- Gênero: Horror, Romance
- Direção: Matheus Marchetti
- Roteiro: Matheus Marchetti
- Elenco: Giuliano Garutti, Lucas Bocalon, Henrique Natálio, Gabriel Muglia, Julio Mourão, Matheus Marchetti, Tuna Dwek
- Duração: 80 minutos
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Matheus Marchetti é um diretor conhecido ou não? Taí uma questão subjetiva. O cineasta de Verão Fantasma e As Núpcias de Drácula ainda não teve um longa-metragem lançado em circuito nacional, seus filmes não alcançam a competição de grandes festivais nacionais, e seus filmes ocupam um nicho tão específico dentro do cinema que seu nome é quase único no que faz. No entanto, a cinefilia que nasceu na internet (e que procria diariamente) o tem como um totem, mesmo tão jovem – 30 anos! – e com uma filmografia ao mesmo tempo curta, mas já contando com 9 títulos em 12 anos de carreira. Essa visibilidade, que já não é tão restrita nos círculos de cinema independente, deve mudar radicalmente em 2026, quando finalmente ele fará sua estreia nas salas comerciais com Labirinto dos Garotos Perdidos, que ele está lançando na Mostra SP.
O filme é um desdobramento natural de uma filmografia que assumidamente coloca em comunicação o horror, a fantasia, a fábula e o universo LGBTQIAPN+. Quando esses registros se encontram, Marchetti parece investigar muito bem entre as suas referências o que cabe em uma produção brasileira, ainda que seu olhar abarque muitas intenções, e sua bagagem inclua o mundo inteiro. Mas o autor consegue acertar sempre na maneira como essa comunicação é feita para chegar ao público daqui e não encontrar entrave de linguagem ou associação. A chegada desse novo Labirinto dos Garotos Perdidos não só deve ser comemorado pelo que é, mas também por demonstrar a ascensão de maturidade de um nome que ainda exala juventude, mas que não parece querer diversão pura e simples – não somente.
Ao mesmo tempo em que investe em uma série de subgêneros do horror (das imagens iniciais que remetem frontalmente ao giallo, passando pelo horror do serial killer mais tradicional, entre outros), o filme é uma investida acertada na seara queer contemporânea, ao acessar o lugar do medo disseminado entre o grupo de possíveis ataques psicóticos que vez por outra assolam a cena. Marchetti nos carrega para conhecer um jovem recém chegado do interior ao desbunde que é São Paulo para um jovem gay – bom, para um gay de qualquer idade, eu diria. Mas o que pega em Labirinto dos Garotos Perdidos narrativamente é a sua possibilidade de leitura múltipla, seja no campo social, no campo individual, no campo do cinema de gênero ou mesmo a partir de um ponto de vista acerca do lugar no mundo de tais personagens, hoje.
Mais de 10 anos depois do lançamento de Um Estranho no Lago, o que mudou na percepção do homem gay do nosso tempo? Pouco, ou quase nada. E quais os motivos pelo qual citei o grande filme de Alain Guiraudie aqui? A moral de história apresentada pelo cineasta francês em 2012, a respeito da melancolia e carência dentro do universo gay masculino, é tão uma linha de construção natural entre nós, que sempre é uma opção se deixar levar pelo risco, se houver a oportunidade de encontrar o amor – o puro, não a sacanagem performática. Assim como outras produções após ele, Labirinto dos Garotos Perdidos não está errado em se valer desse lugar, porque ele é real. Miguel, ao se ver diante da possibilidade do amor romântico se concretizar, ainda que em seu subconsciente buscando por tal, ele se coloca à disposição do perigo.
São flertes que transformam a capital paulistana em um lugar transitório entre o onírico e o ameaçador, e esses dois elementos nem sempre andam separados ou dissociados um do outro. Com absoluto domínio do lugar onde pretende chegar, que abraça o artificial para construir uma realidade de Cinema, Marchetti se mostra um exímio criador de atmosfera, construída em uma estrada que une o verossímil e o bom gosto estético. Labirinto dos Garotos Perdidos é, subjetivamente falando, uma produção de comunicação mais fina com o público retratado, porque vai reconhecer com facilidade as ausências que levam ao tal lugar, a falta de coragem que mostra determinada insegurança. Dito isso, não se trata de uma produção restritiva em seu tema, e é nesse momento que Marchetti resolve mostrar uma linguagem mais ampla de conversas, incluindo até uma dose de comicidade muito bem-vinda.
Além de criar um ambiente propício tanto para o apavoramento quanto para o encanto entre jovens em busca de um encontro romântico (e, porque não, sexo oral também), Marchetti é exímio criador de set pieces, embarcando o espectador em um filme verdadeiramente bonito, com vigor estético e sem parecer excessivo. Sem deixar de divertir, Labirinto dos Garotos Perdidos é um daqueles momentos do cinema onde sentimos ter encontrado algo único, o que é até normal em uma mostra de cinema. Mas a descoberta aqui não está necessariamente no título, que já estava muito aguardado, mas na comprovação do talento encorpado de seu diretor, sob o qual já devemos guardar imensa expectativa.
Um grande momento
O encontro de Miguel e Fernando no IMS


