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Medo de Chuva

Temporal de decepções

(Fear of Rain, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Castille Landon
  • Roteiro: Castille Landon
  • Elenco: Katherine Heigl, Harry Connick Jr., Madison Iseman, Israel Broussard, Eugenie Bondurant, Julia Vasi, Enuka Okuma, Hudson Rodgers, Lyla Restaino, Ashley Abrams, Jannette Sepwa, Bianca D'Ambrosio
  • Duração: 109 minutos

Costumamos chamar de “filme inchado” quando a produção acaba abarcando muito mais do que seria capaz de tratar, ou se perde na quantidade de elementos que dispõe para centralizar suas ações ou suas intenções. Bate a certeza disso em determinado momento de Medo de Chuva, produção da Prime Video que acaba de entrar em cartaz na plataforma. Não são necessariamente os acontecimentos que se amontoam no roteiro e acabam sendo descritos nos planos, mas as entrelinhas apresentadas têm um excesso desnecessário, o que mutila os resultados apresentados até percebermos que o filme que resulta daquilo era o possível, mediante tantas interrupções.

Ao nos depararmos com o nome de Castille Landon na direção e no roteiro, e saber que ela está envolvida com as adaptações de After para o cinema, os problemas aqui até arrefecem um pouco, mas não conseguem desaparecer. O olhar publicitário para sua estética, uma espécie de burocracia dentro da busca por uma identidade visual que remete a produtos destinados a adolescentes do passado, uma predileção por tons pastéis em cada quadro, sejam eles mais dramáticos ou mais tensos, unifica o projeto mas também tira sua vida. O lado ruim é perceber que, lá no miolo dessa apresentação, residia um bom filme prestes a ganhar vida.

Medo da Chuva
Divulgação

Há o prenúncio de uma certa sofisticação na montagem logo na abertura, quando o filme embaralha as camadas de realidade apresentadas para dar conta de Rain, a jovem protagonista que apresenta sinais de desequilíbrio emocional que podem apontar uma prematura esquizofrenia. Essa apresentação aponta um caminho promissor para o longa, que se adianta na ânsia de apresentar muitos núcleos psicológicos – a adolescência como porta de entrada de inúmeros males sociais, a introspecção que pode levar a um afastamento do convívio, a necessidade em ter voz em um mundo onde ninguém quer ouvi-la.

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Assim que seu universo é apresentado, no entanto, Medo da Chuva acalma seu ímpeto e começa a passear entre o drama psicológico e o suspense sub-hitchcockiano-teen, sem conseguir criar estofo nem para um lado nem para o outro, parecendo um pacote de conteúdo cada vez mais afogado em clichês. O filme consegue criar uma teia interessante de possibilidades de plot, mas a cada nova curva esse castelo se desfaz, e quem acompanhou o boom de thrillers de 20 anos atrás, crava muito rápido o resultado que tenta permanecer oculto por aqui, sem sucesso. Isso se deve mesmo a direção, que arruma os corpos e os objetos em cena de maneira explicativa.

Medo de Chuva
Divulgação

Em tese, ao meu ver não é um grande problema que se consiga descobrir as curvas de um filme antecipado a ele, mas a obra em questão precisa apresentar porções qualitativas provenientes de outros lugares, o que não é o caso aqui. Com uma capa equivocada que não proporciona espaçamento emocional ou imagético a história que está sendo contada, Medo da Chuva é um produto descartável de ligeira apreciação, que aparentava desejar um lugar superior, mas que rapidamente se contenta com o mínimo de inspiração para agradar um público pouco avesso a inovações de linguagem.

No elenco, interessam as presenças de Katherine Heigl e Harry Connick Jr., dois atores que não estão geralmente no topo das listas de agentes e roteiros, mas que demonstram aqui que mereciam oportunidades melhores e maiores para demonstrar suas capacidades. O jovem Israel Broussard, visto anteriormente em A Morte te dá Parabéns, reafirma um sopro de carisma muito bem vindo a um personagem cheio de risco, talvez o tipo mais atraente do roteiro. É nas costas de Madison Iseman (de Jumanji), no entanto, que reside o interesse do filme, e ela ajuda a manter nosso compromisso com uma produção com mais baixos que altos, mas que graças a sua união com Broussard, chega ao final, ainda que despedaçados.

Um grande momento
A abertura

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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