- Gênero: Drama
- Direção: Pablo Larraín
- Roteiro: Steven Knight
- Elenco: Angelina Jolie, Alba Rohrwacher, Pierfrancesco Favino, Haluk Bilginer, Valeria Golino, Kodi Smit-McPhee, Caspar Phillipson
- Duração: 124 minutos
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Em 2016, o Pablo Larraín iniciava um novo projeto, uma trilogia onde contaria a história de mulheres de renome que, apesar de seu papel de destaque, tinham aberto mão de suas liberdades para viver à sombra de alguém. Depois de Jacqueline Kennedy e princesa Diana, chegou a vez de falar de Maria Callas. O longa imagina como teriam sido os últimos dias de vida da cantora de ópera que tentava voltar aos palcos depois de um longo afastamento.
Maria Callas mantém o cafonismo adotado nas produções anteriores, e isso chega como estilo, algo que não deve ser tomado como negativo como a palavra pode determinar, pois as atitudes e os ambientes retratados são naturalmente cafonas. Esteticamente, o diretor chileno tem consciência do que quer imprimir, trata da degeneração individual pelo deslumbre, aqui de uma paixão por um magnata, aquele que à época era o homem mais rico do mundo, Aristóteles Onassis.
A narrativa não linear mistura o passado a um presente solitário, onde a convivência se dá com figuras reais e imaginárias que alimentam o ego da cantora, entre elas, dois empregados que estiveram com Callas (Angelina Jolie) até o final, o mordomo Ferrucio (Pierfrancesco Favino) e a cozinheira Bruna (Alba Rohrwacher). A história de Callas vem se construindo aos poucos, em entrecortes e repetições, com simulações de registros do passado em outra bitola surgindo vez por outra para criar um ar de intimidade, sem muito sucesso.
Não há nada que seja realmente inventivo em Maria Callas. Diferentemente de Jackie, com sua sobreposição narrativa, ou de Spencer, com seu mergulho no delírio, o que frustra quando se pensa em uma encerramento de projeto. Em especial, para aqueles que conhecem a história de Callas, de seu relacionamento com Onassis, e, dentro da proposta de Larraín, sabem onde isso poderia ter chegado.
Ainda que destacado de seus pares, o longa conta mais uma vez com uma atriz dedicada ao papel. Jolie faz o que pode com o material quase preguiçoso entregue por Larraín. A atriz consegue sobreviver à exposição desnecessária a que é submetida logo na abertura, na dublagem de “Ave Maria”, de “Othello”, composta por Verdi. Ela é a mais famosa cantora de ópera da história, La Divina, e está ali, várias vezes, em close, preto e branco, mostrando um descompasso não só de lip sync, mas de intensidade de interpretação. O momento é primordial para a conexão com o público e compromete não só o vínculo com a personagem, mas com a obra.
Para o bem do longa, por outro lado, há a força da música, que não pode ser ignorada e, com peças clássicas, aproxima o espectador do universo da protagonista. Algumas cenas se esforçam para emocionar e até têm algum sucesso na manipulação. Já outras são bem complicadas, como a última conversa com Onassis no hospital. No geral, Maria Callas é um filme frio, distanciado, e que não consegue alcançar o tamanho de sua biografada. Fato é que, dentro do projeto de Larraín, por sua história, poderia ter rendido mais e ter sido desfecho perfeito para a trilogia. Não chega nem perto disso.
Um grande momento
Nada tanto assim