Crítica | Cinema

Mafia Mamma – De Repente Criminosa

Criminosos aquém

(Mafia Mamma, EUA, ITA, RUN, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Policial
  • Direção: Catherine Hardwicke
  • Roteiro: Amanda Sthers, J. Michael Feldman, Debbie Jhoon
  • Elenco: Toni Collette, Monica Bellucci, Sophia Nomvete, Francesco Mastroianni, Alfonso Perugini, Eduardo Scarpetta, Tim Daish, Tommy Rodger, Alessandro Bressanelo
  • Duração: 96 minutos

Sabem um daqueles projetos que tinham tudo de mais promissor pela união de tema e envolvidos? Mafia Mamma – De Repente Criminosa se encaixaria nesse escaninho com alguma sobra. Não porque falamos do melhor diretor, com o melhor roteiro e o elenco dos sonhos envolvidos, mas com elementos particulares de cada um desses campos. A soma desses fatores soava potencialmente interessantes, capazes de abrigar uma diversão com alguma inteligência, dedicada a um público adulto sem parecer idiotizante. O resultado, no entanto, destoa das expectativas ao manter o campo de ambição mais baixo do que o imaginado, e oferecer em retorno algo bem abaixo do que poderia ter sido apresentado. 

Bem mais modesto do que poderíamos supor, Mafia Mamma – De Repente Criminosa é uma comédia que, sim, é destinada a um público adulto, mas que não compreende o seu espectador como um dia o fizeram coisas como Tootsie ou Uma Secretária de Futuro. Ok, esqueçam o nível elevado dos filmes de Sydney Pollack e Mike Nichols e foquem no tratamento dado a uma espécie de subestimação ao amadurecimento de um público que, cada vez mais, exige menos. Mas o que vem antes, a preguiça coletiva da indústria ou essa infantilidade dos adultos? Parecem ambos se encontrar nessa busca ininterrupta por espécimes cada vez menos arriscados, e que encontram uma ideia inspirada como essa, e a resumem até se tornar inofensiva. 

O filme poderia ser uma alternativa a paródias adultas de filmes sobre a máfia de impacto diluído, como Um Novato na Máfia ou Mickey Olhos Azuis, mas acaba se saindo com as mesmas características que os outros. Os filmes passam a abraçar uma doçura que conversa pouco com seu pano de fundo, e por isso me confundo. Talvez aqui tenhamos um contato com a violência de maneira mais explícita, o que leva o filme para um lugar de interesse genuíno – afinal, Hollywood praticamente vem abolindo o uso da fatalidade de maneira frontal. Mafia Mamma não sofre com esse tipo de imaturidade do mercado; o filme é ciente de sua destemperança e age de maneira apropriada com a mesma. Esse é o momento onde o título apresenta maturidade e independência, ao apostar não apenas no definitivo, como principalmente em como mostrar isso, o que aqui significa riqueza de detalhes quando possível e uso do sangue de maneira generosa. 

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Catherine Hardwicke, diretora do bonito Aos Treze, caiu em desgraça ao dirigir o primeiro Crepúsculo e desde então vêm se esforçando ao máximo em diferenciar sua carreira, conseguir oportunidades que a tragam de volta ao status de outrora, e que demonstre o talento que ela já apresentou. Ainda não será em Mafia Mamma – De Repente Criminosa que veremos essa recuperação completa, mas é louvável observar o quão diversificada vai se tornando sua carreira, ainda que falte personalidade, muitas vezes. Mesmo aqui, o que presenciamos é uma comédia que lida melhor com a violência que com o sexo, debruçada em uma atriz que eleva cada frase que sai de sua boca, e muitas vezes eleva o material que o elenco recebeu. 

Toni Collette, que tinha trabalhado com Hardwicke em Já Estou com Saudades, é âncora onde o filme se apoia. De dentro da atriz parecem existir muitas formas de defender uma ideia, mas ela sempre encontra a mais especial e adequada para existir. Mafia Mamma – De Repente Criminosa explora poucos os conflitos gerados, todas as decisões são tomadas por uma conveniência e a rapidez de quem precisa de mais espaço no circuito. Mesmo assim, ter a sua disposição alguém do nível da indicada ao Oscar por O Sexto Sentido melhora muito o quadro final; com o melhor timing possível, dominando os códigos de interpretação dessa mulher específica, a atriz sai de uma zona de conforto na direção da comédia mais aberta. O que deve tranquilizar é o fato de que Collette praticamente domina todas as áreas onde se envolve. 

Um grande momento

Mulher solteira procura…

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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