- Gênero: Drama
- Direção: Dainara Toffoli
- Roteiro: Elaine Teixeira, Dainara Toffoli
- Elenco: Monica Iozzi, Rafael Losso
- Duração: 97 minutos
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Em uma busca rápida no Google ou no combalido, já aposentado, dicionário, a palavra “maternar” não aparece. Apenas maternidade. Maternidade que é ‘qualidade de mãe. Mãe, a criatura santa, infalível, irrefreável, doce, recatada e do lar. Uma máquina de parir. Porque maternar é um dilema com todas as suas implicações. Atividade de trabalho, a segunda jornada das mulheres que são mães é também ato político e talvez por isso, a abrangência e a força dos múltiplos significados dessa palavra que ressoa certa autonomia e combate a romantização da maternidade, fique melhor escondida – afinal o status quo patriarcal é frágil. Assim como frágil, ainda que honesta, tende a ser a construção fílmica que deságua na forma do longa-metragem ficcional intitulado Mar de Dentro, em exibição da 44ª Mostra de SP.
Conjugar o inexistente verbo é uma arte difícil, exaustiva mesmo. Malu (Mônica Iozzi), a mulher branca, classe média alta, diretora de criação de uma agência, não tem tempo algum para pensar em mais alguém além de si mesma. Ela quer seguir sendo bem sucedida e independente, até que se apaixona. Mas aí ela se apaixona pelo fotógrafo e colega de trabalho, Beto (Rafael Losso) e tanta certeza vai por água abaixo. Camisinha pra quê né? Vai tudo dar certo, diz o pai de primeira viagem absolutamente sem a menor ideia do que significa gerar e criar uma criança. Inclusive, Malu luta pelo aquário próprio até o fim da história que vemos transcorrer na tela, mesmo contra a própria crença de que não seria possível cuidar de um microuniverso desses; o problema é que tudo parece tão banal após o plot twist meio óbvio, meio gratuito e inverossímil, que dá o tom de Mar de Dentro.
O filme de Dainara Toffoli (com roteiro co-escrito por ela e a produtora executiva Elaine Teixeira) tende a ser convencional em termos de mis-en-scène já que o enfoque está na capacidade dramática em especial da protagonista, Iozzi, mais dada aos papéis cômicos mas que mostra ser capaz de superar o desafio. Taciturna, radiografada pela câmera fria de Glauco Firpo, logo a atriz se despe e exprime autenticidade em momentos de incerteza quanto a manutenção da gravidez, da solidão, do desespero ao perceber que não está dando conta – cenas decupadas em planos mais fechados e close ups nas expressões dela, nas mudanças do corpo e na barriga. Nas olheiras, no sorriso trocado com o filho e no arfar durante “as pequenas mortes”.
Toffoli constrói lacunas, momentos contemplativos e melancólicos onde Iozzi pode expor seus dotes. Ainda que nem todas as sequências transpareçam naturalidade, ela mantém a verossimilhança sobre as dores e descobertas do maternar. Ainda assim, Mar de Dentro refuga na hora de construir um retrato mais caloroso, caótico, pulsante e afetuoso do turbilhão de sensações, da dolorida revolução em forma de maremoto emocional que é ser mãe.
Um grande momento
Dormindo com as ondas batendo