Comandada pelos conglomerados de engravatados, as decisões em projetos assim geralmente se resumem a uma tradicional repetição de imagens e lugares já projetados em animação.
Se essa é uma opinião cuja nostalgia não se faz presente, também se trata de um olhar menos inocente para a promoção da obra. O que está sendo analisado (e assim deveria ser sempre) é o título em questão sem julgamento de valor prévio, para o bem ou para o mal. O que resta então é um filme feito para cumprir uma tabela anual de congraçamento em um mesmo espaço para pais e filhos, sem exercício de valoração. Um arsenal visual pouco inspirado, e fixado nas gags visuais e cômicas que o original já fornecia de inspiração; dentro desse quadro dividido entre o humor óbvio causado trilha e a fisicalidade de cada ator. Porém falta capricho estético em Lilo & Stitch, que parece só interessado em realocar as imagens reais acrescidas de um personagem de CGI.
A começar pela sequência inicial, onde tudo parece um derivado nada inspirado da própria animação, em um formato que faz recordar a adaptação de O Rei Leão. Dez minutos depois, enfim temos a conexão entre efeitos especiais e atores reais, que são essencialmente bons – principalmente a dupla formada por Zach Galifianakis e Billy Magnussen. São eles que conseguem tirar o formato da zona esperada onde mesmo a fofura parece programada, e os acessos delicados encantam menos do que deveriam. Lilo & Stitch é um produto para onde olhamos, como raramente a Disney tem conseguido deixar de ser, e a prova dessa questão é a existência do filme, que visa comercializar ainda mais a imagem estabelecida de sua figura central.
A direção de Dean Fleischer Camp é outra dessas evidências que marcam seu caráter. Responsável por Marcel, a Concha de Sapatos que foi indicado ao Oscar recentemente, Camp foi chamado para conseguir o prestígio necessário ao projeto, e no entanto não tem a voz adequada para conseguir qualquer autonomia no que vemos. Apenas trata-se de um replicador das ordens de uma força superior, que está na cadeira certa para receber o pagamento pelo que fez, sem maior alteração. A fortuna incalculável que o filme irá arrecadar deveria ser suficiente para outorgar ao seu autor uma disposição superior a um próximo projeto, com carga autoral verdadeira. Mas conseguimos vê-lo transformar-se em mais um burocrata chefiado por um grande estúdio, ao ceder tão rapidamente ao chamado do dinheiro.
A essência da mensagem está mantida, ao menos. A capacidade de união entre quem parece menor diante do todo social, o empoderamento feminino em tempos afirmativos, a maneira como seus canais afetivos são distribuídos de maneira efetiva entre os personagens, a comunicação com Lilo & Stitch é fácil de alcançar. Sem maiores cobranças, podemos acessar alguma sensibilidade na maneira como o filme controla seus personagens e os conecta de maneira irremediável. Não dá pra negar que seus atores são encantadores em sua única função, que é a de reproduzir essa sensação de 23 anos atrás. Nada inesquecível, vale a diversão infantil e a lágrima que insiste em rolar no final da projeção.
Um grande momento
Stitch destrói a casa de Lilo