Crítica | Festival

Maria Callas

Vazio cafona

(Maria, ITA, ALE, CHL, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Pablo Larraín
  • Roteiro: Steven Knight
  • Elenco: Angelina Jolie, Alba Rohrwacher, Pierfrancesco Favino, Haluk Bilginer, Valeria Golino, Kodi Smit-McPhee, Caspar Phillipson
  • Duração: 124 minutos

Em 2016, o Pablo Larraín iniciava um novo projeto, uma trilogia onde contaria a história de mulheres de renome que, apesar de seu papel de destaque, tinham aberto mão de suas liberdades para viver à sombra de alguém. Depois de Jacqueline Kennedy e princesa Diana, chegou a vez de falar de Maria Callas. O longa imagina como teriam sido os últimos dias de vida da cantora de ópera que tentava voltar aos palcos depois de um longo afastamento. 

Maria Callas mantém o cafonismo adotado nas produções anteriores, e isso chega como estilo, algo que não deve ser tomado como negativo como a palavra pode determinar, pois as atitudes e os ambientes retratados são naturalmente cafonas. Esteticamente, o diretor chileno tem consciência do que quer imprimir,  trata da degeneração individual pelo deslumbre, aqui de uma paixão por um magnata, aquele que à época era o homem mais rico do mundo, Aristóteles Onassis.

A narrativa não linear mistura o passado a um presente solitário, onde a convivência se dá com figuras reais e imaginárias que alimentam o ego da cantora, entre elas, dois empregados que estiveram com Callas (Angelina Jolie) até o final, o mordomo Ferrucio (Pierfrancesco Favino) e a cozinheira Bruna (Alba Rohrwacher). A história de Callas vem se construindo aos poucos, em entrecortes e repetições, com simulações de registros do passado em outra bitola surgindo vez por outra para criar um ar de intimidade, sem muito sucesso.

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Não há nada que seja realmente inventivo em Maria Callas. Diferentemente de Jackie, com sua sobreposição narrativa, ou de Spencer, com seu mergulho no delírio, o que frustra quando se pensa em uma encerramento de projeto. Em especial, para aqueles que conhecem a história de Callas, de seu relacionamento com Onassis, e, dentro da proposta de Larraín, sabem onde isso poderia ter chegado.

Ainda que destacado de seus pares, o longa conta mais uma vez com uma atriz dedicada ao papel. Jolie faz o que pode com o material quase preguiçoso entregue por Larraín. A atriz consegue sobreviver à exposição desnecessária a que é submetida logo na abertura, na dublagem de “Ave Maria”, de “Othello”, composta por Verdi. Ela é a mais famosa cantora de ópera da história, La Divina, e está ali, várias vezes, em close, preto e branco, mostrando um descompasso não só de lip sync, mas de intensidade de interpretação. O momento é primordial para a conexão com o público e compromete não só o vínculo com a personagem, mas com a obra.

Para o bem do longa, por outro lado, há a força da música, que não pode ser ignorada e, com peças clássicas, aproxima o espectador do universo da protagonista. Algumas cenas se esforçam para emocionar e até têm algum sucesso na manipulação. Já outras são bem complicadas, como a última conversa com Onassis no hospital. No geral, Maria Callas é um filme frio, distanciado, e que não consegue alcançar o tamanho de sua biografada. Fato é que, dentro do projeto de Larraín, por sua história, poderia ter rendido mais e ter sido desfecho perfeito para a trilogia. Não chega nem perto disso.

Um grande momento
Nada tanto assim

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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