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Meu Irmão, Minha Irmã

Menos do que promete

(Mio fratello mia sorella, ITA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Roberto Capucci
  • Roteiro: Roberto Capucci
  • Elenco: Francesco Cavallo, Stella Egitto, Frank Gerrish, Ludovica Martino, Fausto Morciano, Caterina Murino, Claudia Pandolfi, Alessandro Preziosi
  • Duração: 110 minutos

Sorella
Fratello

Amor fraterno. Fraternal. E o que é afinal a fraternidade posta na prática? No dicionário, a definição de irmãos fala de indivíduos que possuem o mesmo par de país em relação as outras pessoas. Outra definição de irmão é de alguém que compartilha com os outros um sentimento, uma fé, uma espécie de sensibilidade, um destino; que seja por laços de sangue ou por encontros nos caminhos da vida, é um companheiro.

Quem partilha a vida boa e também os seus infortúnios. Seja numa amizade ou numa família, a ligação entre irmãos, se envolvida num afeto e admiração intermináveis, supera os conflitos. Meu irmão é meu maior confidente, conselheiro e torcedor. Tesla e Nikola eram o mundo um do outro. Com apenas dois anos de diferença, os filhos do astrofísico Giancarlo eram unha e carne na infância e assim se seguiu até a juventude quando um evento dramático os separou. Essa é a premissa que move boa parte da trama de Meu Irmão, Minha Irmã. A produção italiana original da Netflix, dirigida por Roberto Capucci a partir do roteiro dele e de Paola Mammini, tem tudo para ficar no top 10 – mesmo que seja imperfeita na progressão da narrativa e abordagem dos personagens.

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Meu Irmão, Minha Irmã
Foto: Divulgação

O filme começa no velório do pai, com a chegada de Nik e a forma como a mágoa e o rancor borbulham dentro de Tesla. Ela cuidou do pai na ausência do irmão, que se prolongou por mais de 20 anos. Semelhante ao personagem de Sam Rockwell em O Verão da Minha Vida, Nik é um adulto já na meia idade mas que vive, se veste, anda, pensa e fala como um garotão. E o ar inconsequente, indolente, logo faz uma vítima no caçula da irmã, Sebastian.

É o encontro com o amigo/tio e mentor, que faz Sebastian querer se jogar e viver com mais intensidade mesmo que a mãe pense que ele não está pronto ou não pode pelo fato de ser esquizofrênico. As interações mais interessantes de Meu Irmão, Minha Irmã, acontecem nos respiros e não nas cenas que deveriam ser assumidamente marcantes, que acabam esbarrando num excesso de dramaticidade quase que teatral. A história do reencontro familiar é contada de maneira Linear A partir da notícia dada pelo testamenteiro de que Tesla e Nik terão que morar sobre o mesmo teto por um ano para dividir a herança.

Traumatizado por uma ex, Nik tenta se desvencilhar dar dores do passado com relações casuais que exasperam Tesla – uma das mulheres que dormem com ela pega o roupão dela sem pedir -, que vive para os filhos, Seba e a estudante de moda Carolina.

Meu Irmão, Minha Irmã
Foto: Divulgação

“A vida flui como música alimentada pela família e o amor”

Sem sutileza, a previsibilidade toma conta de Meu Irmão, Minha Irmã quando Tesla começa a amolecer e admitir que sentiu a falta do irmão com quem se abria e Nik por tabela, vai passando a ser mais responsável. A interação do tio com a sobrinha parece meio forçada e ensaiada demais, além do provável triângulo amoroso envolvendo ele com Emma, a bela professora de música e o sobrinho. Alguns momentos bonitos surgem ainda assim, como quando Nik percebe que o sobrinho quando toca violoncelo se acalma e começa a acompanhar no piano ou quando o leva para andar de Kitesurfe (o que leva a um pequeno surto). A epifania que é a cena no hospital, já após o clímax do filme evoca um pouco de Nani Moretti e Ettore Scola. Pena que Meu Irmão, Minha Irmã, talvez por uma necessidade quase obsessiva em emocionar se esqueça de dar mais camadas as personalidades de Tesla e de Nik bem como dos filhos, para além dos estereótipos de uma pessoa com uma doença psicológica ou uma jovem emancipada, por exemplo. Inclusive Sebastian, que tem um escape outro estimulado pelo avô que é a astronomia (quer ir pra Marte com amigo imaginário), vive olhando as estrelas no céu e investigando no Google mas essas cenas são jogadas e ficam meio sem um propósito dentro da estrutura do enredo.

O próprio arco dramático de Meu Irmão, Minha Irmã careceu de um trabalho mais cuidadoso já que a grande revelação da história — e o motivo pelo qual Nikola foi embora para nunca mais voltar — surge sem força, já atravessado por pistas que são dadas e que inclusive enfraquecem o elo que vai se reconstituindo entre ele e a irmã, deixando o o momento da aceitação por ambas as partes esvaziado da catarse desejada pelos roteiristas. Traídos, os irmãos se perdoam e jogam cinzas nas águas do passado. Bonito, só que podia ser memorável.

Um grande momento
Sinfonia na madrugada

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Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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