Drama
Direção: Garth Davis
Elenco: Sunny Pawar, Dev Patel, Nicole Kidman, David Wenham, Abhishek Bharate, Priyanka Bose, Divian Ladwa
Roteiro: Luke Davis
Duração: 118 min.
Nota: 8
A Índia é o segundo país mais populoso do mundo. Apenas ela e a China possuem uma quantidade de habitantes que ultrapassa a casa do bilhão de pessoas. A China tem cerca de 1,3 bilhão de habitantes e a Índia, 1,2 bilhão. Se pararmos para pensar que a população mundial é composta de aproximadamente 7,3 bilhões de pessoas, nem é necessário fazer conta para termos a dimensão da quantidade de pessoas que moram nesses países.
A China é, atualmente, uma das maiores potências econômicas. Já a Índia, segundo relatórios da ONU, é um país que concentra 1/3 da pobreza extrema mundial e que também tem um índice de 80 mil crianças desaparecidas por ano. Há cerca de 30 anos, uma criança chamada Saroo passou a fazer parte desta triste estatística. Porém, diferentemente de tantas outras, a história de Saroo virou um livro que ganhou adaptação para as telas do cinema com o filme Lion: Uma Jornada Para Casa.
Saroo (Sunny Pawar) é um garoto de cinco anos que vive acompanhando seu irmão mais velho Guddu (Abhishek Bharate) pelas ruas do povoado onde moram. Eles saem em busca de comida e alguns trocados para ajudar a mãe, que trabalha carregando pedras. Em uma saída noturna, Saroo se perde de Guddu e vai parar em Calcutá, uma cidade bem distante de onde viviam. A partir daí, Saroo passa a viver nas ruas, tentando encontrar o caminho de volta para casa. Mesmo após duas décadas, já levando uma vida confortável, proporcionada pelos pais adotivos Sue e John Brierley (Nicole Kidman e David Wenham), o desejo de encontrar o caminho de volta permaneceu em Saroo.
A vida do indiano Saroo é daquelas histórias praticamente prontas para serem contadas através do cinema. A missão de transpô-la para a tela grande coube ao australiano Garth Davis. Mesmo estreando em direção de longas-metragens, Garth Davis faz de Lion: Uma Jornada para Casa um dos melhores filmes do ano. A história é basicamente dividida entre a época em que o jovem Saroo vive abandonado após se perder do irmão e os anos em que Saroo, já adulto (interpretado por Dev Patel), começa a pesquisar pela sua antiga casa.
Lion tem vários acertos. Um deles é a ótima fotografia, principalmente quando a Índia é retratada no filme. Outro ponto positivo é o uso do enquadramento, captando a emoção dos personagens nos momentos chaves da história. Aliás, falando sobre estes momentos, é interessante como o diretor é hábil o suficiente para não deixar a narrativa pesada demais. O drama é dosado na medida certa, mesmo nos momentos mais propícios a lágrimas.
Junte-se a estes acertos uma boa trilha sonora e um elenco afinado, e fica simples entender o porquê de Lion ter recebido seis indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia, Melhor Ator Coadjuvante para Dev Patel e Melhor Atriz Coadjuvante para Nicole Kidman. A indicação de Kidman é pelo papel de Sue Brierley, mãe adotiva de Saroo, uma mulher que encontrou a cura para algumas feridas do passado na adoção. Os momentos em que ela interage com Saroo e Mantosh (seu outro filho adotivo) são repletos de delicadeza. Dev Patel interpreta um Saroo consumido pela culpa de ter se perdido da família e a inquietude que carrega acaba gerando conflitos em casa e com sua namorada Lucy (Rooney Mara).
Apesar das competentes atuações de Dev Patel e Nicole Kidman, o grande nome do filme é o ator mirim Sunny Pawar. Sua escolha para interpretar o papel principal em Lion foi muito feliz e, talvez, todos os outros acertos do filme não fossem suficientes para garantir o seu sucesso, caso sua interpretação não fosse tão encantadora. Alma do filme, Pawar transmite no olhar todo o sentimento reprimido de Saroo ao se ver sozinho em uma cidade gigantesca, barulhenta e cheia de pessoas. Por saber que o trabalho de direção de crianças não é um simples, destaque-se, mais uma vez, aqui, o mérito do diretor.
Lion: Uma Jornada para Casa é sobre os diferentes vínculos que unem os seres humanos. Apesar de não aprofundar alguns conflitos existentes na trama e preferir contar a história sem correr riscos, apostando numa fórmula que agrada a todos os públicos, é um filme bem realizado e com uma inegável capacidade de se fazer envolver e emocionar.
Um Grande Momento:
O reencontro.
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