- Gênero: Comédia
- Direção: Nisha Ganatra
- Roteiro: Jordan Weiss, Elyse Hollander
- Elenco: Jamie Lee Curtis, Lindsay Lohan, Julia Butters, Sophia Hammons, Mark Harmon, Manny Jacinto, Chad Michael Murray, Rosalind Chao
- Duração: 110 minutos
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Nos últimos anos os textos críticos que falam sobre a invasão da nostalgia nas produções de cinema (no nosso caso, sejam estadunidenses ou brasileiras) chegaram a um ponto de exaustão que tornou impossível voltar ao assunto, sem soar redundante. Paralelo a isso, filmes como Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda, ou melhor, imbuídos dos mesmos desejos e ambições, continuam sendo produzidos. A verdade, no entanto, é que o “fantasma das continuações” e congêneres sempre existiu. O espectador é um ser propenso ao conforto, às emoções reprisadas, ao comparativo de outros títulos, então se as bilheterias hoje correspondem quando essas situações forem acionadas, não é muito diferente do fim dos anos 80, quando a Universal produziu De Volta para o Futuro II e III em sequência. Talvez hoje isso seja a única forma de conseguir acessar o espectador, e a diferença talvez seja essa.
Seja como for, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda consegue reproduzir algo que tais títulos nem sempre (ou melhor, muito raramente) estão conseguindo reproduzir, que é a nossa memória afetiva mais profunda. Uma conexão real com o passado, como se fôssemos o crítico gastronômico ao fim de Ratatouille; o que está em jogo na audiência aqui é a volta no tempo não apenas 22 anos atrás, mas a um tempo onde a inocência era a arma da conquista. Não podemos negar inclusive que o próprio Sexta-Feira Muito Louca era remake de um original Um Dia Muito Louco, protagonizado por uma Jodie Foster adolescente. No meio disso tudo, o nosso melhor pedaço de passado reflete nas emoções genuínas que um típico produto Disney consegue produzir, em seus melhores momentos.
A continuação é assumida por uma mulher experiente da comédia, Nisha Ganatra. Canadense de ascendência indiana, ela tem pelo menos um filme marcante no currículo, o delicioso Talk Show, protagonizado por Emma Thompson. Ao assumir a cadeira de Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda, Ganatra carrega para a produção algo além do humor que já era presente nas obras anteriores, como também escala para jogo essa ideia de proximidade entre espectador e o que está sendo contado de maneira bastante envolvente. É necessário deixar claro que não há nada de muito surpreendente acontecendo aqui, a não ser uma mal disfarçada questão feminista que não une mais apenas mãe e filha, mas futuras irmãs de criação; é o molho precisamente contemporâneo para o que é construído às margens do afeto.
Se não há apuro estético ou uma visão sofisticada na direção, especificamente nesse caso, isso não pode ser encarado como um problema no resultado visível. Porque assim como as obras que lhe deu origem, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda não almeja esse lugar. A amplitude que o filme alcança não se resume ao que sua diretora poderia contribuir a respeito de autoralidade, mas em como agregar nesse trabalho a comédia que muitas vezes pede uma fisicalidade, e o emocional que vaza da narrativa. Com destreza, o filme consegue corresponder às expectativas do mercado, de que a comédia está de volta nos primeiros lugares, como em Corra que a Polícia Vem Aí e Um Maluco no Golfe 2.
Nenhum resgate, no entanto, é maior do que a reunião entre Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan, em posições opostas ao lado do primeiro filme. Isso foi a explosão em revelação de Lohan até seu retorno de um período de escândalos, do lugar em Hollywood que Curtis era colocada como suplente, até se transformar em uma vencedora do Oscar. A química entre ambas continua intacta, e o carinho que salta na frente das câmeras, isso acrescido ao resto de um elenco sempre se divertindo, e temos um filme que nos convida para o jogo também. É raro que percebamos o comportamento da própria natureza cinematográfica de excluir o público para o jogo cênico, e aqui acontece da festa proposta por Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda ser democrática e agradar quem está do lado de lá da câmera, mas também entre quem assiste.
É o componente que faltava para organizar a adesão final, compreender a importância de incluir quem assiste à festa prestes a acontecer. Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda é uma produção modesta de feitos, mas repleta desse artigo de luxo onde poucos títulos sequer pensam em chegar nos dias de hoje, que é um sentido de importância e gratidão para quem os filmes são feitos. O espectador se sente embalado não apenas pelas piadas e ideias que brotam em cena, mas por um sentimento deslocado no tempo para quem já viveu outras épocas. Com isso, acaba por entreter tanto os jovens de 1976, quanto os de 2003 e os de 2025, e nesse sentido compreender o que marca nos dias de hoje, e o que motiva os comentários e o bem querer de quem o assiste.
Um grande momento
A loja de discos